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São Luís, Maranhão, Brazil
Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Josef K e Saulo Silva


Alguém devia ter caluniado Josef K., pois, sem que tivesse feito mal algum, ele foi detido certa manhã (KAFKA, O processo).

É com estas palavras que o escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) inicia seu famoso romance O processo, publicado postumamente em 1925. No escrito kafkiano, Josef K – um funcionário de banco – é detido, no seu trigésimo aniversário, e processado sem sequer saber o que lhe ocorrera para ser submetido a tal prática. Mais do que sem saber, K é condenado inocentemente.
92 anos depois, a epígrafe é reescrita: “Alguém devia ter caluniado Saulo Pinto Silva” pois sem que tivesse feito mal algum o professor de economia da Universidade Federal do Maranhão foi caluniado no Facebook por ter supostamente incentivado a violência física contra grupos religiosos.
O fato era que o prof. Saulo Silva satirizava o Projeto de Lei 8429/2017 do deputado federal e pastor Franklin Lima (PP-MG) que dispõe sobre obrigatoriedade das rádios públicas a tocarem nas suas programações diárias música religiosa nacional.
Na sátira, Saulo Silva escreveu: “Quanto aos fundamentalistas religiosos uma dose permanente de pauladas na cabeça é o melhor antídoto contra imbecis/estúpidos”. Foi esse trecho que gerou o furor nos conservadores.
Lida ao pé da letra, e não no seu caráter irônico, o post de Saulo Silva foi printado e propagou-se pelo Facebook e demais canais de comunicação, como o Jornal Pequeno. A exposição na citada rede social combinada com o conservadorismo tornaram vítima fácil da calúnia o prof. Saulo. E talvez seja isso mesmo o que há de mais assustador nessa história inteira: a potência da calúnia nos tempos de Facebook.
Saulo não foi detido, mas foi caluniado sem que tivesse feito mal algum, literalmente. Mas também, literalmente, a calúnia reverberou na rede de Mark Zuckerberg sem que fosse possível se identificar a origem: estamos diante da origem oculta da calúnia. Porém, se a calúnia tem uma origem oculta sabe-se quem a proliferou. E os caluniadores realizam o avesso do dito marxiano: “eles sabem e ainda assim o fazem”. A perversidade da calúnia reside justamente nisso: a consciência do ato de caluniar, difamar; o terror causado pelo dano, praticamente, irreversível.
K desconhece a causa do processo, mas Saulo sabe muito bem a causa da calúnia: seu posicionamento político seja na perigosa exposição no Facebook, na sua prática docente ou ainda na militância. Os funcionários de baixo escalão que vigiam K por dez horas diárias, e são pagos por isso, encontram seus correspondentes hodiernos em conservadores de plantão. Só resta saber se esses conservadores, além de vigiarem e não entenderem de sátiras/ironias, também são pagos...

domingo, 17 de setembro de 2017

MA -Suzano foge do diálogo

Por Reynaldo Costa, da Página do MST
A audiência pública realizada no último domingo (10), foi proposta como uma forma de buscar um acordo sobre a permanência ou não dos trabalhadores Sem Terra na fazenda Rodominas, em Bom Jesus das Selvas, no centro do estado do Maranhão. De todos os envolvidos no processo, apenas a empresa Suzano não compareceu.
Os esforços foram de todos: os Sem Terra do Acampamento Buritirana, as representações do Governo Estadual e da Assembleia Legislativa do Maranhão, representantes da Secretaria de Segurança e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, todos compareceram, na busca de uma saída para o conflito que já dura três anos, e que tem como principal principal instigador a empresa Suzano Papel e Celulose.
“A Suzano não tem responsabilidade, e sua ausência prova isso. É um desrespeito aos que aqui estão buscando uma saída para esse impasse”, diz um morador da Cidade de Bom Jesus das Selvas, que defende o assentamento das famílias que ocupam a área.
A audiência
A audiência pública foi convocada no final de julho pela Assembleia Legislativa do Estado, a partir de uma proposta do Movimento Sem Terra durante a ocupação da Sede do INCRA em São Luís, no período em que o acampamento Buritirana estava prestes a ser despejado. O objetivo da audiência era discutir a situação de conflitos agrários na região, onde além das famílias acampadas na Rodominas, outros dois acampamentos necessitam de avanços no processo de desapropriação de áreas. Nos três casos, os trabalhadores vivem constantes ameaças e perseguições.
Estiveram presentes trabalhadores dos acampamentos Pedreira II, Estrela do Norte e da Buritirana. Das autoridades estavam: Deputado Cabo Campos, representando a Assembleia Legislativa, representantes da prefeitura local, vereadores e representantes da Secretaria de Estado e de Direitos humanos e Participação Popular, e da Superintendência Regional do Incra. O não comparecimento da empresa Suzano impossibilitou avanços nos encaminhamentos.
A principal situação de conflito apresentado na pauta está na Fazenda Rodominas, ocupada por cerca de 150 famílias de Sem Terra. Os trabalhadores estão na área a mais de quatro anos. Após a ocupação em 2013, a empresa Suzano arrendou a área para cultivo de eucaliptos. Desde então, tenta a qualquer custo despejar os trabalhadores.
Desde o início do ano, a empresa vem tentando impedir o acesso dos trabalhadores ao acampamento, fechando estradas com cercas e cancelas. Um acordo mediado pelo Incra proibiu a empresa de realizar essas ações.
No final de 2016 agentes da empresa foram acusados da tentativa de atropelamento a um casal de camponeses com um carro da empresa. A mulher estava grávida de oito meses.
Os trabalhadores afirmam ainda que em março passado a empresa lançou veneno nas proximidades do acampamento usando um avião. Parte das roças foram atingidas e danificadas.
A área tem cerca de seis mil hectares, o que é suficiente para o assentamento de todas as famílias. Em julho, como resultado da Jornada de Lutas do MST, o processo sobre a área foi transferido para a Justiça Federal.
Produzindo alimentos saudáveis
O que era pra ser uma audiência tensa e cansativa, se transformou numa grande exposição da produção do acampamento Buritirana. Desde as primeiras horas de domingo, e durante toda a audiência, os trabalhadores fizeram uma feira de produtos cultivados sem nenhum tipo de veneno.
Uma resposta à empresa Suzano que vem anunciando na cidade que os acampados não produzem.  “Quem destrói a natureza é a Suzano, quem usa venenos é a Suzano”, denunciou o acampado Antônio Paulo que conclui, enfatizando com alegria: “nós produzimos comida saudável e de baixo custo para nossos filhos e para a população daqui”.
Na audiência os trabalhadores apresentaram a diversidade de produtos produzidos no acampamento: abóbora, macaxeira, milho, mamão, banana, tomate, fava, amendoim, uma produção que vem sendo ameaçada pelo monocultivo do eucalipto na região.
Com isso, as famílias demonstraram a capacidade de produção. Para que se tenha uma ideia, somente nos meses de abril e maio, os trabalhadores colheram cerca de sete toneladas de arroz, produzidos em aproximadamente 200 hectares de de terra na fazenda Rodominas. Uma produção que garantirá o sustento das famílias acampadas por um ano.
A produção de abóbora foi outro destaque: os trabalhadores colheram cerca de 30 toneladas do produto, tendo que escoar parte dessa produção para outras regiões do Brasil.
A resistência está de pé
A resistência pelo direito à terra dos acampados da Buritirana é tão grande que mesmo em um período de seca que já dura mais de dois meses, os trabalhadores não param de produzir. No momento, investem no cultivo de hortaliças e tomates sem veneno. As próximas roças também já começam a ser preparadas.
*Editado por Leonardo Fernandes


terça-feira, 5 de setembro de 2017

MA – São Luís pede socorro: Deixe-me viver!


Neste ano de 2017, no próximo mês de dezembro, fará 20 anos que São Luís/MA foi tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, a União das Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura. A cidade maranhense é, ao lado de Salvador/BA, a única capital do norte e nordeste brasileiro a possuir esse título.
E o que mudou a partir desse tombamento? O que melhorou na vida dos seus habitantes? Houve algum tipo de avanço social? Não, não houve melhora. Ao longo dessas duas décadas, não foram feitos investimentos levando em conta a imensa e diversificada riqueza cultural da cidade, detentora de um patrimônio que vai muito além do belo acervo arquitetônico do seu Centro Histórico, passando por tradições, manifestações artísticas, modos de vida e meio ambiente. Em termos de turismo, a cidade tornou-se apenas uma passagem para os Lençóis Maranhenses…
A partir de um modelo de desenvolvimento que prioriza violentos enclaves, a cidade de São Luís, localizada na Ilha de Upon-Açu, tem sido atacada pela ação predatória e avarenta de uma elite que reúne políticos e empresários, de dentro e de fora do Maranhão. É uma ação que devasta, polui e mata. Destrói a vida e a cultura. As empresas Vale e Alumar são os dois principais enclaves, isto é, elas estão dentro de um território, mas inteiramente desvinculadas da vida e dos interesses socioeconômicos da imensa maioria da população local.
No famoso Poema Sujo, o maranhense Ferreira Gullar, ao falar da São Luís da sua infância e juventude (décadas de 1930 e 40), cita “a vida a explodir por todas as fendas da cidade”. Trata-se do mesmo “paraíso tropical” que ele registrou em várias entrevistas. Um lugar decantado por suas palmeiras e sabiás; tambores e poesias; danças, ritmos, azulejos e sobrados; praias, camarões e caranguejos; lendas e mistérios; arroz de cuxá, peixe frito e farinhas d`agua; ladeiras, mirantes e cantarias; matracas, radiolas e pandeiros; mangas, cajus, bacuris, sapotis e juçaras. Mas a ação dessa elite predadora não respeita pescador, rio, pé de babaçu, casarão ou a Unesco. Ela tenta passar por cima de tudo e de todos – ecologia, povos, tradições – que possam impedir os seus lucros. Só seus lucros lhes interessam! Se depender desses piratas, cada vez menos a vida explodirá pelas “fendas da cidade”.
Mas a questão não se resume exclusivamente a sensibilidade de alguns poetas. Hoje, um problema fundamental de São Luís passa diretamente pela revisão do Plano Diretor e da tentativa de mudar a Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo da cidade, num processo que se arrasta desde 2015. É um problema sério. Que compromete o presente, o passado e o futuro. Um problema que nem todos entendem. Por isso ele se torna maior.
O prefeito Edivaldo Holanda Junior quer promover mudanças para atender aos interesses da empresa Vale e de seus satélites locais, a Federação da Industria do Maranhão (Fiema), a Federação do Comércio, o sindicado patronal da construção civil (Sinduscon), entre outros. Nos textos oriundos da prefeitura, enviados para a imprensa local, esses empresários são chamados de “setor produtivo”. Mas o que eles produzem? E pra quem eles produzem?
Em 2012, a empresa Vale, que há mais de 30 anos parasita a Ilha de São Luís e os territórios do Maranhão e do Pará, foi apontada como “a pior empresa do mundo”, numa eleição que é promovida anualmente, desde 2000, pela organizações Greenpeace (Holanda) e Declaração de Berna (Suíça). O prêmio é sempre divulgado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos e, no caso da Vale, além da mídia alternativa, a notícia repercutiu bastante em veículos conservadores, como jornal O Estado de São Paulo, o G1 (Globo) e a revista Exame. No site dessa premiação, a indicação da mineradora Vale foi justificada pelo seguinte texto: “uma história de 70 anos manchada por repetidas violações dos direitos humanos, condições desumanas de trabalho, pilhagem do patrimônio público e pela exploração cruel da natureza”.
No último dia 14 de agosto, o trem da Vale atropelou um senhor de 75 anos, no interior do Maranhão. Matou! É mais um crime dessa empresa em solo maranhense. Só entre os anos de 2014 e 2016 foram registrados 126 atropelamentos cometidos pelo trem da Vale, nesse trajeto que vai do sudeste do Pará até a cidade de São Luís. Desse total, 26 morreram. A Vale não toma providências. Ignora completamente as sucessivas tragédias! As mortes continuam. Como já afirmamos aqui, o que interessa aos piratas e enclaves econômicos é o lucro. Para eles, a vida do povo não tem valor. É lixo! Pois é para esse “setor produtivo” que o prefeito Edivaldo Holanda Junior está operando. É para esse tipo de “investimento” que ele quer submeter, definitivamente, a cidade de São Luís. É ou não é pra pedir socorro?
Plano Diretor e o porto “da Lava Jato”
E por que a Vale, o prefeito Edivaldo Holanda Junior e os demais “empresários” querem o mudar o Plano Diretor de São Luís? São três as questões que estão em jogo:
(1) Eles querem a criação de novas zonas portuárias e industrias, sem se preocupar em atingir a cultura, os povos rurais e seus modos de vida, devastando o que resta de área verde na Ilha. É transformar o que resta de “paraíso tropical” em deserto.
(2) Querem a ampliação dos usos industriais permitidos, o que, entre outras coisas, aumentaria ainda mais os índices de poluição de São Luís, que hoje já são muito graves e elevados, apesar do desconhecimento de boa parte de seus habitantes e da indiferença, omissão, negligencia ou concordância de várias esferas do poder público. Em entrevista concedida para o jornal Vias de Fato, em 2015, o advogado Guilherme Zagallo revelou que os índices de poluição de São Luís estavam iguais aos que existiam na cidade paulista de Cubatão, considerada, no passado, a cidade mais poluída do Brasil. Os responsáveis por essa poluição são as empresas Vale, Alumar e a Termelétrica a carvão. Ainda cabe mais? Não! São Luís precisa diminuir a emissão de poluentes. É uma questão de saúde pública!
(3) E finalmente, eles querem poder construir prédios de até 31 andares, sem levar em consideração qualquer tipo de planejamento urbano, incluindo saneamento básico, mobilidade urbana e o precário fornecimento de água que há muito tempo ocorre na cidade. Em São Luís, até mesmo o programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, pela ação irresponsável (para dizer o mínimo) de empreiteiros, provocou desastre ambiental, comprometendo inclusive a tradicional Festa da Juçara, que há quase 30 anos ocorre na Zona Rural da cidade. Além disso, é bom lembrar que desde a década de 1980, uma parte significativa da população é abastecida de água a partir do continente, isto é, do mal tratado Rio Itapecuru. É comum a falta de água. Faz parte da rotina. Mesmo em setores da elite o abastecimento, em muitos casos, ocorre através de carros pipas. E todos os anos são destruídas nascentes de rios, exatamente por conta da ação de empresários/piratas. Um exemplo é o Shopping da Ilha (da construtora capixaba Sá Cavalcante), que destruiu a Vila Cristalina, que tinha esse nome por conta das várias nascentes hídricas.
É nesse ambiente de lesa-humanidade, que uma empresa paulista pretende construir um porto dentro do perímetro da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim, maior área verde de São Luís (que corresponde a cerca de 10% da Ilha) e uma das mais piscosas do município. A empresa é a WPR, uma subsidiária da WTorre, hoje enrolada e investigada na Operação Lava Jato. Nesse caso, um empresário pode ganhar um porto para seus interesses escusos e privados, enquanto pescadores perdem seu trabalho e a cidade fica sem o seu pescado, com parte significativa do seu meio ambiente destruído, afetando negativamente suas tradições, cultura etc.
Um fato importantíssimo nessa questão do porto é que há poucos metros da praia de Parnauaçu, a área onde essas figuras investigadas por formação de quadrilha querem fazer seus empreendimentos particulares, fica o Terreiro do Egito, o mais antigo espaço sagrado do Tambor de Mina em São Luís, religião fundamental do Maranhão. É por ali que passa a história dos famosos Tambores de São Luís, os mesmos que dão nome a obra prima de Josué Montello. Atingir essa memória seria mais uma tentativa de violência contra o povo citado no hino da cidade, onde Bandeira Tribuzzi fala de “tambores do congo, gemendo e cantando, dores e saudades, a evocar martírios, lagrimas e açoites…”. Ali, no Terreiro do Egito, estão as raízes de um povo. E todo respeito é pouco.
Defesa da Ilha contra o “vale tudo”
A Lei Federal n 10257, denominada Estatuto da Cidade, estabelece que todo Plano Diretor precisa ser revisto, pelo menos, a cada 10 anos. O de São Luís passou por uma revisão em 2006, logo, ele está vencido. Edivaldo Holanda Junior não fez a revisão no ano passado, por conta da eleição, temendo um desgaste eleitoral, pois seria novamente candidato. Em 2015, Edivaldo tentou fazer a revisão, mas foi denunciado por integrantes do Conselho da Cidade, que entraram com uma representação junto ao Ministério Público Estadual, fato que resultou num inquérito. E onde estava o problema?
Há dois anos, o atual prefeito já estava agindo, ao arrepio da Lei, para mudar o Plano Diretor, prejudicando o conjunto da polução, para servir, exclusivamente, aos interesses de empresários escusos, a quem ele chama de “setor produtivo”. Para revisar um Plano Diretor é preciso fazer audiências públicas (é o que diz a Lei Federal). Em 2015, através de seus assessores e secretários municipais, Edivaldo forjou 13 “audiências públicas”, para tentar legitimar as mudanças pretendidas. O termo forjou é adequado, pois as audiências eram realizadas sem a devida publicidade, o que resultava em atividades com a quase absoluta ausência de público. Só compareciam os assessores do prefeito e os representantes dos empresários, além dos integrantes do Conselho da Cidade, com alguns deles decidindo denunciar a farsa. E assim foram feitas (forjadas, encenadas) 13 audiência. Outra ação questionada pelos conselheiros é que a mudança proposta em 2015 não tratava do Plano Diretor em sua totalidade, mas apenas de um capítulo, exatamente o capítulo que favorece os interesses dos empresários.
Com as denúncias já encaminhadas ao Ministério Público, alguns integrantes do Conselho da Cidade, somados a movimentos sociais, professores, advogados, comunicadores, estudantes, trabalhadores rurais, sindicalistas, criaram o Movimento de Defesa da Ilha, que propõe a realização de verdadeiras audiências públicas, onde possa ser discutido todo o Plano Diretor, não apenas um de seus capítulos. Diante dessa reação, o prefeito e seus aliados recuaram, deixando passar a eleição de 2016.
Agora, em agosto de 2017, a Prefeitura de São Luís distribui texto para a imprensa local anunciando que “durante o mês de setembro, vai realizar quatro audiências para debater o novo Plano Diretor da cidade, concluindo esta etapa antes de encaminhar o projeto para o Legislativo”. Quando fala “concluindo”, a prefeitura pretende validar todas as audiências realizadas sem o conhecimento da população de São Luís.
E segundo o mesmo texto da prefeitura, quem decidiu tudo isso foi o Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico Social (Comdes), em reunião realizada no dia 8 de agosto na Associação Comercial. E o que significa esse Conselho? Quem criou? Quem faz parte dele?
O tal conselho – que tem a pretensão de determinar o futuro de São Luís – foi criado em 2015, por iniciativa de Edivaldo Holanda Júnior, com o objetivo de “aglutinar o poder público, o setor produtivo e a sociedade civil”. Na realidade, trata-se de uma associação entre burocratas e empresário, incluindo a mineradora Vale, a locomotiva desse trem assassino. E é a partir desse conselho que Edivaldo sinaliza que vai para um vale tudo.
O prefeito opta por se utilizar de outro conselho, pois não tem a unanimidade no Conselho da Cidade, apesar de ter uma maioria, formada exatamente pelos burocratas e representantes das empresas. Mas pelo fato de haver conselheiros da cidade que buscaram o Ministério Público, ele faz essa manobra tosca. Nem Edivaldo, nem os empresários querem debate. Por isso tentam impor um rolo compressor. Esta nova opção do prefeito, mais uma vez, descumpre a lei. O Ministério Público, certamente, será novamente solicitado.
Além disso, quais as próximas cenas desse filme que sugere tragédia e suspense? O Movimento de Defesa da Ilha vai se mexer. É bom lembrar que, em 2005, o Movimento Reage São Luís obteve uma vitória contra essa mesma Vale. Mas, caso o novo Plano Diretor seja aprovado na base da força bruta (sem o devido debate e com apoio ou omissão de outras esferas do poder público), Edivaldo Holanda, eleito com pouco mais de 30 anos com um discurso que prometia mudanças, entrará para histórica como um dos prefeitos mais perniciosos para a vida na cidade de São Luís. Um engodo, reeleito no ano passado na base do velho abuso de poder, surfando num retardado asfalto sonrisal. E sem demonstrar maior apetite político, agindo mais como uma marionete, ele não parece muito preocupado com a desmoralização iminente. Tudo indica que debaixo desse angu existe um “compromisso de fé” com os empresários gananciosos, isto é, com o “setor produtivo”.
O Movimento de Defesa da Ilha, que até o momento não teve um espaço devido na grande mídia maranhense, chama a atenção para todo esse problema e propõe que, após 11 anos da aprovação da Lei que definiu o atual Plano Diretor de São Luís, seja promovido um amplo debate sobre o futuro de São Luís, buscando envolver todos os setores sociais, levantando quais os problemas mais graves da cidade.
Se não for feito isso, a população corre um o risco seríssimo de ter uma cidade com fornecimento de água ainda mais comprometido; com ampliação dos problemas de saneamento básico; com um trânsito cada vez mais engarrafado; com aumento da poluição e da devastação ambiental e, portanto, com uma população cada vez mais doente. Além disso, as alterações climáticas, provocadas pela construção de prédios com até 31 andares e as novas indústrias, levarão a elevação da temperatura. É mais calor! Cabe ainda destacar que a transformação de povoados rurais em zonas industriais ou portuárias implicarão em deslocamento de grupos sociais para as periferias urbanas, o que certamente contribuirá para o crescimento dos já graves problemas de violência que a cidade enfrenta cotidianamente.
O que está em jogo é o direito à vida de toda uma cidade, contra os interesses de alguns ditos empresários, que agem rotineiramente como meliantes. É saber se São Luís continuará a merecer um título de “patrimônio cultural da humanidade” ou será apenas um cemitério e corredor de exportação, por imposição do capital internacional. E se Edivaldo já se colocou na posição de mero capataz, o Movimento de Defesa da Ilha, diante da gravidade da situação, certamente cobrará posição do atual governador Flávio Dino (padrinho do prefeito) e do grupo de Sarney, que é inclusive avalista do atual Ministro do Meio Ambiente.
Socorro!