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São Luís, Maranhão, Brazil
Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

domingo, 5 de junho de 2011

Usina termoelétrica do Itaqui usará carvão menos poluente

Quando a MPX anunciou que construiria uma termoelétrica em São Luís para queimar carvão a grande pergunta era: será que a cidade ficará poluída pela emissão dos gases resultantes do processo de geração de energia?
O presidente da MPX Itaqui, Edio Rodenheber, garantiu que isso não é um preocupação porque a empresa escolheu queimar um tipo de carvão mineral com baixo número de oxidação (nox), ou seja, gera menos resíduos do que ouros tipo de carvão.

"Compramos uma mina na Colômbia que tem um tipo de carvão que gera baixo nox. De qualquer forma hoje Nova York é cerca de termoelétricas e as pessoas convivem com esta forma de gerar energia elétrica.A Europa e o resto dos Estados Unidos também tem termoelétrica a carvão. Há muito preconceito com o carvão por causa de filmes como tempos modernos, mas já não mais nada daquilo. Hoje há tecnologia para mitigar as emissões", disse.

Ainda na fase de projeto do empreendimento, os técnicos da empresa passaram a pesquisar tecnologias para diminuir a emissão de resíduos durante a queima do combustível. Rodenheber garantiu que e escolha recaiu em cima de queimadores do tipo "Low Nox", ou seja, que liberavam amenos enxofre e menos nitrogênio do que outros tipos de queimadores.

"Estamos usando todos os tipos de tecnologia para mitigar as emissões. Vamos fazer investimentos em captura de carbono. Estamos pesquisando onde investir nesse sentido e procurando tecnologias para adotar", comentou.
O projeto da MPX no Itaqui está orçado em R$ 1,8 bilhão, está empregando cerca de 3400 operários na obra e deverá entrar em operação até o dia 15 de novembro. Hoje a empresa está terminando a montagem da turbina e da caldeira que serão usados para gerar 360 megawatts de energia elétrica. O suficiente para iluminar uma cidade com um milhão de habitantes.

Parâmetros
Outro bom motivo para adotar a estratégia e investir em tecnologias com baixa emissão de nitrogênio e enxofre é o fato da empresa ter recebido uma linha de financiamento do Banco Mundial (Bid) que tem diretrizes de meio ambiente para plantas termo elétricas mais rígidos que a legislação nacional.

Enquanto a legislação brasileira - Resolução n° 8 dom Conselho Nacional de Meio Ambiente - permite emitir até 500 partículas por miligramas por metro cúbico (PM mg/nm³) a proposta da empresa é emitir apenas 50 PM mg/nm³, o mesmo exigido pelo Bid, que tem regras mais severas.
O mesmo vale para dióxido de enxofre e para o óxido de nitrogênio. Para o primeiro a proposta é emitir apenas 400 mg/nm³, quanto a exigência nacional é 1250 mg/nm³. E o segundo o parâmetro adotado é 510 mg/nm³.
"O nosso condicionamento ambiental só nos permite emitir 1% de enxofre e apenas 7% de cinza. Vamos usar tecnologia a nossa favor. A planta tem filtros que vão reter a maior parte dos particulados", finalizou Rodenheber.

R$ 2 mi para monitorar
o ar de São Luís
A MPX não é a única empresa industrial que atua em São Luís a ter preocupação com a qualidade do ar da capital. A Vale, que tem uma usina de pelotização instalada na região do Anjo da Guarda e que funciona há cerca de 10 anos, matem um projeto de moniotramento do ar em conjunto com o governo estadual.

A mineradora investiu cerca de R$ 2 milhões, desde 2010, na aquisição de três estações para acompanhar a qualidade do ar. A idéia era montar uma rede de monitoramento com sistema de software de alta tecnologia, utilizados hoje em todo o mundo para esse tipo de controle.
"Com este projeto, o objetivo da Vale é ampliar uma ação que consideramos extremamente benéfica para a cidade e seus moradores. Estamos monitorando continuamente o índice de qualidade do ar (IQA) de São Luís, cujos resultados preliminares já indicam estar em um patamar considerado muito bom.", disse o gerente de Meio Ambiente da Vale, Roosevelt Corso.

Estes equipamentos coletam dados como temperatura, direção e velocidade do vento, material particulado, precipitação pluviométrica e níveis de ozônio e gás carbônico. A estrutura física da estação é uma espécie de contêiner, que tem 6 metros por seis metros, e abrigará monitores de gás e material particulado nos quais será implantado o software SIA ATMOS.
Os equipamentos foram colocados em três pontos estratégicos: o comando da Polícia Militar, no Calhau; Corpo de Bombeiros, no Centro; e a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), no São Cristóvão. Os três locais escolhidos para instalação do sistema foram determinados por meio de modelagem matemática, que é padrão neste tipo de estudo de monitoramento;

O fluxo de comunicação da rede é formado pelas informações coletadas nos monitores instalados nos três pontos estratégicos da cidade, que são repassadas para um centro que supervisiona as informações e, em seguida, encaminhadas para computadores da empresa.
Até o fechamento desta edição a reportagem de O Imparcial não havia conseguido entrar em contato com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), que é responsável pela compilação dos dados das PCD's do projeto de monitoramento da qualidade do ar de São Luís.

OLHO
"Estamos usando todos os tipos de tecnologia para mitigar as emissões"
Edio Rodenheber, presidente da MPX

"Resultados preliminares já indicam estar em um patamar considerado muito bom"
Roosevelt Corso, gerente de Meio Ambiente da Vale

NUMERALHA
R$ 1,8 bilhão é o valor do investimento que a MPX está fazendo para construir a termoelétrica do Itaqui, em São Luís
360 megawatts é o potencial de geração de energia elétrica da usina termoelétrica da MPX de São Luís
R$ 2 milhões é o investimento feito pela Vale em uma rede de moniotramento da qualidade do ar em São luís

Perfil da MPX
A MPX é uma empresa diversificada de energia com negócios complementares em geração elétrica, mineração de carvão e exploração e produção de gás natural na América do Sul. A companhia tem um amplo portfólio de empreendimentos de geração térmica, que excede 11 GW de capacidade, posicionando-a estrategicamente para se tornar uma empresa privada líder no setor.A MPX possui também ativos de classe mundial de carvão de baixo nível de emissões na Colômbia, com recursos potenciais superiores a 4 bilhões de toneladas, suficientes para uma produção de 35 milhões de toneladas por ano, e com infraestrutura integrada, que inclui uma ferrovia de 150 km das minas à costa e um porto de águas profundas.
Imparcial

Ernesto Batista
Publicação: 05/06/2011 09:09 Atualização: 05/06/2011 09:33

São Luís precisa melhorar gestão de suas águas superficiais e subterrâneas

 
O Dia do Meio Ambiente, celebrado hoje, traz à tona uma questão decisiva para o estado: uso da água é um dos maiores problemas do Maranhão atualmente. No ano passado, pesquisa nacional do Instituto Trata Brasil colocou São Luis como a 14ª cidade de mais de 300 mil habitantes com maior percentual de água desperdiçada do Brasil. De um lado, há precariedade no abastecimento de água e recolhimento de esgoto em São Luís e em quase todas as cidades do interior. Por outro lado, há desperdícios como lugares com vazamentos em vias públicas ou na lavagem de automóveis com água tratada. E a água para a população ainda precisa ser dividida com as indústrias, que também utilizam os recursos hídricos em larga escala.

O sistema Italuís I começa a ficar velho e a apresentar problemas com os muitos rompimentos. O sistema serviria para abastecer 60% da área metropolitana da capital, mas, como enfrenta uma série de limitações de espaço, volume de canos e estrutura obsoleta, nem sempre consegue atingir essa meta. A solução seria a construção do sistema Italuís II, que duplicaria o atual sistema e daria uma maior cobertura de abastecimento hidráulico à cidade. No entanto, o projeto ainda não saiu do papel. De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), ainda está passando pelo processo de licitação, mesmo tendo sido iniciada a construção de reservatórios no Distrito Industrial. Os rios que abastecem a cidade, como o Rio Paciência e reservatório do Batatã, estão poluídos ou sobrecarregados.

Os poços artesianos, apresentados como uma alternativa viável, começam a se salinizar, e não se mostraram tão viáveis assim: a perfuração clandestina desses poços e a má utilização dos recursos dessa fontes podem reduzir o volume de água nos lençóis freáticos da cidade, e contribuir para a invasão de água salgada no meio subterâneo. Essa preocupação partiu do geólogo Carlos Borromeu, da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), que estuda o assunto alertou para a identificação desse problema em alguns poços de São Luís. Ele declarou que, em dez anos, é possível que São Luis enfrente graves problemas por conta da falta de recursos hídricos nos lençóis freáticos.

"Quando se ataca o meio ambiente em uma determinada área, o problema se expande para outros locais. E, se a própria população destrói o meio ambiente em determinado local, e o poder público se omite na questão, as conseqüências são graves e o problema pode demorar anos para ser resolvido", avaliou um dos dirigentes do Sindicato dos Urbanitários de São Luis, José Braga Neto. Para ele, o sistema de abastecimento de São Luís está muito abaixo do ideal, apesar de melhorias e manutenções no sistema Italuís promovidas pela Caema. Ele apontou como uma das soluções a construção imediata do Sistema Italuís II, que teria de duplicar o atual sistema. "Com isso, é possível aumentar o percentual de só 60% da área metropolitana sendo abastecida pelo sistema Italuís, além de aumentar a qualidade do abastecimento, incluindo o Distrito Industrial", declarou.

Além do sistema Italuís, o tratamento de esgoto da capital também apresenta déficit. No ano passado, técnicos da Caema, em entrevista a O Imparcial, informaram que as duas principais Estações de Tratamento de Esgoto, a do Bacanga e a do Jaracati, não estavam funcionando com a totalidade da potência. A estação do Bacanga estaria funcionando com menos de 20% do total, e a do Jaracati, com cerca de 60% do total. A Caema informou que tem trabalhado para aumentar a malha de canos e interceptores de São Luis, o que faria aumentar a qualidade e quantidade de abastecimento nos bairros atingidos.

Água sem gestão

A falta de gestão representa um dos principais impasses ambientais com relação à água no Maranhão. A afirmação é da representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CONERH), Sueli Gonçalves. Segundo ela, aqui, qualquer pessoa que quiser tirar água de um rio ou de uma nascente para qualquer fim pode fazer isso, desde que a água não esteja dentro de uma reserva ecológica. Com isso, há um descontrole por parte dos órgãos ambientais sobre o modo como essa água está sendo utilizada, o que sobrecarrega nascentes e lençóis freáticos e causa danos irreparáveis à fauna, flora e a todo o ecossistema em volta.

O problema parece estar sendo resolvido. No último dia 20 foram empossados 27 conselheiros do Conselho Estadual de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos do Maranhão, que, até então só existia no papel. Com os conselheiros empossados, o conselho deverá criar comitês gestores para cada bacia hidrográfica presente no Maranhão. É tarefa desses comitês o planejamento a melhor forma de lidar com aquela bacia, o que permitir e o que liberar na extração daquela água. O Maranhão é um dos últimos estados a adotar essa política de planejamento de utilização da água, que foi criada em nível nacional durante o governo Itamar Franco, em 1994.
Esse conselho terá representantes provenientes da sociedade civil, de instituições particulares e do governo estadual, que decidirão de forma conjunta as medidas tomadas pelo órgão. A primeira medida do conselho foi a criação do Comitê Infanto-Junevil do Rio Jeniparana, na Cidade Operária, onde as crianças tem encontros semanais, e recebem informações e orientações sobre os recursos hídricos do Maranhão, formas de preservação e características ambientais.

Águas subterrâneas

Segundo estudos feitos no ano passado pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas), cerca de 50% da população da ilha de São Luís utiliza a captação de água subterrânea por meio de poços artesianos como forma de abastecer-se. Além disso, 99% do abastecimento industrial também utiliza a mesma forma de captação. Com a enorme demanda, as águas dos poços artesianos acabam secando após um tempo, e o espaço vazio que antes era ocupado por água doce começa a receber água salgada.

É assim que acontece a salinização dos poços artesianos. Para isso não ocorrer, é necessário fazer o teste de vazão do poço no momento da perfuração. Só através disso é possível verificar a quantidade de água que poderá ser retirada diariamente do poço. Além disso, a perfuração deve seguir normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o que nem sempre ocorre. Sem a utilização das técnicas, aumenta a chance de contaminação do lençol freático, inutilizando a água. Outro fator que também contamina os lençóis subterrâneos é a presença de lixões e esgotos estourados próximo às reservas de água.

Dia para reflexão

O Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado em 5 de junho. A data foi recomendada pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo, na Suécia. A conferência reuniu 113 países, além de 250 organizações não governamentais, onde a pauta principal abordava a degradação que o homem tem causado ao meio ambiente e os riscos para sua sobrevivência, onde a diversidade biológica deveria ser preservada acima de qualquer possibilidade. A importância da data é devido às discussões que se abrem sobre a poluição do ar, do solo e da água; desmatamento; diminuição da biodiversidade e da água potável ao consumo humano, destruição da camada de ozônio, destruição das espécies vegetais e das florestas, extinção de animais, dentre outros. Por meio do decreto 86.028, de 27 de maio de 1981, o governo brasileiro também decretou no território nacional a Semana Nacional do Meio Ambiente.
 
Imparcial
 
 

Daniel Fernandes

Quilombolas ocupam sede no Incra no Maranhão

Cerca de 100 moradores de áreas quilombolas do Maranhão montaram acampamento na parte interna da sede do Instituto Nacional e Colonização e Reforma Agrária (Incra), no bairro Anil, durante a noite da última sexta-feira. Eles reivindicam agilidade nos processos de titulação de áreas quilombolas e justiça em casos de assassinatos e outros crimes contra a população dessas áreas no estado.

A equipe de reportagem de O Imparcial esteve no local e conseguiu conversar com um dos manifestantes, apesar de a segurança do instituto não permitir a entrada da imprensa nas dependências do Incra. De acordo com Fábio Costa, representante da Comissão Pastoral da Terra, ainda não há uma definição sobre o destino do movimento, e que somente nesta segunda-feira as lideranças devem se manifestar sobre o assunto, em entrevista coletiva. 'Estamos esperando a resposta do movimento lá em Brasília. Só depois disso é que vamos tomar alguma decisão. Por isso, vamos dar alguma resposta só na segunda-feira', disse Fábio Costa.

O Incra não dispõe de infraestrutura suficiente para atender as reivindicações dos quilombolas. Não há equipes suficientes de antropólogos para a elaboração dos relatórios sobre as áreas quilombolas. Ainda na última sexta-feira os manifestantes mandaram uma pauta de reivindicações para a direção nacional do Incra, em Brasília, sobretudo sobre as titulações das terras quilombolas. A equipe tentou contato com o representante local do Incra até o fechamento desta edição, mas não obteve êxito.

Memória
Integrantes de cerca de 30 comunidades quilombolas do estado fizeram na última quarta-feira uma manifestação e acamparam em frente à sede do Tribunal de Justiça, no Centro. O protesto com cartazes e cruzes de madeira foi para denunciar a impunidade em relação aos casos de violência no interior do estado e conflitos por posse de terras, omissão dos governos federal e estadual e "atitudes suspeitas" do poder judiciário.
"Este tipo de manifestação serve para que o Judiciário seja questionado, trazendo a tona esta impunidade que assola não só o município de São Vicente Ferrer, mas, toda a região da Baixada e a maioria dos territórios quilombolas. É tudo de demorado, não há justiça, e estes pobres líderes ficam jogados a própria sorte, a mercê da insegurança.

Quando são apontados os mandantes, não há cumprimento da lei", disse o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão, Chico Sales.

Mortes
De acordo com informações, houve mais uma tentativa de assassinato na sexta-feira retrasada contra Almirandir Ferreira Junior, vice-presidente de comunidade, em São Vicente Ferrer. Ele e familiares foram acuados em casa. Houve disparos contra eles. Houve recentemente mais casos que resultaram em assassinatos de lideranças quilombolas. Caso de Flaviano Pinto Neto, líder da comunidade do Charco, em São Vicente Ferrer. Ele foi assassinado com sete tiros na cabeça, no dia 30 de outubro de 2010. Este é um dos motivos de revolta da comunidade quilombola.

De acordo com as investigações da polícia, Flaviano foi assassinado a mando dos irmãos Manoel e Antonio Gomes, respectivamente empresário do município de São João Batista, e vice-prefeito do município de Olinda Nova. Os acusados tiveram prisão preventiva decretada. Logo em seguida o tribunal de Justiça revogou a decisão. Eles foram liberados. Segundo Diogo Cabral, representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB, o Tribunal de Justiça entendeu que não havia necessidade de mantê-los presos e que esperam uma atitude da superintendência nacional do Incra para cumprir a titulação de terras das áreas quilombolas.

Palavra do especialista // Luiz Pedrosa
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA), Luiz Pedrosa, a resolução dos problemas envolvendo os quilombolas do estado está nas mãos do poder judiciário e do próprio Incra. O primeiro, no sentido de punir os acusados de assassinar quilombolas. Já o instituto, agilizando os processos de titulação das terras quilombolas do estado.

'Essas mobilizações acontecem porque os órgãos estadual e federal têm muita dificuldade em atender as demandas dos povos quilombolas do Maranhão. Os protestos de títulos de áreas quilombolas se arrastam por muito tempo e os conflitos fundiários se agravam. Em várias situações o próprio judiciário agrava esses conflitos ao conceder liminares e deixando soltos acusados de assassinato de quilombolas. É necessário que aconteçam duas coisas: a agilidade nessas titulações e a punição aos acusados de ameaçar e matar quilombolas', disse.

por Adalberto Júnior
Imparcial

 

"Novos assassinatos vão acontecer"

A afirmação feita pelo governador do Pará mostra como o poder público lava as mãos e admite não ter competência para proteger brasileiros marcados de morte por pistoleiros

Fabiana Guedes

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DOR
Familiares e amigos no enterro dos ativistas José Cláudio
Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santos, em Marabá (PA)
Na última semana o poder público se esmerou em buscar origens distantes, analisar complexos problemas estruturais e imaginar peculiaridades antropológicas e culturais para explicar uma questão objetiva: por que não consegue dar proteção a ativistas jurados de morte. Um País que, no passado, viu a morte de Chico Mendes e Dorothy Stang e, nos últimos dias, de cinco lideranças ligadas à defesa da Amazônia debruça-se, agora, sobre a discussão de um plano de ação que não merece grande crédito nem das autoridades envolvidas.

Em entrevista à ISTOÉ (leia abaixo), Simão Jatene (PSDB), ­governador do Pará, Estado recordista em assassinatos e conflitos no campo, se declarou pessimista sobre o futuro. “Tenho uma só certeza: da maneira como essas coisas têm historicamente ocorrido, o final não é feliz,” declarou. “Novos assassinatos vão acontecer” disse ele. Na mesma linha de resignação, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, en­tende que já é um imenso avanço o Brasil ser “o único país do mundo com um programa de proteção aos defensores dos direitos ­humanos”.
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“Viver sob escolta é uma violação aos direitos humanos”
Maria do Rosário, ministra dos Direitos Humanos
A resposta do Estado brasileiro ao faroeste amazônico é pouco mais que retórica. Um grupo interministerial foi criado na segunda-feira 30 para acompanhar a investigação das últimas mortes ocorridas nas regiões de conflito e acelerar ações de regularização de terras. Como o governo se declarou incompetente para dar proteção a uma lista de 165 ativistas jurados de morte por fazendeiros, foi adotada uma solução mambembe. A Polícia Federal foi convocada para proteger os 30 líderes mais vulneráveis. “Seria ilusório dizermos que vamos proteger todas essas pessoas. Não poderia prometer isso ao Brasil,” declarou Maria do Rosário. Ela chega a alegar que “viver permanentemente sobre escolta é uma violação aos direitos humanos”.

Quem vive sob o medo pensa o contrário. A sindicalista de Rondon do Pará, Maria Joel Dias da Costa, 48 anos, desabafa: “Estamos sozinhos nessa luta.” Desde o assassinato de seu marido, o ativista José Dutra da Costa, em 2000, e de outros três amigos nos anos seguintes, ela sabe que pode ser a próxima vítima. Seu nome consta na lista dos “marcados para morrer” elaborada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e entregue ao poder público. Mas Maria segue desamparada. A garantia de sua vida parece ser uma impossibilidade administrativa.
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O ESPAÇO TAMBÉM NÃO PÁRA

As pessoas que gostam do ambiente musical brasileiro da década de 1980, com certeza, já ouviram o poeta e ex-vocalista do Barão Vermelho: Cazuza. Um dos mais eruditos compositores e cantores da música tupiniquim cantarolou músicas/poemas como “Ideologia”, “Codinome Beija-Flor” e “o Tempo não pára”. Mas, deixemos a música de lado e centremos na frase o “tempo não pára”.
O meu argumento neste pequeno ensaio é de que também o espaço não pára. O tempo/historicidade enquanto dimensão da teoria social crítica foi durante muito tempo estudado e analisado como sendo o único veículo do movimento, da mudança, da dialética. Na outra ponta, o espaço foi tratado e percebido, como bem disse Michel Foucault e reafirmado por Edward Soja e Doreen Massey, como o estanque, reacionário, estático, morto.
Mas por que e como advogar e argumentar que o espaço é detentor de todas estas características geralmente associadas apenas à dimensão temporal? O exercício intelectual deve ser feito pensando o espaço tal qual político, mutável e instância/dimensão da sociedade. A dialética aqui é tripla entre espaço-tempo-sociedade. Pensar o espaço como sendo político significa pensá-lo como âmbito da luta pelo poder, mas também como instância que impõe limite a todas as esferas da vida.
Enquanto âmbito de luta pelo poder, ele, o espaço, transforma-se no lócus de disputas por formas de pensá-lo (o espaço) e também de representá-lo (não nos esqueçamos que o próprio Michel Foucault adverte-nos de que para que se tenha representação, e não somente, apresentação, é elementar existir a relação). Diferentes atores e agente sociais, modernos ou subalternos, outros ou “não-outros”, estabelecidos ou outsiders, pensam, representam vivem, produzem espaço conforme as suas cosmologias, visões de mundo, atividades produtivas, míticas ou simbólicas, materiais ou ideológicas. Ele, o espaço, molda a nossa política, mas não no sentido de ser um cenário ou receptáculo das ações humanas sobre a Natureza, mas sim como uma instância da sociedade fundamental para ela ser marcada e deixar as marcas no mesmo, e sem o qual a historicidade dificilmente materializa-se.
A mutabilidade do espaço parte do pressuposto de que os homens mudam. Os homens mudam porque a sua a vida não é pré-determinada ou determinada por uma dimensão eterna, atemporal, uma linha reta sem qualquer possibilidade de desvio. O homem, ao longo do tempo e do espaço nos deu provas substancias e materiais de que, até mesmo as ideias, mudam. Dotado de “criação-destrutiva” ele edifica cidades, produz natureza, enfim, ele muda. Dessa forma, o espaço não se torna exclusivamente o veículo da mudança ou o receptáculo de recebimento das ações humanas, e sim morada e prisão, reflexo e energia substancial para que a própria mudança ocorra. Ele é ilimitado e com limites.