Foi anunciada na
noite desta terça-feira, 21, a venda da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do
Atlântico (TKCSA) para a empresa Ternium. O preço de compra foi de 1,5 bilhão
de euros (R$ 4,9 bilhões) e incorpora na cifra a dívida de 300 milhões de euros
que a TK tem com o BNDES. A siderúrgica opera em Santa Cruz desde 2009 e só
recebeu a licença de operação definitiva no ano passado. A operação de venda da
TKCSA, que ainda precisa ser autorizada pelo Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), será concluída entre os meses de julho e setembro deste ano,
uma vez que sejam definidos os bancos que financiarão a aquisição.
Moradores de Santa
Cruz, impactados pela ação da empresa, receberam com preocupação a notícia. “A
gente foi pego de surpresa. Tem que vê se o grupo que comprou vai arcar com os
prejuízos. A poeira continua, todo mundo doente, os pescadores sem trabalhar. E
aí, como fica?”, questionou a dona de casa Maria Regina, moradora da região
próxima à empresa.
Em 2010, no início
da operação da TKCSA, Regina e seus vizinhos, moradores do Conjunto São
Fernando, no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, tiveram as
casas inundadas por uma enchente. Ela faz parte de um grupo de cerca de 300
moradores que movem ações judiciais na Defensoria Pública do Estado do RJ
cobrando reparações pelos seguintes danos: rachaduras nas casas próximas à
linha do trem, interrupção da pesca artesanal, enchente no canal do São
Fernando e agravamento dos problemas de saúde provocados pela Chuva de Prata.
“Meu conjunto ficou uma semana debaixo d’água. Prejuízo imenso, aquela água
suja. E até agora nenhuma reparação”, lembra.
Gabriel Strautman,
da coordenação do Instituto
Pacs, explica que a TKCSA é uma espécie de modelo do que não deve
ser feito em se tratando dos trâmites legais e éticos no âmbito da cadeia de
mineração. “A gente costuma dizer que esse é um caso emblemático porque ele é
problemático em todo o processo. Primeiro que a empresa, maior siderúrgica da
América Latina funciona produzindo em larga escala, com alto impacto
socioambiental, e só foi obter licença do órgão ambiental no ano passado, após
sete anos de sua instalação”, lembra. O Instituto Pacs assessora os
moradores/as impactados pela ação da empresa desde a instalação.
“Além disso, a
TKCSA não chegou a cumprir totalmente o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC),
no que diz respeito a, por exemplo, realização de um estudo epidemiológico para
avaliar os impactos sobre a saúde dos moradores impactados e a instalação de
uma unidade sentinela voltada para suprir demandas de saúde da população”,
completa Gabriel.
O diretor executivo
da empresa, Heinrich Hiesinger disse que caberia ao novo comprador a herança de
todo o passivo sócio-ambiental deixado pela Thyssenkrupp em Santa Cruz, assim
como as implicações legais relacionadas às ações de reparação. A declaração foi
feita durante a última assembleia de acionistas do Grupo Thyssenkrupp,
realizada em janeiro deste ano.
Quem é a Ternium?
Fundada em 1961, a
Ternium é uma empresa familiar controlada pelo empresário argentino Paolo
Rocca, detentor de 70% das ações. Apesar de sua origem argentina, a empresa
possui sede tributária e comercial em Luxemburgo. Em 2016, a Ternium obteve um
lucro de US$ 707 milhões, aumentando em quase 11 vezes os US$ 60 milhões
obtidos em 2015. É uma das principais produtoras de aço da América Latina
atuando no México, Argentina, Colômbia e Guatemala. Não é a primeira vez que a
empresa, que já é sócia da Usiminas ao lado da Nippon Steel,tenta investir em
siderurgia no Rio de Janeiro.
Em 2012, a Ternium desistiu de construir na região do Porto
do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense, uma unidade de
beneficiamento de minério de ferro e uma usina siderúrgica. A decisão foi
tomada alguns meses após o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
(MP-RJ) suspender através de uma ação civil pública as licenças ambientais das
obras de implantação da siderúrgica. De acordo com o MPRJ, ao entrar em operação, a siderúrgica
lançaria poluentes com propriedades cancerígenas na atmosfera, como o benzeno.
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Imagem: TKCSA, em
Santa Cruz (RJ), apontada como causa do aumento em 78% da emissão de CO2 no Rio
de Janeiro / Foto: arquivo Pacs
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