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Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

‘Vocês não vão matar o Rio Pindaré como mataram o Rio Doce’

Índios Guajajara, Awá Guajá e Ka’por se unem para recuperar o que a mineradora Vale devorou nas últimas três décadas
Por Sabrina Duran, especial para a RBA
São Paulo – Bruno nasceu seis anos depois da chegada do Dragão de Ferro à sua comunidade, e por isso não se lembra de como ela era antes da devastação provocada pelo monstro. Seus parentes mais velhos dizem que muita coisa era diferente: a mata era abundante, assim como os animais que viviam nela e serviam de alimento aos antepassados de Bruno. Os peixes, que antes davam e sobravam para alimentar milhares de pessoas, foram sumindo dos igarapés quando os cursos d’água começaram a ser interrompidos ou dificultados por contínuos assoreamentos – ganancioso, o Dragão de Ferro empurra para longe toda terra, casa e gente que esteja no caminho do seu crescimento.
A Estrada de Ferro Carajás (EFC), chamada de Dragão de Ferro pelas populações impactadas por ela, teve sua construção iniciada em 1982 e concluída em 1985. A estrutura ferroviária tem 892 quilômetros de extensão, partindo da mina de Carajás, no sudeste do Pará, até o Porto de Ponta da Madeira, em São Luís, capital maranhense. Ela corta 27 municípios, sendo quatro no Pará e 23 no Maranhão, entre os quais Santa Inês, onde fica a aldeia Januária, da qual Bruno Caragiu Guajajara, de 26 anos, é cacique.
Além da Januária, outras sete aldeias fazem parte da Terra Indígena (TI) Rio Pindaré. Com 15.225 hectares e 303 famílias no território, a  TI  é uma das afetadas pela Estrada de Ferro Carajás, cujos trilhos passam a cerca de 12 quilômetros do território. A TI Caru, segundo Bruno, sofre ainda maiores impactos, já que os trilhos da EFC passam a apenas 50, 100 metros do território. Ao todo, nos 27 municípios cortados, cerca de 100 comunidades indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, camponeses, pescadores e também bairros urbanos são impactados.
A construção da ferrovia está inserida no contexto do Programa Grande Carajás (PGC), maior projeto de exploração mineral do país, idealizado nos anos 1970 durante a ditadura civil-militar pelo governo do general João Baptista Figueiredo. A exploração, encampada pela antiga Companhia Vale do Rio Doce, que passou a se chamar Vale S.A. após a privatização em 1997, incide sobre terras do Maranhão, Pará e Tocantins, perfazendo um total de 900 mil quilômetros quadrados, que corresponde a um décimo do território brasileiro.
Segundo dados da própria Vale, são transportadas anualmente 120 milhões de toneladas de cargas, sendo a principal o minério de ferro extraído de Carajás, que viaja em 330 vagões – com 3,3 quilômetros de extensão ao todo – sem qualquer proteção. O minério que passa a céu aberto nos trens da Vale é o “rastro de destruição” deixado pelo Dragão de Ferro nas comunidades que atravessa.
O pó de minério que cai dos vagões polui rios, igarapés, matas e o ar respirado pelas pessoas que estão na área de influência da EFC; o trepidar das locomotivas provoca rachaduras nas casas. Já a “zoada” dos trens, na fala dos moradores, assusta crianças e idosos e espanta das matas os animais que servem de alimento à população. E o pior: ano após ano, os trens da Vale passam por cima de pessoas e animais.
Quando parado nos trilhos, por horas ou dias, o trem com 330 vagões forma uma barreira de mais de três quilômetros, impedindo a travessia de pedestres que precisam chegar do outro lado da linha férrea para acessar escola, trabalho, mercado, hospital, rios, roças, igarapés, a casa de vizinhos e parentes. Sem alternativa segura e acessível para atravessar, adultos, jovens e crianças se veem obrigados a passar por baixo do trem para chegar ao outro lado ferrovia. Qualquer mínimo movimento da composição e o contato com o corpo pode ser fatal – um único vagão pesa cerca de 80 toneladas.
Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), entre janeiro de 2012 e junho de 2017, atropelamentos e abalroamentos causaram a morte de 28 pessoas nos trilhos da EFC e feriram outras 21, entre elas, um bebê que teve o braço amputado; a mãe da criança perdeu um dedo.
Espiritualidade
Com a chegada da EFC em 1982, a cultura e a espiritualidade das populações indígenas locais também foram afetadas. “A gente sofreu até na parte cultural. 50% do povo da Pindaré fala português e o restante fala a língua indígena. Já não domina a língua materna. Isso a gente tem sofrido muito. Em relação à espiritualidade são poucos hoje que praticam, mas a gente tem sim os momentos de ritual, a festa da Menina Moça, a Festa do Mandiocal, a Festa da Criança, que a gente tá em um momento de espiritualidade com nossos ancestrais que nos protegem hoje. Acredito que 50% dessa perda, tanto da floresta, dos animais e da cultura, tem a ver com o empreendimento da Vale. Se você andar daqui de Santa Inês até Tufilândia, que faz limite com a terra indígena, tem populações pobres, que veem o minério passando todo dia. É uma riqueza muito grande? É, mas às vezes eles não têm acesso a nada. E onde ele vai procurar? Dentro da Terra Indígena. Ele vai caçar dentro da TI, ele vai pescar, retirar madeira dentro da TI. Quando veio a ferrovia, o empreendimento, as pessoas pensaram ‘bom, vai ter muito trabalho’, e vieram morar perto da ferrovia. Com isso os brancos foram casando com as índias, e pronto, começou a mestiçagem, e com tudo isso fomos perdendo o vínculo. Também por conta da BR 316, com o fácil acesso do branco, a gente perdeu muita coisa”, explica Bruno Guajajara.
Informação
A falta de acesso à informação e à participação popular “promovidas” pela Vale e pelo poder público são fatores críticos para o bem estar das populações afetadas pela EFC. De acordo com Bruno Guajajara, entre 2010 e 2017, a Fundação Nacional do Índio (Funai) foi a responsável por implementar um Termo de Cooperação e Compromisso nas Terras Indígenas. A Funai levava à Vale as demandas das comunidades indígenas por mitigação dos impactos causados pela mineradora e aplicava nas comunidades as verbas de compensação repassadas pela empresa. De acordo com Bruno, ao longo desses sete anos, cerca de R$ 7 milhões foram repassados pela mineradora à Funai. “Durante os anos que tivemos a Funai à frente de tudo isso a gente não se sentiu representado; a gente não tem quase nada na comunidade indígena”, revela o cacique.
Em meados de 2016, Bruno e outras lideranças do território decidiram reverter a situação de falta de participação que deixava as comunidades em um lugar de submissão às decisões da mineradora e da Funai.
“A gente deixou a Funai um pouco de lado dentro do Termo (de Cooperação e Compromisso). Foi muito dinheiro pra mão da Funai, e a gente entendeu que as associações tinham condições de gerir esse dinheiro. Inclusive na assinatura (do Termo) tem os nomes das lideranças e das associações. A gente se juntou com os parentes Ka’por, os Guajajara da (Terra Indígena) Caru e os Awá, a gente começou a brigar mesmo e conseguiu. São três associações comunitárias, uma da Pindaré, da Caru e dos Ka’por. Os Awá não têm associação, mas já estão pleiteando pra poder gerir esse dinheiro”, contou o cacique. Segundo ele, se dependesse da Vale, ela “continuaria o acordo junto com a Funai dizendo ‘olha aqui, indígena, isso aqui é pra você'”, de forma arbitrária e verticalizada.
O Termo de Cooperação e Compromisso firmado entre as comunidades indígenas e a mineradora contempla ações consideradas estratégicas pela comunidade: fortalecimento cultural, saúde, educação, etnodesenvolvimento, sustentabilidade, preservação, fortalecimento institucional das associações indígenas e proteção territorial.
“Isso se deu com muita luta, a gente batalhando. A empresa vai transportar agora indo e voltando, e o prejuízo vai ser maior pra gente”, explica o cacique, referindo-se ao projeto de duplicação da EFC, que vai dobrar o volume de minério transportado. “Hoje, aqui, principalmente nós da Rio Pindaré, 50% do território depende do peixe. Nessa época do ano o rio Pindaré não tava praticamente seco, esse ano ele teve uma enchente boa e acredito que a gente vai ter uma fartura grande. Mas em compensação, eu fico triste porque a gente tá finalizando o inverno (período chuvas) e eles está como se já estivesse no meio do verão (período de seca) por causa do assoreamento. E isso tem preocupado muito a gente aqui no Pindaré. E a gente tá tendo a visão que isso se dá por conta do empreendimento.”
As reuniões de discussão do Termo, segundo Bruno, foram puxadas tanto pelas comunidades quanto pela Vale, mas quem deu “o tom” das conversas e demandas foram os indígenas. Entre eles, foram realizadas diversas reuniões, inclusive duas maiores, que reuniram as quatro Terras Indígenas da região: TI Pindaré, TI Caru, TI Alto Turiaçu e TI Awá Guajá. Por serem reuniões internas das comunidades, a Vale não participou. Apenas na reunião de negociação é que a mineradora foi chamada a discutir com os indígenas em um local conhecido como Sítio dos Padres.
“Uma coisa que eu deixei bem clara (para a Vale) é que eu não ia deixar eles matarem o rio Pindaré igual eles mataram o rio Doce, que é uma coisa bem triste, que prejudicou ribeirinhos, assentados, indígenas, todo mundo que dependia dos rios”, diz o cacique, referindo-se ao desastre ambiental que já é considerado o maior do país.
Em 5 de novembro de 2015, por responsabilidade da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billinton, rompeu-se a barragem do Fundão, na cidade mineira de Mariana, inundando o distrito de Bento Rodrigues com cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração – óxido de ferro, água e lama. A enxurrada tóxica matou 19 pessoas, destruiu centenas de casas, poluiu o solo e avançou sobre a bacia do rio Doce até o litoral do Espírito Santo. Os impactos ao meio ambiente ainda estão sendo calculados, e é grande a possibilidade de que sejam irreversíveis.
“Hoje o Rio Pindaré é um rio que dá um suporte pra gente, a gente tem lazer, a gente tira dali o sustento, uma perda pra nós do Rio Pindaré seria quase que uma morte pra gente”, afirmou Bruno Guajajara.
Ilegalidades
Quando deu início às suas operações, em fevereiro de 1985, a então Companhia Vale do Rio Doce extraía, transportava e exportava de 30 a 35 milhões de toneladas ao ano de minério de ferro. Foram necessárias três décadas para que a empresa triplicasse esse número para cerca de 120 milhões de toneladas ao ano. Agora, com o projeto S11D, que prevê a abertura de uma nova mina na Serra Sul de Carajás, a Vale e o governo brasileiro querem praticamente dobrar o volume de extração, transporte e exportação em um período de apenas três a cinco anos. Para tanto, as estruturas que viabilizam o escoamento estão sendo ampliadas de maneira muitas vezes arbitrária, gerando impactos ainda maiores às populações afetadas.
De acordo com membros da Rede Justiça nos Trilhos, que atua na defesa das populações afetadas pela EFC, a duplicação da ferrovia tem diversas ilegalidades. “O licenciamento do projeto está sendo feito de forma fragmentada, sem audiências públicas, Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) e sem consultas as comunidades.”
Em agosto de 2012, um juiz da 8ª Vara Federal do Maranhão paralisou as obras de duplicação em função das acusações de ilegalidade apresentadas em Ação Civil Pública ajuizada pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão, tendo como réus a Vale e o Ibama. Em julho de 2015, a Justiça Federal do Maranhão, com base numa Ação Civil Pública da Procuradoria da República, concedeu liminar suspendendo a continuidade das obras de duplicação da EFC.
O argumento era que a Vale, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Funai não consultaram o povo indígena Awá Guajá durante o processo de licenciamento da obra, tendo desrespeitado, portanto, a Convenção 169 da OIT, que trata da defesa dos direitos dos povos indígenas e tribais. O artigo 6º da Convenção obriga a “consultar os povos interessados, mediante procedimentos apropriados e, particularmente, através de suas instituições representativas, cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente; e estabelecer os meios através dos quais os povos interessados possam participar livremente, pelo menos na mesma medida que outros setores da população e em todos os níveis, na adoção de decisões em instituições efetivas ou organismos administrativos e de outra natureza responsáveis pelas políticas e programas que lhes sejam concernentes.”
Mesmo com as suspensões e diante das provas de ilegalidade e impactos negativos às populações, a mineradora continua as obras de duplicação em toda a extensão da ferrovia.
Criminalização
Diante das arbitrariedades cometidas pela Vale, indígenas e quilombolas afetados pela EFC recorrem muitas vezes ao bloqueio de estradas e da própria ferrovia como forma de protesto. Em 11 de junho de 2016, indígenas Awá Guajá, da Terra Indígena Caru, bloqueara um trecho da EFC no município de Alto Alegre do Pindaré, um dos mais afetados pela ferrovia e sua duplicação. A acusação era de que a Vale não estava cumprindo os acordos firmados no Plano Básico Ambiental (PBA) previsto por lei para a mitigação dos impactos da duplicação da ferrovia.
Em casos como esse, a estratégia da Vale tem sido criminalizar os manifestantes por meio de pedidos de reintegração de posse junto à Justiça Federal do Maranhão. Foi assim com os Awá Guajá que participaram do bloqueio em junho de 2016; foi assim também com quilombolas que, em setembro de 2015, bloquearam a EFC na altura do quilombo de Santa Rosa dos Pretos exigindo direito ao próprio território e questionando o licenciamento da duplicação da ferrovia.
Na ocasião, mais de 500 pessoas participaram do bloqueio, mas cinco lideranças quilombolas, praticamente “escolhidas a dedo” pela Vale, foram processadas pela mineradora. Em audiência de conciliação realizada no último dia 21 de junho, a Vale, por meio de seu advogado, exigiu que nunca mais, por qualquer motivo, as lideranças quilombolas bloqueassem a ferrovia. “O que acontece é o seguinte: pra gente tem lei e pra Vale não tem. Então o que tão dizendo é pra gente voltar pras nossas comunidades e ficar de braços cruzados esperando a Vale terminar de destruir a nossa vida e o nosso território”, disse à reportagem Anacleta Pires da Silva, uma das lideranças processadas.
Pressão
O PBA da duplicação correspondente ao trecho que passa pela Terra Indígena Pindaré foi assinado em 2016. Segundo Bruno Caragiu Guajajara, a assinatura se deu em meio a pressões da mineradora para que os caciques das aldeias assinassem o documento o quanto antes. “A assinatura foi no ano passado, com alguns indígenas querendo e outros não. Na época eu não era cacique, pelo que eu ouvi a voz era dos caciques e a Vale usou isso como estratégia, no sentido de dizer que tem que aprovar, tem que acontecer, as leis no congresso estão andando e pode mudar de uma hora pra outra as leis ambientais, colocaram pressão. Aí os indígenas cederam à pressão e assinaram. A juventude era contra o PBA. No PBA são 5 subprogramas: fortalecimento cultural, institucional, saúde, proteção territorial e etnodesenvolvimento. Com o PBA a gente queria uma garantia de acesso a bolsa de estudos, porque hoje a gente sabe que o acesso à educação é bem precária, e à saúde também, e a gente sabe que seria compensado ali. A Vale disse ‘não, mas vocês têm que cobrar os órgãos responsáveis, como a Seduc (Secretaria de Educação), mas a gente sabe que dentro disso a Vale também tem uma parcela de culpa, e por isso tinha que ter isso no PBA”, afirma Bruno.
Outra ressalva feita pelo cacique quanto à aprovação do PBA é que o documento é muito grande e tem muitas palavras técnicas. “São poucas pessoas que falam português, a gente precisa repassar a informação.”
Mesmo diante de tantas adversidades e das estratégias da Vale para dificultar o acesso à informação e à participação popular, Bruno diz que sua visão de futuro, tanto como cacique da aldeia Januária quanto como liderança da Terra Indígena Rio Pindaré, é que conseguirão recuperar tudo o que o Dragão de Ferro devorou até hoje. “A comunidade tem que agir como comunidade, tem que brigar por seus direitos como comunidade.”
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Vale para saber detalhes sobre o processo participativo da população na construção do PBA, solicitar atas de reuniões, além de informações sobre o Plano, denúncias de pressão da empresa sobre a comunidade indígena e quantidade de processos de reintegração de posse movidos pela mineradora contra quem faz protestos nas linhas férreas da EFC.
A empresa esquivou-se de responder diretamente à reportagem e disse que todas essas informações estariam no próprio PBA, e que uma cópia digitalizada do mesmo poderia ser enviada pelo Ibama ou Funai. O Ibama informou que o PBA da TI Pindaré foi recebido pela Fundação Nacional do Índio. A Funai foi procurada pela reportagem, mas até o fechamento do texto não havia dado retorno sobre o documento.
Assoreamento do Rio Pindaré é um dos impactos ambientais causados pela mineração da Vale na região. Foto: Nando Cunha


quarta-feira, 26 de julho de 2017

Movimentos bloqueiam entrada da Base de Lançamento de Alcântara no Maranhão


Ato é contra a entrega da Base aos Estados Unidos.
Representantes de movimentos de todo o Brasil bloqueiam as vias que dão acesso ao Centro de Lançamento de Alcântara no Maranhão. O ato é contra a entrega da Base aos Estados Unidos e defende a soberania brasileira.
Desde as primeiras horas desta terça-feira (25), cercas de 400 manifestantes de diversos movimentos e entidades de vários lugares do Brasil bloqueiam os acessos do Centro de Lançamento de Alcântara no Maranhão. Os movimentos denunciam a retomada dos acordos com os Estados Unidos, que pleiteiam a entregara deste centro de lançamento de foguetes.
Os movimentos denunciam ainda a política de entreguismo do governo ilegítimo de Michel Temer, que ao aprofundar o golpe, vem também aprofundando privatizações e outras ações que ferem a soberania nacional.
Além das questões de soberania, a entrega da Base de Alcântara aos Estados Unidos preocupa comunidades quilombolas de Alcântara, pois uma possível ampliação de um programa espacial naquela região pode atingir mais de 200 comunidades de quilombos, provocar remoções e despejos. Várias comunidades já foram removidas nas décadas de 1980 e de 1990, porém as famílias não foram indenizadas.
Os debates em torno da Base de Alcântara já duram mais de três décadas, se iniciando no inicio dos anos 80 com as primeiras instalações do Centro Espacial. No inicio dos anos 2000 o avanço de um política entreguista do Governo Federal ficou claro e muitas manifestações foram desencadeadas por todo o Brasil contra vários projetos entreguistas como: o acordo da Área de Livre Comércio – ALCA; e projetos de entrega do Centro Espacial de Alcântara.
Na Semana da Pátria em 2002, organizações sindicais, igrejas e membros de partidos políticos promoveram o PLEBISCITO POPULAR CONTRA A ALCA. Mais de 10 milhões de brasileiros/as votaram contra a ALCA e contra a entrega do Centro de Lançamento de Alcântara aos Estados Unidos da América. Sendo assim a decisão de retomar os acordos para que os EUA use o Centro de Alcântara é uma traição ao povo brasileiro.
Editado por Rafael Soriano.
Imagem: Reprodução da Página do MST

Pesquisa aponta contaminação da fauna do Rio Doce pela lama da Samarco/Vale-BHP


Por Fernanda Couzemenco, Século Diário
Desta vez foram os girinos (anfíbios em fase larval) da Bacia Hidrográfica do Rio Doce a terem comprovação de contaminação provocada pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana, da Samarco/Vale-BHP, no dia cinco de novembro de 2015.
A comprovação vem do estudo “Girinos como bioindicadores da qualidade da água do Rio Doce”, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia. O último estudo da série contratada pelo Greenpeace, com recursos do coletivo Rio de Gente.
Foi analisada a presença de doze metais – Alumínio, Bário, Cádmio, Crômio, Cobre, Ferro, Manganês, Níquel, Chumbo, Titânio, Vanádio e Zinco – nos cerca de 1.500 girinos, de 24 espécies, levados a laboratório. As coletas foram feitas em 26 pontos, sendo 14 no Espírito Santo e 12 em Minas Gerais, em campanhas feitas nos meses de setembro, novembro e dezembro de 2016.
Os pesquisadores concluíram que os girinos estão bioacumulando metais pesados da lama de rejeitos da mineradora, com potencial para afetar a cadeia alimentar da região, incluindo seres humanos que venham a se alimentar dos peixes do Rio Doce. Destacam que não se trata apenas de Ferro, mas de todos os metais analisados, sejam eles considerados essenciais ou não. “Foram encontradas concentrações muito mais elevadas do que o permitido pela legislação para consumo humano”, afirma Flora Acuña Jucá, professora de Biologia da UEFS, doutora em Zoologia e coordenadora do estudo.
“Metal pesado é um inimigo invisível, vai acumulando no organismo. Muitos deles estão no organismo em doses pequenas, inclusive são importantes para a saúde, como Zinco e Ferro, mas quando há acúmulo, começam a aparecer os problemas”, explica.
Há também os chamados metais pesados não essenciais, como Chumbo e Cádmio, cujas menores presenças no organismo podem provocar problemas de saúde ainda mais graves. “Alguns metais podem causar problemas sensoriais, ligados ao sistema nervoso. É aquela situação que pode aparecer em pouco tempo ou daqui a dez anos”, alerta a bióloga.
Para além do leito do rio
Flora esclarece que as coletas foram feitas em águas paradas, como poças, lagos e açudes, ao longo da Bacia do Rio Doce, sendo algumas no leito do rio e outras fora. Rigorosamente, a pesquisa não trata da água corrente do leito do rio, e sim desses ecossistemas específicos. Porém, a contaminação por metais pesados constatada neles é oriunda, inegavelmente, do rio que corre em suas proximidades.
“O Ferro compõe as rochas e para ficar disponível no meio ambiente é necessário o processamento desse minério. A liberação de concentrações nessa magnitude só é possível em caso de contaminação pontual, proveniente de descarte do resíduo sem nenhum tratamento. Mesmo com o histórico de mineração na área e possíveis contaminações em menor escala no passado, o Ferro não permaneceria disponível para contaminar os girinos da maneira registrada por nós”, explica a coordenadora do estudo.
Mesmo os pontos de amostra que não tiveram contato com o rejeito da barragem também apresentaram girinos contaminados. “Isso pode ser explicado pela contaminação através do lençol freático. Após um pouco mais de um ano, quando foram feitas as coletas deste trabalho, a contaminação pode ter expandido além dos limites da lama”, diz Flora.
Eles destacam que, diferentemente do que estipulava o Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) da empresa, o estrago foi muito além das áreas de influência previstas tecnicamente. Foram mais de 660 quilômetros de desastre, chegando até a foz.
Fauna inexistente em alguns pontos
O Ibama registra na região 28 espécies de anuros de sete famílias. O número de espécies coletados em cada ponto de amostra variou de um a sete. O que se observou foi que aqueles pontos contaminados pela lama tiveram uma diversidade menor de espécies.
“Todas as poças sem contato direto com o rejeito apresentaram girinos de Elachistocleis cesarii, indicando que o período de coleta foi mais ou menos coincidente com período reprodutivo da espécie. Nenhuma poça que teve contato direto com o rejeito, entretanto, mostrou a presença de girinos desta espécie”, relatam os pesquisadores no relatório.
No Espírito Santo, dos 14 pontos pesquisados, em apenas dois houve sucesso de coleta. “A gente não sabe se essa ausência de girinos é uma consequência do desastre ou se não foi uma época reprodutiva propícia”, indaga Flora.
“A pesquisa evidencia a extensão e a complexidade dos impactos do desastre causado pela Samarco, que afetam todo um ecossistema e aqueles que dependem dele. Esperamos que estudos como este aprofundem as discussões e auxiliem a aplicação de políticas públicas a favor da recuperação das áreas degradadas e da reparação aos atingidos”, afirma Fabiana Alves, da campanha de Água do Greenpeace.
Imagem: Foram analisados  1.500 girinos, de 24 espécies, e todos estavam contaminados – Foto: Kenia Moreira

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Professor em Marabá é absolvido de acusação da empresa Vale


Juíza avaliou que acusação da mineradora contra o docente é improcedente
Por Redação Brasil de Fato*
professor universitário Evandro Medeiros venceu uma das batalhas judiciais contra a mineradora Vale S/A. Ele foi absolvido da acusação de “fazer justiça pelas próprias mãos”, conforme artigo 345 do Código Penal. A sentença foi publicada nesta terça-feira (4) no Diário Oficial do Tribunal de Justiça do Estado do Pará e foi registrada em maio pela juíza Adriana Divina da Costa Tristão, da 1ª Vara do Juizado Especial Cível e Criminal de Marabá.
Medeiros foi acusado de liderar uma invasão e interdição da Estrada de Ferro Carajás (EFC), na entrada do Bairro Araguaia, no dia 20 de novembro de 2015. Com cartazes pintados à mão, estudantes e outros professores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) se manifestaram em apoio e solidariedade às vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da empresa Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, em Mariana, interior de Minas Gerais.
De acordo com a avaliação da juíza, após a análise das provas, a intenção do docente era de realizar uma manifestação, não o interesse em em substituir a Justiça, visto que não era representante das vítimas: “O fato de ir às ruas e manifestar nas linhas férreas, em apoio às vítimas do desastre de Mariana, não configura pretenso de satisfazer interesse que poderia ser resolvido judicialmente, mormente porque não representante daquelas vítimas”.
A partir dos depoimentos e documentos juntados aos autos, a juíza verificou que o ato não foi realizado apenas por uma pessoa, mas por várias, o que “dificulta a individualização da conduta e indivisibilidade da ação privada”. A magistrada acrescentou ainda que a manifestação não durou muito tempo e por isso não há provas efetivas de que i tenha ocasionado atraso no transporte de cargas e/ou passageiros feitos pela mineradora, e, muito menos, que o ato seria capaz de interferir na atuação da Vale S/A ou da Samarco.
A juíza conclui que os atos praticados pelo autor não se enquadram na definição na qual é acusado, julgando assim improcedente a acusação e absolvendo o professor.
Medeiros comemorou a decisão da justiça e disse que se sente aliviado: “Que bom que a justiça prevaleceu, mais que um alívio, bate um sentimento de que ainda é possível acreditar que as instituições não estão todas corrompidas e há a possibilidade de prevalecer a justiça neste país”.
Ele disse que espera que a decisão também sirva de exemplo em outros processos em favor da população e daqueles que lutam por direitos e que “são criminalizados e processados continuamente pela Vale”.
A empresa, por meio de sua assessoria de comunicação, afirmou que mineradora tomou conhecimento da sentença e que, no prazo legal, adotará as providências cabíveis para a reforma da decisão.
* Com informações do site Correio de Carajás
Edição: Rafael Tatemoto