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Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

“O CAVALEIRO E O CONDE”: SOBRE O MODO TEOLÓGICO-CONSERVADOR DE PENSAR

Em quê consiste o modo teológico-conservador de pensar? A cabeça teológica-conservadora opera a partir de um a priori metafísico, que não tem qualquer correspondência na realidade objetiva, sob a premissa fundamental da teologia de que o deus desses caras “age na história”... Talvez tenha agido verdadeiramente na Santa Inquisição, massacre de huguenotes, protestantes, pagãos, heréticos de toda sorte, Primeira e Segunda Guerras Mundiais, Vietnam, Iraque, Irã, etc. Além do mais, sob a máscara de Cavaleiros e Condes “de Jesus” se encontram os fascistas e antissemitas. Só me pergunto onde na Bíblia Jesus ensina o uso da força para fazer difundir sua palavra...
Para teologia conservadora, nada disso interessa. A inquisição é santa. Voltaire, Rousseau e Marx se resumem em “Inimigos da Igreja”, como se a “missão” desses pensadores fosse única e exclusivamente se digladiar com esta instituição (que nada tem de divina, mas sim mundana). Obviamente, para quem abraça o conservadorismo da Igreja Católica Apostólica Romana, só resta reduzir os outros pensadores que não seguem Aristóteles e Tomás de Aquino (óbvio!) sob a alcunha de “inimigos da Igreja”. Nesse sentido, Lukács, Lênin, Gramsci, ou qualquer outro comunista são “combatidos” por Leão XIII, Raymond Aron ou ainda Tocqueville. O mais absurdo é ver como em nome de uma metafísica existencialista, que torna a vida destes pobres conservadores suportável, e de um a priori insustentável, o idealismo do conservadorismo continua a vingar nas mentes desses carentes deformados e sem conteúdo. Nem o mais ingênuo idealista acredita que pode fazer suas filosofias e teologias sem antes comer, beber. Toda vez que fazem isso atestam a vitória do princípio do materialismo.
Para os cavaleiros e condes da teologia conservadora me parece que não há espaço para aquilo que os mestres alemães escreveram na Ideologia Alemã:
Não é a consciência que determina a vida, mas a vida é que determina a consciência”.
Cabe perguntar se aos intelectuais da direita monárquica-conservadora se antes deles realizarem suas especulações metafísicas eles não tiveram que se alimentar, beber água, coisas simples que decorrem do primado ontológico do trabalho, tal como ensinou o mestre húngaro György Lukács.
Eles se “esquecem” também que sob a estrutura filosófica-jurídica-teológica está assentada a base econômica que encontra sua razão fundante no trabalho, que é a condição ineliminável do intercâmbio orgânico entre homem e natureza. Assim, para um materialista, o entendimento da sociedade antiga deve ter como princípio e razão fundante o entendimento do trabalho realizado naquelas sociedades, como em Grécia e Roma sob a forma escravocrata, que revela o conteúdo social desse complexo.
Sob o auspício de um discurso tomistizado de Aristóteles (que toda vez tenho que me relembrar de que não era cristão para que eu não seja injusto com esse grande pensador) julgam acreditar que sob o nome “comunismo” repousam as experiências soviéticas, stalinistas, leninistas e/ou marxistas. É justamente aqui que a apropriação das regras formais da direita atinge seu ápice. Agora, um simples olhar na “história panfletária” (já que a única e autêntica história que a direita conhece como verdadeira é aquela narrada por católicos conservadores como Paul Johnson) nos revelará que de fato o comunismo nunca ocorreu. Em uma das determinações do comunismo ofertadas por Karl Marx nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, lê-se:
O comunismo é a eliminação positiva da propriedade privada como auto-alienação humana e, desta forma, a real apropriação da essência humana pelo e para o homem. É, deste modo, o retorno do homem a si mesmo como ser social, ou melhor, verdadeiramente humano, retorno esse integral, consciente, que assimila toda a riqueza do desenvolvimento anterior.
Não me lembro em que momento histórico do século XX isso de fato ocorreu... Mas, para os conservadores, tudo isso não passaria de “modelagem de discurso”. Ora, mas não são os próprios conservadores que durante esse tempo inteiro tentam discursar paradigmaticamente acerca da necessidade natural (no dizer deles) de um Rei ou de um Monarca, para que os outros (o povo, o populacho, a populaça) se tornem súditos? Mas de onde esse pensamento filosófico-teológico-conservador emerge? Da própria natureza, haja vista que para os conservadores-monarquistas-direitistas assim como há na natureza umaabelha rainha, no universo há umdeus, logo, não é difícil conjecturar se seguirmos o argumento natural-apícola, de Tomás de Aquino, que para esses conservadores o monarca é um homem-deus, ou vai ver que é a própria emanação de deus na terra, já que ele “age na história” (princípio indelével da teologia fundamental).
Enfim, mas vai ver que estas palavras aqui escritas não passem de “linguagem protestante-maçônica”...

quarta-feira, 27 de março de 2013

SOBRE A PRETENSA IGUALDADE EPISTEMOLÓGICA ENTRE A CIÊNCIA E OUTROS SABERES


Impera hoje no Zeitgeist dos movimentos sociais e na Academia (particularmente nas Ciências Humanas: Sociologia, Antropologia, Geografia, etc.) um pensamento que, de maneira pretensiosa, advoga uma “igualdade” (metafísica, diga-se de passagem) entre a ciência (o saber científico) e outras formas de saberes (como saberes indígenas e camponeses).
Expoente máximo desse pensamento que advoga o “igualitarismo sapiencial” é o sociólogo pós-moderno Boaventura de Souza Santos.
Em Introdução a uma ciência pós-moderna, Boaventura escreve: “As lutas de verdade são travadas como discurso argumentativo e a verdade é o efeito de convencimento dos vários discursos de verdade em presença e em conflito”.
Em poucas palavras, o que se compreende no discurso do sociólogo em tela é que ele julga, tal como seus acólitos seguidores (caso do geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves) que o pensamento ocidental, que separa aquilo que é científico e racional daquilo que não é, leva a umainjustiça cognitiva, uma vez que conhecimentos alternativos (teologia, filosofia, saberes camponeses, indígenas) são qualificados pelo pensamento moderno ocidental como inferiores, posto que a episteme eurocêntrica (ciência) seria superior.
Ora, mas perguntam-me: “Arnaldo, mas Boaventura não está correto em sua afirmação? A culpa das mazelas sociais do mundo (tráfico, colonizações, misérias, favelas, privatizações, violência, desigualdade, criminalizações, pobreza, cegueira social, fundamentalismos) não decorre justamente de uma arrogância dos cientistas que são brancos, europeus, ocidentais, sexistas e machistas?”.
“Em verdade, em verdade vos digo”: Boaventura de Souza Santos está completamente equivocado.
Se repararmos bem, na citação que extraí do seu livro supracitado, compreenderemos que o sociólogo pós-moderno relativiza a verdade científica, ou até mesmo a verdade em si. Resumindo: a verdade está presente em todo conhecimento (filosofia, teologia, saberes indígenas, camponeses), mas, simultaneamente, ela não está em lugar algum posto que é relativa e depende de cada circunstância e método. A verdade torna-se meramente discursiva.
Ainda em Introdução à uma ciência pós-moderna, o maior absurdo é o que este sociólogo escrevera acerca da objetividade: “é a propriedade do conhecimento científico que obtém o consenso no auditório relevante dos cientistas”.
Dessa forma, a pretensa objetividade científica, sua pretensa superioridade sapiencial se esvaiu porque ela só é relevante para os cientistas (óbvio! para quem mais seria não é Boaventura?).
Ironias a parte, o conceito de objetividade que o sociólogo em tela nos apresenta é paupérrimo. Paupérrimo porque carece de determinações e mediações que nos são ofertadas pela própria realidade objetiva. E aqui está o limite de Boaventura: o primado da ontologia cede espaço ao da epistemologia. Traduzindo: a verdadeira ontologia do ser social é aquela que captura a realidade objetiva, a partir de mediações,categorias, determinações da Economia Política, independentemente das nossas representações. Quando a realidade social fica subordinada a um pensamento que é, por sua natureza, incapaz de dar conta da totalidade social, a objetividade é questionada (como faz o sociólogo e toda a “sagrada família” pós-moderna que vai de Lyotard à Bruno Latour) em detrimento de construções cognitivas (a realidade é aquilo que cada umpensa dela!), representações, vontades e todo esse leque de filosofias, que se estendem de Schopenhauer à G.Vattimo, passando por Nietzsche, Heidegger, Foucault, Derrida, Deleuze, Guattari, Arturo Escobar, Paul Virilio, Wolfgang Sachs, cuja função-mor destes ilustres pensadores é escotomizar a realidade objetiva das massas camponesas e operárias.
Quando se culpa a ciência pelas mazelas sociais mundanas, quando se diz que a ciência é “ocidental, sexista, machista”, todo e qualquer pensador que adere a essa corrente faz anuviar o real culpado: o modo capitalista de produção. Quando se culpa a ciência, o que fica obnubilado é justamente a dominação da ordem burguesa (Cf. José Paulo Netto). Basta pensarmos se o conflito entre a Suzano e camponeses no leste maranhense é verdadeiramente uma luta de classes ou uma “disputa cognitiva”.
Mas nem tudo são trevas meus amigos. As Luzes estão vivas em alguns ainda. Os pífios questionadores da ciência ou da “arrogância dos cientistas” poderiam muito bem ter outra visão desse instrumento de emancipação se compreendessem seu real significado como parte daquilo que o saudoso mestre húngaro chamou de intentio recta: “na intentio recta, tanto da vida cotidiana como da ciência e da filosofia, possa acontecer que o desenvolvimento social crie situações e direções que torcem e desviam esta intentio recta da compreensão do ser real”. Compreende-se que a intentio recta é um impulso ao conhecimento do real (Cf. Sérgio Lessa). Assim, a ciência é um complexo social e um conhecimento que tem como função desvendar o real. Para tanto, é preciso que a própria realidade tenda ao pensamento para que ela mesma (a realidade) seja conscientemente transformada.
O retorno à György Lukács é a saída para a tarefa de mudar o mundo, mais do que interpretá-lo, tal como nos foi legado pelo velho barbudo. Só com Lukács e através dele é que sairemos das disputas epistemológicas e adentraremos ao mundo da ontologia, uma verdadeira ontologia, a ontologia do ser social: o marxismo, a insuperável ontologia do nosso zeitgeist pós-moderno.