Por Reynaldo Costa, da Página do MST
A audiência pública realizada no último domingo (10), foi proposta como
uma forma de buscar um acordo sobre a permanência ou não dos trabalhadores
Sem Terra na fazenda Rodominas, em Bom Jesus das Selvas, no centro do
estado do Maranhão. De todos os envolvidos no processo, apenas a empresa Suzano
não compareceu.
Os esforços foram de todos: os Sem Terra do Acampamento Buritirana,
as representações do Governo Estadual e da Assembleia Legislativa do Maranhão,
representantes da Secretaria de Segurança e do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária – INCRA, todos compareceram, na busca de uma
saída para o conflito que já dura três anos, e que tem como principal principal
instigador a empresa Suzano Papel e Celulose.
“A Suzano não tem responsabilidade, e sua ausência prova isso.
É um desrespeito aos que aqui estão buscando uma saída para esse impasse”,
diz um morador da Cidade de Bom Jesus das Selvas, que defende o assentamento
das famílias que ocupam a área.
A audiência
A audiência pública foi convocada no final de julho pela Assembleia
Legislativa do Estado, a partir de uma proposta do Movimento Sem Terra durante
a ocupação da Sede do INCRA em São Luís, no período em que o acampamento
Buritirana estava prestes a ser despejado. O objetivo da audiência era discutir
a situação de conflitos agrários na região, onde além das famílias acampadas na
Rodominas, outros dois acampamentos necessitam de avanços no processo de desapropriação
de áreas. Nos três casos, os trabalhadores vivem constantes ameaças e
perseguições.
Estiveram presentes trabalhadores dos acampamentos Pedreira II, Estrela
do Norte e da Buritirana. Das autoridades estavam: Deputado Cabo Campos,
representando a Assembleia Legislativa, representantes da prefeitura local,
vereadores e representantes da Secretaria de Estado e de Direitos humanos e
Participação Popular, e da Superintendência Regional do Incra. O não
comparecimento da empresa Suzano impossibilitou avanços nos encaminhamentos.
A principal situação de conflito apresentado na pauta está na
Fazenda Rodominas, ocupada por cerca de 150 famílias de Sem Terra. Os
trabalhadores estão na área a mais de quatro anos. Após a ocupação em 2013, a
empresa Suzano arrendou a área para cultivo de eucaliptos. Desde então, tenta a
qualquer custo despejar os trabalhadores.
Desde o início do ano, a empresa vem tentando impedir o acesso dos
trabalhadores ao acampamento, fechando estradas com cercas e cancelas. Um
acordo mediado pelo Incra proibiu a empresa de realizar essas ações.
No final de 2016 agentes da empresa foram acusados da tentativa de
atropelamento a um casal de camponeses com um carro da empresa. A mulher estava
grávida de oito meses.
Os trabalhadores afirmam ainda que em março passado a empresa lançou
veneno nas proximidades do acampamento usando um avião.
Parte das roças foram atingidas e danificadas.
A área tem cerca de seis mil hectares, o que é suficiente para o
assentamento de todas as famílias. Em julho, como resultado da Jornada de Lutas
do MST, o processo sobre a área foi transferido para a Justiça Federal.
Produzindo alimentos saudáveis
O que era pra ser uma audiência tensa e cansativa, se transformou numa
grande exposição da produção do acampamento Buritirana. Desde as primeiras
horas de domingo, e durante toda a audiência, os trabalhadores fizeram uma
feira de produtos cultivados sem nenhum tipo de veneno.
Uma resposta à empresa Suzano que vem anunciando na cidade que os
acampados não produzem. “Quem destrói a natureza é a Suzano, quem
usa venenos é a Suzano”, denunciou o acampado Antônio Paulo que conclui,
enfatizando com alegria: “nós produzimos comida saudável e de baixo custo
para nossos filhos e para a população daqui”.
Na audiência os trabalhadores apresentaram a diversidade de produtos
produzidos no acampamento: abóbora, macaxeira, milho, mamão, banana,
tomate, fava, amendoim, uma produção que vem sendo ameaçada pelo monocultivo do
eucalipto na região.
Com isso, as famílias demonstraram a capacidade de produção. Para
que se tenha uma ideia, somente nos meses de abril e maio, os trabalhadores
colheram cerca de sete toneladas de arroz, produzidos em aproximadamente 200
hectares de de terra na fazenda Rodominas. Uma produção que garantirá o
sustento das famílias acampadas por um ano.
A produção de abóbora foi outro destaque: os trabalhadores colheram
cerca de 30 toneladas do produto, tendo que escoar parte dessa produção
para outras regiões do Brasil.
A resistência está de pé
A resistência pelo direito à terra dos acampados da Buritirana é
tão grande que mesmo em um período de seca que já dura mais de dois meses, os
trabalhadores não param de produzir. No momento, investem no cultivo de
hortaliças e tomates sem veneno. As próximas roças também já começam a ser
preparadas.
*Editado por Leonardo Fernandes
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