Quem sou eu

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São Luís, Maranhão, Brazil
Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

domingo, 16 de outubro de 2011

Sobre Denise, ou como dizer apenas o que se quer ouvir...

Faz tanto tempo... Mas não quero falar do tempo que convivemos porque hoje ele nos afastou de uma maneira assustadora; então, creio que a melhor forma seja falar do espaço que desfrutamos juntos.
No meio de tantas palavras escritas “frias” que não dão a dimensão real do que pensamos e sentimos é interessante recordar os lugares no qual dividíamos nossos sorrisos e choros... Nossas angústias temporais e nosso brincar de novo...
Como não recordar da nossa querida sala de “aula” no qual perdíamos tempo encontrando espaço pra falar das nossas vidas, das desilusões amorosas, ou de qualquer coisa que seja para apenas nos permitir estar juntos, para apenas sermos amigos?
Ou ainda daquela velha pracinha do Liceu onde gargalhávamos sobre nossas atividades, onde pura e simplesmente reinava a amizade? Parece até que aquelas árvores de alguma forma nos abraçavam... E de alguma forma elas tem muita semelhança contigo, porque o teu simples abraço tornou a minha vida melhor, bem melhor...
A praia também tinha um significado bem especial: não era apenas o instante em que nós relaxávamos com os amigos, mas o momento onde imperava a eterna liberdade de adolescente, de uma infância continuada... De alguma maneira, aquele espaço fazia daquele momento algo eterno... Olhando pra trás, ou buscando refúgio nos espaços da vida, eu vejo que esse sonho não morreu...
Mas esse trem da vida, que por um momento nos desuniu, não é capaz de separar os nossos sorrisos e choros, os nossos abraços; é verdade: os espaços marcam nossa vida, talvez até mais que o tempo, pois nossa vida eterniza-se no espaço que vivemos...
O seu ciúme, que por muitas vezes tirava do sério, creio que retratava o medo de perder... Logo você, que não gosta de muita gente (até hoje)... É perfeitamente compreensível. Mas hoje tu nos agüentas, sente confiança, acredito, de que mesmo que não dividamos os mesmos espaços, sempre haverá uma festa, uma casa, uma foto, em que possa “abraçar teu sorriso”, você me confortou com a verdade, sempre... E eu amo a tua eternidade de altivez de mulher.

sábado, 15 de outubro de 2011

ARQUITETÔNICA DA NATUREZA

A produção da natureza está atrelada a como seus usos e organização tornam visíveis novas formas, antes invisíveis, de representação da natureza. Essa própria representação da natureza engendra a reprodução da mesma a partir de relações sociais que destroem - constroem a natureza mudando assim as condições de uso.
Então, quando a Suzano estuda elementos vegetais buscando as melhores condições edafo-climáticas para os usos do eucalipto e sua organização territorial, faz, por meio dessa prática, tornar visível uma nova forma de natureza carregada de ideologia (forma social de representação) que realiza a “destruição - construtiva” da natureza alterando assim a forma e a condição de uso. Creio também que a apropriação das terras comuns tem muito disso.
A destruição criativa da natureza tem como fulcro o processo de desvalorização de uma “antiga” natureza ao mesmo tempo em que cria/fabrica uma “nova” natureza na medida em que valoriza o processo de produção assentado em relações sociais que configuram o seu uso.
Assim, a natureza só pode ser conquistada se produzida. O que reflete uma íntima relação entre uma ideologia da natureza e a paisagem espacial, uma vez que a origem social da natureza envolve múltiplas visões do espaço natural.
Dessa forma, a natureza é um produto social, um meio de dominação que por vezes escapa ao controle do capital; quando não escapa se transforma em meio de dominação da própria sociedade no mito prometeico de se libertar das amarras naturais.
Questiono-me: não há uma diversidade da natureza? Uma multiplicidade? É claro que isso é diferente de fragmentações; mas, então, se é pertinente não distinguir natureza e cultura isso quer dizer que não há especificidade?
É possível, logo, pensar que cada sociedade diversa e particular produz a sua própria natureza. Portanto, identificar distintos e particulares regimes de produção da natureza ao mesmo tempo em que co-existem com modos de produção homogêneo e universais que, sob seus auspícios, procuram universalizar seu regime subordinando as alternativas distintas de produção da natureza. A natureza não pode ser compreendida em sua totalidade apenas por seus discursos (sobre a natureza), mas pela prática social diversa que possui um habitus particular de se apropriar dela.
Então, a sociedade ao produzir a natureza está se produzindo.
Natureza produzida ou construída? Ambos. A fuga do imbróglio ou da perspectiva dicotômica deve ser buscada nas práticas materiais concretas que simultaneamente produzem e constroem a natureza de maneira relacional e histórica envolvendo uma “ideologia pratica da natureza”.
Pergunto-me se é possível e em que medida um conhecimento “eficiente” capaz de alcançar concomitantemente a produção e a construção numa arquitetônica (uso intencional da produção e construção) dialética entre concreto e imaginado, visível e abstrato.
Não quero com tal proposição dizer que a construção da natureza seja equivalente à produção de imagens da natureza; tampouco que a produtividade equivale à construção; creio que é justamente as práticas sociais, com distintas modalidades temporais, bem como moldes espaciais, que constituem fundamentalmente a arquitetônica da natureza.
Nessa ótica, o que identifica a natureza num mundo deveras mutante? Uma coleção de imagens? A produção de casas, carros, artefatos humanos? Existe uma “natureza tradicional”? Bem se existir encontra-se, exemplificando, no Parque Botânico da Vale ou em reservas “intocadas” cuja “perdição” (da natureza) é romantizada, conservada, pelas mesma forças opressivas que encetaram uma “volta à autenticidade”.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

CIÊNCIA, GEOGRAFIA E CAPITALISMO: A BUSCA DO OUTRO

Costumo dizer que o desenvolvimento é capitalcêntrico. Esta é uma ideia tomada do antropólogo colombiano Arturo Escobar. Este pensador exerce grande influência sobre o meu pensamento e sobre a forma de fazer geografia. Pensando esses dias sobre a assertiva do desenvolvimento ser capitalcêntrico, eu questionei-me: se traçarmos uma espécie de linha do tempo, a modernidade, o desenvolvimento das ciências, entre outros aspectos, todos eles enquadram-se como acontecimentos decorrentes do desenrolar do capitalismo cada vez mais global. Nesse sentido, será que a geografia, ou melhor, será que as ciências modernas estariam capacitadas ou aptas a negar o seu capitalcentrismo? A própria “Geografia Moderna” é refém deste nascedouro. Então até que ponto as ciências modernas podem nos auxiliar a superar o capitalcentrismo? É possível que uma ciência negue as suas origens? É possível mesmo uma reorientação científica da geografia? Uma reorientação que abandone os preceitos do desenvolvimento da modernidade e do progresso? O que esperar de uma geografia a - desenvolvimentista, não moderna e anti-progressista? A barbárie? Ou a perspectiva de um questionamento radical com a ordem epistemológica estabelecida? Se a geografia é, em seu nascimento, capitalcêntrica e moderna, como fazer, qual caminho trilhar para superar esta sua gênese?
A resposta pode ser buscar o outro... Fazer uma geografia do outro, do não desenvolvido, do não moderno, do não capitalista. Fazer uma geografia do outro é a possibilidade real de superação da geografia colonializada: uma geografia que obedece tanto ao nível do método, quanto do próprio conhecimento, os cânones da ciência. A ciência, com toda certeza hoje, não é a única portadora da verdade; nem tampouco pode se auto-intitular como única portadora do conhecimento: ela é apenas mais uma forma de saber, o saber científico, o saber da ciência e não o saber universal. As pretensões universais da ciência acabaram por reduzir a importância de outros saberes que construíram o mundo em que vivemos: o saber do outro, ou seja, do camponês, do indígena, do quilombola, do sulista de uma maneira geral, aquele conjunto de seres e grupos sociais que participaram subalternamente da modernidade, do desenvolvimento e do progresso. Negar a origem, assimilar o outro e internalizá-lo na ciência geográfica deve ser, pelo menos eu creio nisso, o caminho para que haja a superação mais do que necessária do desenvolvimento canonizado, da modernidade colonial e do regresso que muitas vezes representa o progresso.
Enquanto a geografia servir para legitimar o desenvolvimento (capitalista), a modernidade e o progresso, jamais ela poderá se transformar em um instrumento de superação, ruptura e metamorfose do mundo. É preciso jogar o sistema contra o sistema, a geografia contra aquilo que ela própria representou: arma do Estado, arma da ciência e do mercado. Estas três instituições canonizadas pelo pensamento moderno apenas utilizam-se da geografia enquanto estratégia de manutenção da reprodução das relações de poder, de submissão do outro, da colonialidade, do regresso e da retirada relativa de autonomia que os outros possuem com seus saberes. Precisamos cuidar para que a ciência geográfica se volte contra a própria ciência para que os outros possam ser visibilizados. Des/recientificar a geografia poderá ser uma aventura no início: mas nos servirá para que quebremos o cânone da ciência e possamos iniciar um verdadeiro diálogo epistêmico com outras matrizes de conhecimento e não nos sintamos, como que superiores e possuidores do conhecimento, como se este último fosse um prêmio ou louro condecorado à razão enquanto esforço de saída da minoridade. A ciência não se reorientará por si mesma, apenas os homens podem desessencializá-la...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A VISÃO ESSENCIALISTA DO DESENVOLVIMENTO

O ilustre antropólogo colombiano Arturo Escobar tem proposto que abdiquemos da busca do desenvolvimento. Isto porque, em sua visão o desenvolvimento em si é prejudicial uma vez que ele é capitalcêntrico. O que significa isto? Significa dizer que o desenvolvimento está ligado matricialmente ao crescimento do capitalismo, ou seja, do sistema que objetiva o lucro. Lucro que se transforma prejuízo para outros. Nesse sentido é extremamente perigoso a louvação do desenvolvimento posto que ele implicou historicamente e geograficamente em destruição do outro.
Historicamente, o desenvolvimento do capitalismo se processou com a “conquista” do continente americano, o Novo Mundo, e a escravização dos africanos. Das Américas o ouro, a prata, os metais preciosos, a força de trabalho indígena. Da África a força de trabalho negra. Em ambos os casos tanto os índios quanto os negros foram vistos como bárbaros, incivilizados. Daí a missão histórica do capitalismo, um sistema eurocêntrico: civilizar os outros, todos aqueles que não se enquadravam no padrão europeu. Assim foi se desenvolvendo o capitalismo. O resto da história a gente já conhece.
Altos níveis de industrialização e urbanização, tecnificação da agricultura e adoção dos valores culturais e educacionais modernos, ou seja, europeus, fazem parte do corpo do desenvolvimento. A pergunta que se faz é a seguinte: é possível reorientar o desenvolvimento? Se possível como, por que e para que?
Vejamos: se o desenvolvimento é em si capitalista isso significa dizer que ele é essencialmente capitalista. Ele é imutavelmente capitalista. Mas será que não estaríamos incorrendo em um erro em afirmar que o desenvolvimento não pode mudar? Não estaríamos sendo metafísicos e até mesmo duvidando da capacidade do homem que ele tem de mudar?
A palavra desenvolvimento é apenas um cognato. Quem a faz na materialidade são os homens. E são os homens que detém a capacidade da mudança. Mas por que falar tanto de mudança? Talvez por que é possível crer que o desenvolvimento em si não é capitalista. Mas ele precisa de alguns reajustes estruturais.
A reorientação do desenvolvimento passa pela reorientação do sistema. Num sistema civilizatório, como é o capitalismo, orientado pelo lucro, mais-valia e na exploração da natureza e do trabalhador é preciso mudar a forma de ser do desenvolvimento. Isso para que não romantizemos os subdesenvolvidos, uma vez que o subdesenvolvimento é uma forma de ser do desenvolvimento; é seu co-constitutivo dialético; não é algo exterior, mas simultâneo.
Dessa forma todos nós somos simultaneamente (sub)desenvolvidos. A industrialização desenfreada, a urbanização sem controle, o uso intensivo de agroquímicos, a educação que deseduca, são todas elas formas de ser do desenvolvimento capitalista. Como se supera esse cenário?
Agindo dentro dele. Sem cair no estruturalismo de achar que o capital determina a tudo, a todos e que as alternativas apenas são subsumidas por ele; é preciso ter ciência de que: sim, o capital é hegemônico, ou seja, detém o controle ideológico; mas isso não é igual a dizer que o capital determina as sociabilidades do indivíduo.
É preciso, pois cada vez mais de política. Estou ciente de que este tipo de política feita no mercado é uma das formas de ser da própria política do sistema capitalista que, como disse, pode até ser hegemônica; todavia ser uma não é o mesmo que ser a; assim temos que focalizar a política não apenas como imposição de limites, mas também como luta pelo poder. Poder este que não está assente apenas no Estado, mas em todos nós.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

ESPAÇO TAMBÉM É DINHEIRO

É conhecida a máxima de que tempo é dinheiro. A meu ver quando falamos que tempo é dinheiro, praticamos um reducionismo epistemológico reduzindo-o a uma mera expressão econômica. Dessa forma o que passamos a entender por tempo é o tempo sacralizado pelo capitalismo moderno, o que, de certa forma, acaba por nos impedir de ver a pluralidade epistemológica e material presentes, por exemplo, no tempo da Natureza, no tempo social, no tempo geológico, entre outros. A morte do pluralismo temporal equivale dialeticamente à vida do tempo unidimensional, o tempo do dinheiro, ou melhor, do tempo que é dinheiro.
Tanto a dimensão tempo, quanto o dinheiro, são partes integrantes de um todo maior constituído pela sociedade, ou melhor, pela humanidade. Mas, por mais que eles integrem a sociedade, não podemos definir a sociedade somente em critérios temporais e, tampouco em cifras monetárias sejam elas quais forem.
Pensemos então que por um momento a sociedade seja definida em termos de tempo. Cada grupo social que constitui, digamos, a “humanidade” ou a “sociedade total” passa a ser definida também em termos de tempo. Isso significa dizer que a dimensão temporal se torna o padrão regulador das relações sociais. E que as relações sociais que não são definidas em termos temporais estão despadronizadas, ou ainda, não são normais.
Sob essa ótica instaura-se o reino da padronização que acaba por diluir em seqüências temporais os mais diversos grupos sociais amortizando sua diversidade sociocultural em virtude de um determinado padrão. Não obstante, quando a Natureza passa também a ser definida em termos, apenas, temporais, ofuscamos os diversos tempos presentes nos mais diversos biomas e ecossistemas que a compõem.
Pior ainda é quando a sociedade é definida em termos de dinheiro. Quando isso ocorre o dinheiro torna-se a medida de todas as coisas e faz todas as outras coisas ficarem sem medida. Diz-se que tal diversidade sociobiológica pode ser valorizada, atribuída um valor econômico-financeiro que é totalmente diferente daquilo que empresa sentido à vida.
Mas também gostaria de alertar que não só o tempo é dinheiro, mas o espaço também é dinheiro. Se acompanharmos o desenvolvimento progressivo do capitalismo podemos perceber que o mesmo não seria tão lucrativo caso o espaço não fosse uma dimensão importantíssima para reprodução do capital.
Primeiro por que o desenvolvimento obedece a uma lógica industrial, urbana e tecnificada. Além disso, a questão do progresso nos remete a um crescimento econômico infinito alicerçado numa utilização infinita dos recursos naturais. É claro que isto hoje é altamente inviável em virtude dos limites ecológicos que ensejam, pelo menos em tese, limites ao crescimento.
Nesse sentido, o espaço acaba por moldar também o capitalismo. Isso porque para um sistema desigual, nada mais interessante que uma distribuição desigual dos recursos naturais. Penso que a igualdade, na diferença, é inatingível dentro do sistema capitalista posto que ele dilui a diversidade em busca de um padrão universal e “normal” da vida humana. Logo, a diversidade é inferiorizada uma vez que se constitui um padrão comportamental e da vida que acaba por subalternizar grupos sociais distintos, com culturas distintas e modos de vida distintos.
Quando o sistema-mundo moderno-colonial nasce, nos idos de 1492, o espaço ganha uma dimensão assaz importante a nível mundial. O espaço sempre fora importante para todas as culturas, das mais variadas naturezas. Com o advento, como disse, do capitalismo, que a dimensão temporal fará com que todas as nações entrem na fila do progresso, da modernidade e do desenvolvimento. E isso é uma dimensão constituída de forma alheia e alienígena que taxa como atrasados pessoas que vivem nos mais diversos espaços e domínios naturais.
Primeiro porque havia economias regionais/locais que foram inseridas em uma espécie de nível mundial. Uma condição para a realização de tal feito foi a inserção dos espaços em diversos níveis hierárquicos no que tange ao fornecimento de recursos naturais, quanto de recursos humanos. O espaço africano e latino-americano encaixam-se nessa dimensão do espaço comercial mundial.
Outro fator importante é a questão da localização como um fator espacial fundamental. Quando dizemos que só o tempo é dinheiro, escamoteamos que o espaço cumpre uma função econômica fundamental para a reprodução das elações de produção capitalistas. Não se resume a uma questão temporal, mas sim, também a uma questão do espaço enquanto âmbito do capital.

sábado, 8 de outubro de 2011

Sobre monos...

As discussões acerca da diversidade biológica e social do mundo tem iniciado debates sobre a supressão da variedade de formas biológicas e sociais presentes no planeta Terra. Ao centralizarmos a discussão sobre a sociobiodiversidade não podemos deixar de focar nos fundamentos que levaram a constituição da própria sociobiodiversidade, ou seja, como esta questão está posta hoje e porque se fala tanto em diversidade. Sendo assim, a diversidade só se reconhece pela sua antítese dialética como movimento necessário à interpretação e ao entendimento. É por isso que no cerne da discussão da sociobiodiversidade está a questão da nossa cosmovisão sobre as monos...
Indubitavelmente, hoje, no centro da cosmovisão, está a monocultura, o monoteísmo e a monarquia.
A monocultura é um tipo de prática de cultivo que objetiva a produção de um único item alimentício, por exemplo, o monocultivo da soja. Mas, para além dos impactos ambientais que a monocultura traz é central que nos atentemos pra o prefixo mono na palavra porque é ele que objetiva as práticas humanas quando esta cultura do “único” destrói a cobertura vegetal anterior para se afirmar. Notemos, pois, que a afirmação da monocultura só se pode fazer pela negação da diversidade presente na cobertura vegetal anterior. Essa “anterioridade” sinonimiza a qualidade de ser “primeiro” numa clara alusão a um estágio evolutivo. Sendo assim, se a diversidade original está num estágio “primeiro”, ou anterior, isso significa que está atrasada, logo é inferior ao que vem depois, no caso a monocultura. Dessa forma, a monocultura não pode “conviver” com outras culturas distintas, posto que são “atrasadas, inferiores”, por isso precisa se afirmar hegemonicamente.
Na mesma linha do controle ideológico está o monoteísmo. E mais uma vez o prefixo mono é chave para se compreender a crença num único Deus. Como se vê, a “unicidade” desse Deus é sempre avivada na medida em que ele é único. Ora, todo e qualquer deus é único, dotado de características particulares que não implicam necessariamente inferiorização ou hierarquização. Este princípio de inferiorização e hierarquização acontece somente quando a diferença, as entidades que diferem entre si, são elas mesmas inferiorizadas. Portanto, se o diferente é o inferior, se ele é o que está num estágio religioso atrasado com crenças ultrapassadas, cabe então aos monoteístas instaurar o processo de conversão à religião verdadeira, única, superior, acima de todas.
A monarquia também não escapa desse pequeno quadro que estou traçando. A constituição singular, única, de um soberano equivale a uma crença de que uma persona pode encaminhar satisfatoriamente o governo da Nação. Ora, se “elege-se” uma única pessoa para o comando e o governo da Nação isso equivale a dizer que as pessoas em geral, a “massa” populacional foi destituída da capacidade de se governar e de construir coletivamente os caminhos de um governo não autocrático, autoritário e, porque não, absolutista.
Enfim, o debate sobre a diversidade biológica, social, política e religiosa está na ordem do dia. Mas esse debate só poderá seguir em frente na medida em que negar e superar aquilo que constitui o seu outro: os monos... O primado dos monos deve ser questionado e superado uma vez que põe em cheque a capacidade da humanidade e da Natureza de se auto-reconhecer enquanto diversa, diferente, ou seja, uma igualdade na diferença no sentido de que igualdade não implica em homogeneização como o raciocínio mais simplório e costumeiro pode levar-nos a crer. O reconhecimento das diferenças sejam elas de cunho biológico, social, religioso, político, econômico, é o caminho a ser trilhado para que possamos conviver com o outro sem “contingenciá-lo necessariamente” à inferioridade. Só assim é que no futuro, não muito distante, a “utopia” da igualdade na diferença pode se fazer presente...