A situação no estado do Maranhão se destaca pela quantidade de conflitos
gerados pela expansão da empresa Suzano Papel e Celulose, que chegou na região
em 2008
A expressão usada
para denominar a monocultura de eucalipto não poderia ser mais adequada:
deserto verde. Isso porque entre os mais variados e agravados impactos
socioambientais dessa prática, está o rápido desaparecimento de fontes de água
nas regiões de plantio. Brasil afora, o MST vem travando grandes batalhas
contra a ação predatória das empresas de celulose, responsáveis pela
monocultura.
A situação no
estado do Maranhão se destaca pela quantidade de conflitos gerados pela
expansão da empresa Suzano Papel e Celulose, que chegou na região em 2008. Na
ocasião da assinatura do decreto que autorizava a instalação da empresa no
estado, seus dirigentes destacavam as vantagens de operar na região: a grande
oferta de mão de obra, terras próprias para a agricultura e água em abundância.
Menos de dez anos depois do começo das operações, a agricultura familiar da
região sofre com a falta d’água e com a drástica redução da mata nativa do
cerrado, provocada por desmatamentos de áreas de até 15 mil hectares. E no que
se refere à tão esperada geração de empregos deu lugar à terceirização e
mecanização de atividades.
Segundo Edivan
Reis, da Direção Naiconal do MST, “A região está sendo destruída por essa
prática, acabando com a flora, com as frutas do cerrado, e claro, a vida de
toda a população”.
Em outubro de 2016,
a Justiça Federal decidiu acatar um pedido do Ministério Público Federal para
proibir novos cultivos de eucalipto na região do cerrado maranhense, sob pena
de multa diária de 50 mil reais. A ação movida pelo MPF contra a empresa
Suzano, o Estado do Maranhão e o Ibama, atendeu ao reclamo de cerca de 63 famílias
que luta há anos para proteger cerca de 1.665 hectares de cerrado nativo, onde
a monocultura do eucalipto ainda não chegou. A denúncia foi baseada em um
estudo elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão, no qual
são feitos apontamentos sobre os graves impactos da produção de eucalipto ao
ambiente e às formas de vida das comunidades locais, provocados pelos grandes
empreendimentos de plantio de eucalipto na região.
“Para nós do MST
essa decisão é muito importante, embora tenha vindo tarde, porque já são quase
dez anos que essas práticas existem. Essas grandes empresas chegaram, se
apropriaram da terra por meio de grilagem, expulsando os camponeses da região e
colocando a todos em uma situação de vulnerabilidade, destruindo a cultura e a
economia camponesa na região”, comenta Edivan.
A área sobre a qual
incide a ação do Ministério Público Federal fica na divisa com o estado do
Piauí, conhecida como Baixo Parnaíba. Ocorre que a empresa Suzano também opera
em outra região, no sul do estado, próximo à cidade de Imperatriz, segunda
maior do Maranhão. Só nessa região há conflitos envolvendo a Suzano Papel e
Celulose com pelo menos dez comunidades, a maior parte delas, assentamentos da
Reforma Agrária. A população rural da região reclama quanto da infraestrutura
das estradas, que ficam totalmente comprometidas pela passagem de caminhões
cargueiros. Em períodos de chuva, algumas comunidades ficam isoladas, enquanto
a empresa se nega a assumir a responsabilidade sobre o assunto. Ainda na região
sul do estado, os moradores denunciam que a empresa segue ocupando ilegalmente
terras de comunidades rurais e assentamentos.
De norte a sul do país
Assim como a região
do cerrado maranhense, outras regiões do Brasil sofrem com os mesmos graves
problemas causados pela monocultura do eucalipto. É o caso do Espírito Santo,
onde a empresa Fibria – antiga Aracruz – já ocupa mais de 350 mil hectares com
o cultivo da planta. Nessa região, além dos produtores rurais, comunidades
indígenas e quilombolas ainda brigam pelo reconhecimento de suas terras,
invadidas ilegalmente pela indústria da celulose. Situação semelhante ocorre em
outros estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí e Mato Grosso do Sul.
Segundo dados de
uma investigação conjunta entre a ONG Repórter Brasil e o Instituto Rosa
Luxemburgo, só a região sudeste concentra 55,8% de todo o eucalipto plantado no
país. O estado com maior concentração é Minas Gerais, com cerca de 1,4 milhão
de hectares de plantio. Em todo o país, a área de monocultura do eucalipto
ocupa 6,5 milhões de hectares, de norte a sul. E há planos de expansão. Segundo
esse mesmo estudo, o Governo Federal pretende triplicar essa área nos próximos
20 anos, através de créditos e financiamentos às empresas de celulose, que
chegaram à ordem dos oito bilhões de reais entre 2009 e 2011.
Enquanto os
pequenos produtores rurais sofrem os efeitos da monocultura do eucalipto, o
valor bruto da produção de celulose no Brasil chegou aos 51, 8 bilhões de reais
em 2010. Em 2017, mesmo com a crise econômica no seu auge, somente a Suzano
Papel e Celulose teve um lucro líquido de 1,6 bilhão de reais