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Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Nem tudo que reluz é ouro

Nem tudo que reluz é ouro
Os impactos da mineração sobre os direitos humanos

Por Pe. Dário Bossi e Danilo Chammas[1]


No estado de Minas Gerais (Brasil) existe uma pequena comunidade, Córrego do Feijão, recentemente ameaçada por uma nova mineradora que quer se instalar em seu território: a “Green Metals”.
A vida cotidiana, em sua maior simplicidade (o feijão, raiz e cultura de nosso povo) é ameaçada pelo desconhecido, estrangeiro e incompreensível, chegando sem permissão nem consulta, muitas vezes presta-nome de grandes corporações como a Vale S.A., que domina a região toda. Um micro exemplo do que está acontecendo no inteiro continente latinoamericano e no resto do mundo.

A América Latina é a maior fonte de minerais metálicos no mundo. Os mais cobiçados são ouro e prata. Para sua extração, cerca de 90% das minas são a céu aberto e contaminam águas superficiais e subterrâneas, bem como solo e ar. O caso do ouro é o mais paradoxal: somente 10% do extraído é utilizado em tecnologia, 40% em joalheria e 50% serve como investimento. “Sai do subsolo de territórios e ecossistemas vivos para acabar no subsolo de territórios financeiros: os bancos. O capitalismo tem sede de acumulação”[2].

A obsessão por minério no mundo é crescente. Isso se deve sobretudo ao crescimento de uma nova classe média mundial, localizada principalmente na Asia e “inspirada” pelos modelos de consumo dos países industrializados. A previsão é que em 20 anos os BRIICS sozinhos (Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do Sul) dobrarão seu consumo total de minérios metálicos (de 2,2 bilhões de toneladas em 2002 até 4,4 previstos em 2020). Se esse for o ritmo de extração, as reservas mundiais de minério de ferro serão exauridas em 41 anos, de alumínio em 48 anos, de cobre e zinco respectivamente em 18 e 16 anos.

O mecanismo é perverso, pois o crescimento da demanda global, a redução das melhores reservas minerais e a possibilidade de escassez de alguns minérios a médio prazo estão aumentando os preços em nível mundial. Isso provocará, provavelmente, uma rápida expansão das minas existentes e a intensificação da prospecção de novas jazidas.

Depois da colonização e do saque de minérios e outros bens comuns para enriquecer os cofres das metrópoles, novamente o continente acolhe o modelo primário-exportador como solução imediata para a geração de renda líquida fácil. A realidade se faz perversa mesmo nos países em que o pretexto para a intensificação da extração de minérios ou hidrocarburos seja o investimento pelo Estado em programas sociais de combate à pobreza.
O modelo econômico extrativista está baseado em profundas injustiças ambientais: “sociedades desiguais do ponto de vista econômico e social destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento às populações de baixa renda, aos grupos raciais discriminados, aos povos étnicos tradicionais, aos bairros operários, às populações marginalizadas e vulneráveis”[3].
Conforme a teoria do “ecologismo dos pobres”, a maior parte dos conflitos sociais de hoje em América Latina se deve a ameaças e impactos ecológicos: os pobres tentam manter o controle dos recursos ambientais de que precisam para viver, frente à ameaça de que esses passem a ser propriedade do Estado ou propriedade privada capitalista[4].

1.     As violações

A mineração não gera somente impactos pontuais nos territórios ao redor das minas. Na maior parte dos casos, trata-se de um modelo econômico com fortes influências sobre as decisões políticas dos Estados, portanto incide sobre equilíbrios e destinos de inteiras sociedades. Além disso, todo grande projeto de mineração necessita de uma maciça infraestrutura de suporte, seja para a geração e fornecimento de energia[5], para a acumulação de água de lavagem ou transporte do minério por minerodutos ou para seu escoamento através de estradas, ferrovias e portos.
No Brasil, por exemplo, o trem mais longo do mundo tem 330 vagões serpenteando ao longo de 900 Km de ferrovia em concessão à companhia Vale para exportar o minério de ferro amazônico de Carajás até China, Japão e Europa. Uma ferrovia do mesmo tamanho está sendo construída entre Moçambique e Malawi, pela mesma empresa, para escoamento de carvão mineral.
No Peru, o tão contestado gasoduto de Camisea se destina principalmente a alimentar os grandes projetos mineiros do sul do país. Mão na mão com o famigerado projeto da mina Conga, que mobilizou milhares de pessoas em contundentes manifestações (“Conga no va!”), caminha o projeto da hidrelétrica de Chadin, da empreiteira brasileira Odebrecht, com uma enorme barragem que vai prejudicar a vazão do rio Marañon, um dos maiores afluentes do Amazonas.
São muitas e diferentes as pessoas e comunidades que se consideram atingidas por mineração! Não conseguimos detalhar todo tipo de impacto, escolhemos os principais, que trataremos muito sinteticamente, oferecendo alguma referência como exemplo para pesquisa.

1.1 Impactos ambientais

Os impactos mais evidentes da mineração são ambientais: desmatamento (Carajás, Brasil), pilhas de dejetos (o lago Sandy Pond no Canadá desaparecerá por causa do material estéril que a mineração vai descartar dentro dele), poluição gerada por indústrias da cadeia de mineração (casos de La Oroya em Peru e de Piquiá de Baixo ou de Santa Cruz no Brasil).
A extração de ouro é particularmente impactante: no caso do projeto mineiro Pascua Lama (Chile-Argentina), para obter um grama de ouro seria necessário remover 4 toneladas de rocha, consumir 380 litros de água, 1 kg de explosivo e quase a mesma quantidade de cianuro. A energia necessária para separar 1g de ouro seria a correspondente ao consumo semanal de uma família argentina média.
O fenômeno da drenagem ácida, devida à presença de pirita que degenera em ácido sulfúrico, afeta o lençol freático dos territórios onde há mineração. As consequências perduram por milhares de anos e são particularmente graves quando as minas estão postas nas cabeceiras de bacias, sendo assim contaminadas todas as águas da bacia.
Outro impacto se deve ao alto consumo de água: no Chile, por exemplo, as grandes mineradoras chegam a consumir 13 metros cúbicos de água por segundo, correspondente ao consumo médio de água por ano de mais de 6 milhões de pessoas!

1.2 Deslocamentos forçados

Para deixar espaço aos projetos de mineração e a toda a infraestrutura a eles conectada, em muitos casos se faz necessário expulsar famílias ou inteiras comunidades de seus territórios.
Comunidades rurais e urbanas são despejadas e reassentadas em condições e contextos em vários casos piores daqueles onde viviam: há o exemplo dos reassentamentos de Cateme e 25 de Setembro em Moçambique (para deixar espaço a minas de carvão), El Hatillo, Plan Bonito e Boquerón (Colômbia, também por projetos de carvão) e Piquiá de Baixo (Brasil, caso raro em que é a própria comunidade a pedir reassentamento pelo desespero das condições de poluição a que está condenada).
Apesar da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho recomendar que as comunidades indígenas e tradicionais devem ser consultadas sobre seu consentimento antes da instalação de qualquer tipo de atividade produtiva em seus territórios, o processo de consulta prévia é inexistente ou extremamente precário e propositalmente ineficaz na maioria dos países da região[6].
As comunidades indígenas são prejudicadas pelos projetos de mineração e sua infraestrutura, que provocam desmatamento, fuga dos animais de caça, perda de controle dos territórios e redução de seu tamanho. É o caso, por exemplo, do povo Shuar no Equador ou Awá-Guajá no Brasil.

1.3 Negação do futuro dos territórios e violência contra a juventude

A mineração instala verdadeiras economias de enclave nos territórios onde pretende atuar.
Significa que a maior parte das iniciativas se volta para a mineração, a qual se constitui como perspectiva econômica quase exclusiva. Isso garante os interesses de algumas minorias influentes em nível econômico e político, nacional e internacional, mas muito raramente permite às pessoas e comunidades daqueles territórios se planejarem, diversificarem seus investimentos, qualificarem-se para atividades alternativas, como a agricultura familiar, a micro empresa em outros campos produtivos etc.
As políticas de desenvolvimento regional são definidas acima da possibilidade de participação de quem habita os territórios, favorecem incentivos fiscais e financiamentos aos empreendimentos ligados à mineração e boicotam outras visões e perspectivas.
Essa falta de alternativas joga a favor das mineradoras, gerando mão de obra barata que depende cada vez mais delas e se centraliza, geográfica e economicamente, em volta das minas ou suas infraestruturas, vinculando-se permanentemente a elas.
Essas migrações desmedidas rumo a modernos “Eldorados” em contextos de miséria e omissão do Estado geram a impressão de um falso desenvolvimento. Trata-se, ao contrário, de um crescimento descontrolado que provoca caos e violência.
Marabá e Parauapebas, por exemplo, são cidades do Estado do Pará (Brasil) mais próximas à maior mina de ferro do mundo, Carajás. Estão também entre as cidades mais violentas do Brasil: a probabilidade de um jovem ser morto nessas cidades, vítima de disparos de arma de fogo ou por facadas, é 25% maior do que no Iraque, país com uma das mais altas taxas de morte por conflito armado.

1.4 Criminalização dos atores sociais

Quem critica os grandes empreendimentos mineiros é exposto à perseguição judiciária, ameaças, calúnias, espionagem, assassinato. O banco de dados sobre conflitos mineiros em América Latina[7] apresenta com detalhes 198 casos de conflitos ainda abertos no continente, afetando 297 comunidades.
O ataque aos movimentos sociais e às comunidades é escancarado e público. Em 2010, o então presidente do Peru Alan García qualificou os ambientalistas e defensores dos direitos dos indígenas como inimigos do desenvolvimento, afirmando que estes padeciam da síndrome do “perro de hortelano”. Entre os governos ditos progressistas, passa algo similar. O presidente do Equador Rafael Correa, em 2007, disse: “Acabou o anarquismo. Todos os que se opõem ao progresso do País são terroristas. Todos os que farão manifestações com bloqueios nas estradas serão sancionados com todo o rigor da lei. Não são as comunidades que protestam, mas um pequeno grupo de terroristas, os ambientalistas românticos e os ecologistas infantis são aqueles que querem desestabilizar o governo”.
Em muitos casos, se põe estrategicamente um falso dilema entre o interesse coletivo e a defesa dos direitos humanos e da natureza.
Recentemente, militantes de movimentos sociais que no Brasil se opõem a grandes projetos de mineração foram espionados e agentes secretos das forças públicas e privadas de segurança infiltraram-se nas coordenações desses movimentos.
Da espionagem à perseguição e à violência física o passo é curto. Lembremos aqui somente alguns dos massacres mais graves, como o de Bágua (Peru, 2009, com dezenas de indígenas desaparecidos e 28 policiais assassinados), da ponte rodoferroviária de Marabá (Brasil, 1987, com a morte de vários garimpeiros) e de Eldorado dos Carajás (Brasil, 1996, realizado pela Polícia Militar Brasileira e aparentemente apoiado pela mineradora Vale S.A., com a morte de 21 trabalhadores rurais sem terra).

1.5 Violência contra a mulher

Raramente se percebe o tamanho do impacto dos empreendimentos mineiros contra as mulheres. A mineração em grande escala é uma violência também de gênero.
Os impactos descritos anteriormente recaem em grande parte prioritariamente e de maneira mais intensa sobre a vida das mulheres. Em muitos casos, elas sofreram o assassinato ou afastamento de seus maridos e são ameaçadas, em seguida, para que vendam suas terras às empresas mineiras.
Intensificou-se a agressão física e o aumento da exploração sexual nas áreas de mineração ou de instalação de grandes projetos.
O despojo das terras de famílias ou inteiras comunidades é uma violência sobretudo contra a mulher, que em muitos casos é a responsável pela saúde e a segurança alimentar da casa. Os grandes projetos tendem (em muitos casos propositalmente) a desmanchar o tecido social das comunidades; perde-se um entorno de proteção e segurança, bem como a possibilidade de participação. Também nesse caso, as principais vítimas são as mulheres.


2.     As resistências

Não podemos falar só de conflitos, existe também vitalidade, criatividade e firmeza na resistência e nas alternativas propostas pelas comunidades.
Os mais importantes referentes no âmbito da resistência em nível regional são o Observatorio de Conflictos Mineros em America Latina (OCMAL), o Movimiento Mesoamericano contra el Modelo extractivo Minero (M4), a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, a recém criada rede de religiosas/os e leigas/os em luta contra a mineração no continente.
Não há espaço para aprofundar, queremos somente citar três eixos de ação que se complementam.

- Não à mineração: protestos contra grandes projetos, ainda não instalados, de mineração e infraestruturas; bloqueios, manifestações, ações judiciais para ver reconhecida a ilegalidade dos empreendimentos, lutas por leis que proíbam a mineração contaminante ou descontrolada, campanhas internacionais (por ex: “El água vale más que el oro”, que recebeu também o apoio de Papa Francisco);
- Garantia de direitos (onde já há instalações consolidadas): apelo às instituições para a defesa dos direitos coletivos, luta por mitigação e pela reparação integral dos direitos violados, tentativas de retardar a expansão dos projetos e conjugar a mineração com outras atividades socioeconômicas e seus ritmos;
- Pós-extrativismo: debate e ações de longo prazo para promover um novo modelo de vida e uma nova economia nas regiões e nos países mineradores.

A questão, em todos esses espaços de resistência, não é se somos contra ou a favor da mineração.
É que um dia bem próximo deveremos saber viver sem mineração, porque os recursos estarão esgotados. O que fazer, então? Esperar até aquele dia para resolver o problema, ou transformarmos rápida e radicalmente o modelo extrativista de nosso continente?


Midas, rei da Frígida, quis que o mundo fosse de ouro graças à magia de sua mão.
Ele precisava transformar em ouro tudo o que tocasse, e pediu ao deus Dionísio que lhe concedesse esse poder. E Dionísio, que acreditava no vinho e não no ouro, concedeu.
Então Midas arrancou um galho de fresno e o galho se transformou numa vara de ouro.
Tocou um tijolo e virou lingote. Lavou suas mãos e uma chuva de ouro brotou da fonte.
E quando sentou-se para comer, o manjar arrebentou seus dentes e nenhuma bebida conseguiu passar pela sua garganta.
E abraçou sua filha e era estátua de ouro.
Midas ia morrer de fome, sede e solidão.

(Eduardo Galeano, 2008)
 
 




[1] www.justicanostrilhos.org ; uma versão resumida desse artigo foi publicada pela Agenda Latinoamericana 2015.
[2] Sursiendo, "Repensar el uso de metales frente al modelo extractivista", em www.conflictosmineros.org
[3] Acselrad H. et al., “O que é injustiça ambiental”, Garamond 2008
[4] Navarro L.H., “Siembra de concreto, cosecha de ira”,
[5] A indústria de beneficiamento dos minerais metálicos consome mediamente mais energia que todas as residências do mesmo país - no Brasil a proporção é 27 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo) vs 23 milhões.
[6] O mencionado direito de consulta prévia, também chamado de consentimento livre, prévio e informado (CLPI), tem sido reconhecido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.  No âmbito nacional,  tem sido freqüentemente aplicado pela Corte Constitucional da Colômbia e a Corte Suprema da Bolívia.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

“Os trabalhadores nas minas vivem situação análoga à escravidão”

  • Estados do Brasil: 
Vale
Para Anízio Teixeira, que articula a primeira oposição sindical nos últimos 20 anos no Sindicato Metabase Carajás, no Pará, complexo Carajás, as jornadas de trabalho se transformam em média de 12 a 14 horas dia
05/11/2014
Jorge Neri e Gleerlei Andrade
de Parauapebas (PA)
“Nos últimos 14 anos, em que se man­tém no poder a mesma direção, os bené­ficos e direitos anteriores foram fragmen­tados. Muitos direitos foram vendidos”. Essa é a visão de Anízio Teixeira, que ar­ticula a primeira oposição sindical nos últimos 20 anos no Sindicato Metaba­se Carajás, no Pará, maior sindicato mi­neiro do país. Segundo ele, muitos acor­dos foram lesivos aos trabalhadores, uma afronta a CLT e a dignidade humana.
Nesta entrevista ao Brasil de Fato, Anízio Teixeira fala sobre os graves pro­blemas enfrentados pelos trabalhadores na região e sobre os desafios enfrentados pelos operários que se atreveram a fa­zer oposição ao sindicato. “Vivemos uma ditadura no sindicato. Nos últimos 10 anos, quem se atreveu a organizar qual­quer movimento de oposição foi demiti­do sumariamente”, afirma. Segundo ele, a expressão “oposição sindical” é tida co­mo uma afronta às políticas da Vale.
O Metabase Carajás é o maior sindi­cato mineiro do país. Com aproximada­mente 11.500 operários em sua base, dos quais aproximadamente 4 mil filiados, o Metabase vive um momento decisivo de sua história. Segundo Anízio Teixeira, ou o sindicato mantém-se sob os tacões de um pelego implacável que denun­cia e persegue trabalhadores, ou aposta na mudança do que alguns chamam dos ventos “da Primavera de Carajás” que se movimentam de dentro para fora das mi­nas, representada pela Chapa 2.
Brasil de Fato – Qual é a situação dos trabalhadores nas minas na Região de Carajás hoje?
Anízio Teixeira – Nos últimos dez anos, temos vivido uma condição de de­cadência. Os ganhos reais não são “reais” e a cada dia os direitos básicos dos tra­balhadores estão sendo reduzidos, co­mo por exemplo as jornadas de trabalho de 44 horas semanais. No caso do com­plexo Carajás, as jornadas de trabalho se transformam em média de 12 a 14 horas dia. Um trabalhador sai para o trabalho às 3h30min da manhã e só retorna às 18 horas para o seu lar, quando realmente encerra sua jornada. O ganho com horas intineres/dia não passa de uma hora, em média, como compensação. Logo, é uma situação análoga à escravidão de acordo com entendimento da própria Organiza­ção Internacional do Trabalho (OIT).
Qual tem sido o papel do sindicato Metabase na região de Carajás em relação a esta situação?
A história de nosso sindicato tem 27 anos, de muitas lutas e conquistas. Mas nos últimos 14 anos em que se mantém no poder a mesma direção, os benéficos e direitos anteriores foram fragmentados. Muitos direitos foram vendidos. Acor­dos que foram lesivos aos trabalhadores, uma afronta à CLT e à dignidade huma­na. Exemplo disso são as horasintine­res que antes existia como valores maio­res, que foram reduzidas e retomadas em 2008 após uma Ação Civil Pública mo­vida pelo Ministério Público do Traba­lho, que só começou a ser paga em 2010. Pra ter uma ideia, o direito dos trabalha­dores nesta ação garantia pagamento de 96 meses retroativos das horas intneires, e o sindicato negociou para limitar-se a 42 meses. Um perca irreversível e vergo­nhosa para os trabalhadores.
O Brasil vive um ciclo de crescimento e expansão de exploração mineral que tem trazido grandes impactos para a Amazônia, o que isso tem a ver com a luta sindical?
Antes de implantar qualquer proje­to, seria de bom senso que as empresas minerárias chamassem as entidades de classes e as organizações da sociedade ci­vil para a elaboração de um planejamen­to que implicasse na preparação e capa­citação da mão de obra da região, pois se é verdade que pode haver impactos posi­tivos na economia é preciso medir esses impactos na sociedade em seu entorno, no meio ambiente, que no geral são ne­gativos. Então o sindicato deve estar pre­ocupado com a saúde, lazer, segurança, habitação, transporte e demais direitos sociais que dizem respeito à dignidade humana. Porque o trabalhador não mora nas minas, mora na comunidade.
Como está atualmente o processo eleitoral para a direção do Metabase?
Depois de a Comissão Eleitoral (indi­cada pela atual direção) ter rejeitada a chapa de oposição, entramos na Justi­ça, que, através de uma Ação Cautelar, garantiu o direito da Chapa 2 concorrer às eleições. Desta feita, a atual direção marcaria a data das novas eleições, o que até o presente momento não aconteceu. Diante dessa situação, a categoria, ansio­sa para participar do processo, tem pro­posto assembleias para a deliberar sobre a data das eleições, o que deve acontecer nos próximos dias.
Por que é tão difícil construí um movimento de oposição no Metabase?
Vivemos uma ditadura no sindicato. Nos últimos 10 anos, quem se atreveu a organizar qualquer movimento de opo­sição foi demitido sumariamente. A ex­pressão “oposição sindical” é tida como uma afronta às políticas da Vale. Foi o que tentaram fazer comigo e com outros companheiros da Chapa 2. Alguns foram coagidos a inclusive pedir a retirada de seus nomes da chapa.
Considerando a grande influência que a Vale tem sobre os sindicatos, é possível uma chapa feita pelos trabalhadores ganhar uma eleição como essa?
Acreditamos que sim. Porque os tra­balhadores estão dispostos a participar como fiscais do processo. 80% da cate­goria nunca votou para eleger uma dire­toria de seu sindicato. A categoria sabe­rá definir seu lado. A hora é agora. A ca­tegoria quer mudança, quer renovação. Então é Chapa 2.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O marxismo weberiano: uma das múltiplas expressões no campo intelectual brasileiro. Entrevista especial com Michael Löwy

Por , 03/10/2014 15:12
Michael-Löwy“O sistema econômico moderno aparece assim como uma espécie de prisão, uma servidão a qual ninguém consegue escapar”, assevera o sociólogo.
IHU – A expressão alemã stahlhartes Gehäuse, traduzida como“habitáculo duro como o aço” ou “jaula de aço”, foi utilizada por Max Weber, sociólogo alemão, para determinar “o caráter liberticida do capitalismo, que impõe de forma coercitiva suas leis e sua dinâmica a todos os indivíduos das sociedades industriais”, e é um dos temas centrais apresentado porMichael Löwy em seu novo livro, intitulado A jaula de aço (São Paulo: Boitempo, 2014).
Na obra, lançada nesta semana no Brasil, o sociólogo brasileiro radicado na França estabelece uma aproximação entre o pensamento de Max Weber e Karl Marx acerca do capitalismo. “Os dois percebem que no capitalismo existe uma inversão perversa entre fins e meios. A acumulação de dinheiro e de capital não é um meio para satisfazer necessidades sociais ou para a felicidade dos indivíduos, mas um fim em si”, pontua. De acordo com Löwy, “o diagnóstico de ambos tem vários pontos em comum, a grande diferença é que Weber é um fatalista resignado — ‘o capitalismo é nosso destino’ —, enquanto Marx aposta numa alternativa emancipadora ao capitalismo”.
Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, Michael Löwy comenta a influência do pensamento marxista weberiano na formação dos intelectuais brasileiros, especialmente por conta do desenvolvimento do “catolicismo de esquerda” na América Latina, e assegura que “o Brasil é talvez o país do mundo onde as ideias marxistas, na sua pluralidade e diversidade conflitiva, têm tido o maior desenvolvimento no campo da filosofia e das ciências sociais (sociologia, ciência política, história, etc.). Esta presença deMarx e dos marxistas se manifesta não só nas universidades, mas de forma mais ampla em partidos de esquerda, sindicatos combativos, movimentos sociais urbanos ou rurais, comunidades de base cristãs, etc.”.
Löwy é Cientista Social e leciona na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da Universidade de Paris. Entre sua vasta obra, destacamos Ideologias e Ciência Social. Elementos para uma análise marxista (São Paulo: Cortez, 1985), As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen (São Paulo: Cortez, 1998), A estrela da manhã. Surrealismo e marxismo (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002), Walter Benjamin: Aviso de Incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história” (São Paulo: Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann, ou a dialética da totalidade (São Paulo: Boitempo, 2005). Confira a entrevista.
IHU On-Line – Por que associa o capitalismo à figura “jaula de aço”?
Michael Löwy – Weber usa a expressão stahlhartes Gehäuse,“habitáculo duro como o aço” (geralmente traduzida por “jaula de aço”) para caracterizar o caráter liberticida do capitalismo, que impõe de forma coercitiva suas leis e sua dinâmica a todos os indivíduos das sociedades industriais. O sistema econômico moderno aparece assim como uma espécie de prisão, uma servidão a qual ninguém consegue escapar.
IHU On-Line – Como o senhor entende o conceito de afinidade eletiva para explicar a relação entre a ética protestante e o espírito do capitalismo?
Michael Löwy - Weber usa este conceito, Wahlverwandtschaft — que tem sua origem na alquimia, antes de ser reformulado por Goethe, em sua novela As afinidades eletivas —, para designar uma relação de causalidade mútua, reforço recíproco ou mesmo osmose, entre uma ética religiosa, o protestantismo ascético, e o espírito do capitalismo. Quanto mais o indivíduo, no século 18-19, era um calvinista fervoroso, mais chances teria de se tornar um capitalista, e vice-versa. É um dos aspectos metodológicos mais importantes da sociologia de Weber.
IHU On-Line – Por quais razões entende que Weber não se referiu a uma ética católica e tampouco seus estudos tratam do catolicismo em alguma dimensão, tendo em vista que o catolicismo é uma das bases fundamentais da racionalidade ocidental?
Michael Löwy - Boa pergunta! Não estou seguro de ter a reposta. É realmente paradoxal que Weber, que dedicou estudos aprofundados ao confucionismo e ao hinduísmo, praticamente ignorou uma das principais religiões da Alemanha. Seria a tradicional hostilidade da cultura protestante ao catolicismo? Ou talvez a dificuldade de encaixar o catolicismo em seu esquema sobre as origens ocidentais da racionalidade moderna? É um tema para pesquisas futuras.
IHU On-Line – Quais são suas evidências de que Weber sugere, de algum modo, que a Igreja católica oferece um ambiente muito menos favorável ao desenvolvimento do capitalismo?
Michael Löwy – Weber o afirma, de forma explícita, tanto na Ética protestante e o espírito do capitalismo como em vários outros escritos. Não existe texto desenvolvendo esta temática, mas fragmentos dispersos em sua obra. Ele sugere várias pistas para explicar a “viva antipatia” da ética católica pelo capitalismo. Uma das mais interessantes é o caráter totalmente impessoal do capitalismo que não permite a intervenção moral da Igreja no curso do processo econômico e social.
IHU On-Line – O que é o catolicismo de esquerda na América Latina, qual sua influência na política e como ele tem se desenvolvido?
Michael Löwy - O catolicismo de esquerda surge como força político-religiosa importante na América Latina a partir dos anos 1960, sendo sua primeira manifestação a Juventude Universitária Católica – JUCbrasileira. Mais tarde vai aparecer a teologia da libertação, e toda uma dinâmica sociorreligiosa, que se poderia designar como cristianismo da libertação, incluindo CEBS, pastorais populares, etc. Sua influência política foi enorme, contribuindo de forma decisiva para a Revolução sandinista na Nicarágua, a formação do PT e do MST no Brasil, o surgimento do Zapatismo no México, etc.
IHU On-Line – Alguns intelectuais têm tratado o capitalismo na contemporaneidade como sendo a nova religião. O que o senhor entende por capitalismo como religião?
Michael Löwy – Walter Benjamin escreveu em 1921 um fragmento intitulado “O capitalismo como religião”; se trataria de uma religião cujas divindades — como o dinheiro — são objeto de um culto fervoroso, que torna todos os indivíduos endividados e culpados, levando o planeta Humanidade à “Casa do Desespero”. Na América Latina, teólogos da libertação, como Hugo Assmann e Jung Mó Sung, têm analisado o capitalismo como “idolatria do mercado” e religião mortífera exigindo sacrifícios humanos. Parece-me muito sugestiva esta reflexão.
IHU On-Line – Que aproximações evidencia no pensamento de Max Weber e Karl Marx em relação ao capitalismo?
Michael Löwy - Os dois percebem que no capitalismo existe uma inversão perversa entre fins e meios. A acumulação de dinheiro e de capital não é um meio para satisfazer necessidades sociais ou para a felicidade dos indivíduos, mas um fim em si. Os dois também observam que no capitalismo os indivíduos são dominados por abstrações reificadas. O diagnóstico de ambos tem vários pontos em comum, a grande diferença é que Weber é um fatalista resignado — “o capitalismo é nosso destino” —, enquanto Marx aposta numa alternativa emancipadora ao capitalismo.
IHU On-Line – Em que consiste o marxismo weberiano? Ele se aplica ao Brasil?
Michael Löwy - Marxistas weberianos são os pensadores que, partindo de uma análise marxista e de um compromisso político socialista, buscam integrar em sua reflexão conceitos e argumentos de Max Weber. É o caso de Geórg Lukács, da Escola de Frankfurt, de Merleau-Ponty e alguns outros. O termo foi cunhado por Maurice Merleau-Ponty, em seu livro Les aventures de la dialectique (1955).
IHU On-Line – Qual é a influência do pensamento de Max Weber no desenvolvimento de intelectuais marxistas brasileiros?
Michael Löwy - Existe uma ampla difusão das ideias de Weber no Brasil. Há vários cientistas sociais brasileiros que se interessaram por Marx e Weber: Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, etc. Mas os dois mais próximos do marxismo weberiano, tendo dedicado uma obra importante ao estudo de Weber, são Maurício Tragtenberg e Gabriel Cohn.
IHU On-Line – O senhor associa Merleau-Ponty ao marxismo weberiano. Qual é a aproximação de Ponty com o marxismo weberiano?
Michael Löwy - Na obra de 1955 que mencionamos, Merleau-Ponty se identifica com o marxismo weberiano, mas o único exemplo que ele dá é Geórg Lukács. Graças a Weber, argumenta M-Ponty, o marxismo pode se libertar do peso da visão determinista da história. Mas em seus escritos posteriores desaparece esta definição.
IHU On-Line – Em que sentido o pensamento de Habermas representa uma desassociação ao marxismo weberiano?
Michael Löwy - Habermas vai se formar no marxismo weberiano da Escola de Frankfurt, mas pouco a pouco seus escritos vão se afastar desta matriz. Desenvolvendo uma crítica radical tanto de Marx como de Weber, Habermas rompe com esta problemática para desenvolver uma visão liberal da racionalidade comunicativa como solução dos conflitos sociais.
IHU On-Line – Qual a influência fundamental do marxismo weberiano nas Ciências Humanas?
Michael Löwy - Os pensadores desta sensibilidade vão estar entre os críticos mais radicais da civilização capitalista, no campo da filosofia e das ciências humanas. Conceitos como retificação (Lukács) ou racionalidade instrumental (os Frankfurtianos) são exemplos desta negatividade crítica.
IHU On-Line – O pensamento marxista e, posteriormente, o pensamento marxista weberiano, têm tido espaço nas universidades do Brasil e do mundo? Qual? Nesse sentido, como o senhor vê o desenvolvimento e a influência do pensamento de Marx especialmente nos cursos de Ciências Sociais no Brasil?
Michael Löwy - O Brasil é talvez o país do mundo onde as ideias marxistas, na sua pluralidade e diversidade conflitiva, têm tido o maior desenvolvimento no campo da filosofia e das ciências sociais (sociologia, ciência política, história, etc). Esta presença de Marx e dos marxistas se manifesta não só nas universidades, mas de forma mais ampla em partidos de esquerda, sindicatos combativos, movimentos sociais urbanos ou rurais, comunidades de base cristãs, etc. Como o ilustram os exemplos acima mencionados, o marxismo weberiano é uma das múltiplas expressões destas ideias no campo intelectual brasileiro.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Aspectos judiciais dos impactos causados pela Vale S.A. aos quilombolas do Maranhão


Por , 02/10/2014 16:32
Foto: Irmã Eulália Lima
Foto: Irmã Eulália Lima
A mineradora Vale S.A. e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) são réus em pelo menos três ações na Justiça Federal do Maranhão por violações aos direitos dos quilombolas que vivem às margens da Estrada de Ferro Carajás. Além disso, a Vale vem intervindo nos processos administrativos de titulação das terras e tem estimulado investigações criminais e processos judiciais contra lideranças.
Em uma Ação Civil Pública iniciada pelo Ministério Público Federal (MPF) e que conta com a assistência da Defensoria Pública da União (DPU), em defesa dos direitos das comunidades quilombolas de Santa Rosa dos Pretos e Monge Belo (Itapecuru-Mirim-MA) foi firmado, em 2012, um acordo que estabeleceu obrigações à Vale S.A., ao IBAMA e também à Fundação Cultural Palmares e ao INCRA, autarquia federal responsável pelo processo de titulação coletiva dos territórios quilombolas.
Em seguidas decisões judiciais, a última delas em 26/9/2014, o MM. Juiz Ricardo Macieira tem afirmado que tanto a Vale S.A. como o INCRA e a Fundação Cultural Palmares têm descumprido suas obrigações decorrentes dos acordos firmados e homologados em juízo.
Conforme as palavras do próprio Juiz Federal, “a co-ré (VALE S/A), além de alterar unilateralmente – e sem qualquer comunicação a este juízo – o cronograma para cumprimento de obrigações por ela assumida em acordo judicial (construção de viadutos em Jaibara dos Nogueiras, Juçara-Santa Helena, Ribeiro-Monge Belo e Pedrinhas, Nota Técnica do IBAMA fls. 1.074/77v.), deixou de comprovar a realização de melhorias em quatro passagens de nível nesses locais (alínea “f” da Cláusula Quarta do acordo judicial, fls. 632/637) e descumpriu outras obrigações constantes no referido acordo (alíneas “a” e “b” da Cláusula Quarta), conforme já constatado por este juízo ainda em dezembro de 2013”.
Em uma outra Ação Civil Pública , movida pelo Ministério Público Federal em 2013, e que tem como objeto a defesa dos direitos de comunidades quilombolas dos municípios de Santa Rita e Anajatuba, foi também estipulado um acordo que, dentre outras medidas, impôs à ré Vale S.A. a obrigação de construir um viaduto sobre a ferrovia, em um prazo determinado. Segundo as comunidades interessadas, as obras estão bastante atrasadas.
Está também em andamento desde 2012 uma Ação Civil Pública que contesta a legalidade do processo de licenciamento das obras de duplicação da Estrada de Ferro Carajás. Esta ação foi movida pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), o Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e conta com a assistência da Defensoria Pública da União (DPU).
As ilegalidades apontadas foram reconhecidas pelo MM. Juiz Federal, que determinou a paralisação das obras, até que a Vale S.A. refizesse os estudos de impacto, que fossem realizadas audiências públicas em todos os 27 municípios recortados pela EFC e que também fosse feita a consulta prévia, livre e informada para apurar o consentimento dos povos indígenas e comunidades quilombolas impactados.
Após 45 dias de embargo judicial das obras de duplicação da EFC, a Vale S.A. conseguiu retomar os trabalhos por meio de uma decisão do Presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que considerou que apesar da ilegalidade, as obras deveriam ir adiante porque sua paralisação causava grave lesão à ordem e à economia públicas. As entidades recorreram da decisão e o recurso deverá ser apreciado em breve pelo Superior Tribunal de Justiça, com possível nova paralisação das obras.
A Vale S.A. é também considerada como uma das principais causadoras pela demora na titulação dos territórios de algumas comunidades quilombolas, por conta de suas sucessivas impugnações, constantes dos processos administrativos em trâmite no INCRA.
Por fim, lideranças quilombolas do Maranhão estão sendo investigadas criminalmente e processadas judicialmente, por iniciativa da Vale S.A., por causa de suas ações pacíficas e legítimas de protesto