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São Luís, Maranhão, Brazil
Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

“Os trabalhadores nas minas vivem situação análoga à escravidão”

  • Estados do Brasil: 
Vale
Para Anízio Teixeira, que articula a primeira oposição sindical nos últimos 20 anos no Sindicato Metabase Carajás, no Pará, complexo Carajás, as jornadas de trabalho se transformam em média de 12 a 14 horas dia
05/11/2014
Jorge Neri e Gleerlei Andrade
de Parauapebas (PA)
“Nos últimos 14 anos, em que se man­tém no poder a mesma direção, os bené­ficos e direitos anteriores foram fragmen­tados. Muitos direitos foram vendidos”. Essa é a visão de Anízio Teixeira, que ar­ticula a primeira oposição sindical nos últimos 20 anos no Sindicato Metaba­se Carajás, no Pará, maior sindicato mi­neiro do país. Segundo ele, muitos acor­dos foram lesivos aos trabalhadores, uma afronta a CLT e a dignidade humana.
Nesta entrevista ao Brasil de Fato, Anízio Teixeira fala sobre os graves pro­blemas enfrentados pelos trabalhadores na região e sobre os desafios enfrentados pelos operários que se atreveram a fa­zer oposição ao sindicato. “Vivemos uma ditadura no sindicato. Nos últimos 10 anos, quem se atreveu a organizar qual­quer movimento de oposição foi demiti­do sumariamente”, afirma. Segundo ele, a expressão “oposição sindical” é tida co­mo uma afronta às políticas da Vale.
O Metabase Carajás é o maior sindi­cato mineiro do país. Com aproximada­mente 11.500 operários em sua base, dos quais aproximadamente 4 mil filiados, o Metabase vive um momento decisivo de sua história. Segundo Anízio Teixeira, ou o sindicato mantém-se sob os tacões de um pelego implacável que denun­cia e persegue trabalhadores, ou aposta na mudança do que alguns chamam dos ventos “da Primavera de Carajás” que se movimentam de dentro para fora das mi­nas, representada pela Chapa 2.
Brasil de Fato – Qual é a situação dos trabalhadores nas minas na Região de Carajás hoje?
Anízio Teixeira – Nos últimos dez anos, temos vivido uma condição de de­cadência. Os ganhos reais não são “reais” e a cada dia os direitos básicos dos tra­balhadores estão sendo reduzidos, co­mo por exemplo as jornadas de trabalho de 44 horas semanais. No caso do com­plexo Carajás, as jornadas de trabalho se transformam em média de 12 a 14 horas dia. Um trabalhador sai para o trabalho às 3h30min da manhã e só retorna às 18 horas para o seu lar, quando realmente encerra sua jornada. O ganho com horas intineres/dia não passa de uma hora, em média, como compensação. Logo, é uma situação análoga à escravidão de acordo com entendimento da própria Organiza­ção Internacional do Trabalho (OIT).
Qual tem sido o papel do sindicato Metabase na região de Carajás em relação a esta situação?
A história de nosso sindicato tem 27 anos, de muitas lutas e conquistas. Mas nos últimos 14 anos em que se mantém no poder a mesma direção, os benéficos e direitos anteriores foram fragmentados. Muitos direitos foram vendidos. Acor­dos que foram lesivos aos trabalhadores, uma afronta à CLT e à dignidade huma­na. Exemplo disso são as horasintine­res que antes existia como valores maio­res, que foram reduzidas e retomadas em 2008 após uma Ação Civil Pública mo­vida pelo Ministério Público do Traba­lho, que só começou a ser paga em 2010. Pra ter uma ideia, o direito dos trabalha­dores nesta ação garantia pagamento de 96 meses retroativos das horas intneires, e o sindicato negociou para limitar-se a 42 meses. Um perca irreversível e vergo­nhosa para os trabalhadores.
O Brasil vive um ciclo de crescimento e expansão de exploração mineral que tem trazido grandes impactos para a Amazônia, o que isso tem a ver com a luta sindical?
Antes de implantar qualquer proje­to, seria de bom senso que as empresas minerárias chamassem as entidades de classes e as organizações da sociedade ci­vil para a elaboração de um planejamen­to que implicasse na preparação e capa­citação da mão de obra da região, pois se é verdade que pode haver impactos posi­tivos na economia é preciso medir esses impactos na sociedade em seu entorno, no meio ambiente, que no geral são ne­gativos. Então o sindicato deve estar pre­ocupado com a saúde, lazer, segurança, habitação, transporte e demais direitos sociais que dizem respeito à dignidade humana. Porque o trabalhador não mora nas minas, mora na comunidade.
Como está atualmente o processo eleitoral para a direção do Metabase?
Depois de a Comissão Eleitoral (indi­cada pela atual direção) ter rejeitada a chapa de oposição, entramos na Justi­ça, que, através de uma Ação Cautelar, garantiu o direito da Chapa 2 concorrer às eleições. Desta feita, a atual direção marcaria a data das novas eleições, o que até o presente momento não aconteceu. Diante dessa situação, a categoria, ansio­sa para participar do processo, tem pro­posto assembleias para a deliberar sobre a data das eleições, o que deve acontecer nos próximos dias.
Por que é tão difícil construí um movimento de oposição no Metabase?
Vivemos uma ditadura no sindicato. Nos últimos 10 anos, quem se atreveu a organizar qualquer movimento de opo­sição foi demitido sumariamente. A ex­pressão “oposição sindical” é tida como uma afronta às políticas da Vale. Foi o que tentaram fazer comigo e com outros companheiros da Chapa 2. Alguns foram coagidos a inclusive pedir a retirada de seus nomes da chapa.
Considerando a grande influência que a Vale tem sobre os sindicatos, é possível uma chapa feita pelos trabalhadores ganhar uma eleição como essa?
Acreditamos que sim. Porque os tra­balhadores estão dispostos a participar como fiscais do processo. 80% da cate­goria nunca votou para eleger uma dire­toria de seu sindicato. A categoria sabe­rá definir seu lado. A hora é agora. A ca­tegoria quer mudança, quer renovação. Então é Chapa 2.