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Serra dos Carajás.
Foto: Marcelo Correa/Flickr
Rogério
Daflon, do Canal Ibase
Maior
mineradora do país e uma das gigantes do mundo do setor, a Vale se espalha pelo
país, e sua propaganda é associada a um discurso que gosta de afirmar que o
Brasil está inserido num modelo de crescimento afeito às nações mais ricas do
mundo. É aí que vem o contraste. Diante de tanta propaganda na TV, na mídia
imprensa, outdoors, o universo real dos atingidos pela Vale não tem a dimensão
à altura do sofrimento das populações que têm suas vidas remexidas pela
atividade mineradora. Guilherme Zagallo, advogado da Campanha Justiça nos
Trilhos e vice-presidente da OAB do Maranhão, diz que, se o número de atingidos
pela Vale S/A fosse calculado com seriedade, deveria levar em conta diferentes
fatores da atuação da maior mineradora do Brasil. Nesta entrevista, Zagallo dá
visibilidade a dados que a megaempresa evita debater.
Canal
Ibase: Como calcular o
número de atingidos pela Vale?
Guilherme
Zagallo: Nem a empresa
nem a legislação reconhecem, por exemplo, as atividades ferroviária e portuária
quando se trata de atingidos. Há que se lembrar que 306 milhões de toneladas em
2012 escoam pelas ferrovias e portos, e muitas populações são
sacrificadas com essas operações. Então, o cálculo já fica distorcido por essa
questão. Comunidades sofreram remoções nesse contexto. Muitas delas inclusive
já tinham sido assentadas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária). E não há interesse também em se calcular os atingidos pela
poluição. No Rio de Janeiro, a CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico), que foi
recusada em São Luís, no Maranhão e da qual a Vale tem 26% das ações, traz
intensa poluição ao ar da cidade.
Canal Ibase: Aliás, como a cidade de São Luís conseguiu que a CSA não
fosse ali instalada?
Guilherme
Zagallo: Os movimentos
sociais, na verdade, foram conseguindo adiar o empreendimento. Pela pressão da
sociedade civil, foi liberada uma área para a empresa de 1.063 hectares, e a
CSA queria 2.477. O negócio, com as mudanças da economia, passou a não
interessar. Assim, viu-se que ganhar tempo é uma estratégia importante dos
movimentos sociais. No caso de a Vale querer fazer mineração da Serra do
Gandarela, ganhar tempo é algo fundamental. Ali, em vez disso, os movimentos
sociais querem criar uma área de proteção ambiental, pois se trata de uma das maiores
reservas naturais de Minas Gerais.
Canal
Ibase: O que representa
a atividade mineral para a economia do Brasil?
Guilherme
Zagallo: Ela é importante
para a balança comercial do país, mas tem impactos ambiental e social enormes.
Na questão do transporte, por exemplo, as quatro ferrovias da Vale causam
transtornos graves ao ir e vir nas cidades cortadas pela linha férrea. Em 2010,
só para ilustrar, houve 175 atropelamentos nas linhas férreas da Vale, com boa
parte deles resultando em óbitos. Seriam necessários túneis e viadutos para que
essa interferência não fosse tão sentida. Ocorre que os royalties são
distribuídos somente nas cidades onde há minas. E, assim, os municípios que têm
portos e ferrovias para a escoamento da produção não recebem nada. Tem ônus sem
bônus.
Canal
Ibase: O que acha do
projeto de lei do novo código de mineração?
Guilherme
Zagallo: Para mim, do
jeito que está, é um código minimalista, sem controle social, ambiental e das
próprias reservas