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São Luís, Maranhão, Brazil
Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Natal da “Mudança”! É mais desespero! A desgraça no Maranhão não tem recesso!


O assunto é urgente!!! A desgraça no Maranhão não tem recesso!!! Recebemos a informação que na manhã de hoje, 22 de dezembro de 2017, as máquinas da empresa WPR/WTorre, citada na Operação Lava Jato, segue desmatando a reserva extrativista de Tauá Mirim, na zona rural de São Luís, colocando em desespero as famílias da Comunidade Cajueiro, ameaçadas de despejo ou outra forma de remoção forçada. Flávio Dino está sendo cobrado por esse crime social e ambiental.
O crime é da WPR/WTorre, que pretende fazer um porto privado em São Luís, dentro do Cajueiro, na área da reserva! O governo do Estado deu as licenças ambientais para a empresa agir. A licença é contestada por muitos. A Defensoria Pública aponta “várias ilegalidades”, inclusive a ausência de audiências públicas na comunidade. Essa mesma Defensoria denunciou ontem (21/12) o caso para a ONU, a Organização das Nações Unidas. No Tribunal de Justiça do Maranhão tem um desembargador, Ricardo Duailibe, que também agiu contra o Cajueiro e a Reserva Extrativista. Ele está sendo denunciado no CNJ, o Conselho Nacional de Justiça.
Já foram desmatados mais de 70 hectares de uma área que deveria ser de preservação, por conta dos pescadores, dos mangues, dos babaçuais, dos animais silvestres, de toda uma biodiversidade que é de interesse de São Luís, do Maranhão, do Brasil e do Mundo. A comunidade tentou reagir a essa violência e estupidez. Mas o governo do Maranhão colocou a Polícia Militar para garantir os interesses da empresa e o desmatamento começou a todo vapor. Esse apoio de Flávio Dino tem provocado grande indignação!
Nesse mês de dezembro, no Cajueiro, o clima é de desespero, com pessoas apresentado sintomas de hipertensão, depressão e outras síndromes relacionadas a pânico e angústia. Para piorar a situação, enquanto ocorre o desmatamento, uma criança de três anos foi estuprada por um homem que chegou ao Cajueiro a partir da presença das WP/Wtorre. Ainda ontem (21/12), houve uma manifestação em frente Palácio dos Leões para cobrar Flávio Dino. Depois de muita pressão e discursos acalorados, uma comissão foi recebida por representantes do governo. Nada adiantou. Não houve mudança! Hoje (22/12) as máquinas seguiram desmatando, ameaçando e levado a comunidade ao desespero e a revolta.
É por essas e por outras que um grupo de 11 organizações sociais – que tem autonomia política e não estão submetidas a nenhuma forma de cooptação – afirmaram, em documento público, que Flávio Dino é hoje “o gerente da oligarquia” no Maranhão e que “seu discurso anti Sarney não passa de retórica com fins eleitorais”. O que é dito é que do ponto de vista político, social e econômico, a agenda desse governo é igual a de seus antecessores. É mais propaganda! É mais embromação! É mais desespero pro povo! É mais violência!
A oligarquia Sarney, incluindo o Ministro do Meio Ambiente Sarney Filho, também trabalha em favor do porto privado para uso dessa empresa enrolada na Lava Jato, dentro de uma reserva ambiental, contra os interesses da comunidade, de toda a cidade de São Luís etc. É a turma da máfia.
Para finalizar por hoje, informamos também que ontem, na audiência dos representantes do Cajueiro com os representantes do governo do Maranhão, os assessores de Flávio Dino queriam fazer fotos para propagandear o encontro. Não foram autorizados! Mais do que fotos e propaganda eleitoral antecipada, o que todos querem é que Flavio Dino suspenda as licenças da WPR/WTorre e garanta o sossego dos que vivem no Cajueiro e na reserva de Tauá Mirim. Querem mais sossego, mais preservação, mais vida, mais futuro.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O 1% mais rico do Brasil fica com 27% da renda nacional. Os 10% mais ricos, com 55%


Nova pesquisa liderada pelo francês Thomas Piketty mostra níveis alarmantes de desigualdade no País
por Redação Carta Capital*
Um estudo coordenado pelos franceses Thomas Piketty, autor do best-seller O Capital no século XXI, e Lucas Chancel, da Paris School of Economics, mostrou que a desigualdade de renda no Brasil, a depender do critério utilizado, é a maior do mundo ou tem padrões equivalentes aos verificados em regiões como o Oriente Médio e a África Subsaariana.
Divulgado nesta quinta-feira 14, o Relatório Mundial de Desigualdade revelou que, em 2016, o Brasil ficava em segundo lugar em um ranking de desigualdade se considerada a fatia da renda nacional capturada pelos 10% mais ricos da população. Por aqui, 55% da renda fica com essa parcela da população, número igual ao da Índia (55%) e equivalente ao da África Subsaariana (54%), atrás apenas do Oriente Médio (61%). O bloco Estados Unidos e Canadá (47%), Rússia (46%), China (41%) e Europa (37%) aparecem na sequência.
Também nesta quinta, foi divulgada a base de dados do relatório. Nela, é possível ver que o 1% mais rico do Brasil fica com 27,8% da renda nacional segundo os critérios usados. É um resultado referente ao ano de 2015, o maior entre todos os países pesquisados com dados para períodos semelhantes. Atrás do Brasil aparecem Turquia (23,4%), Iraque (22%), Índia (21,7%), Colômbia (20,4%), Estados Unidos e Rússia (20,2%), África do Sul (19,2%) e Egito (19,1%)
Para os autores do estudo, o Brasil, ao lado do Oriente Médio e da África Subsaariana formam a “fronteira da desigualdade”. São locais onde nunca houve um regime igualitário como os de Estados Unidos e Europa após a Segunda Guerra Mundial, e nos quais a desigualdade segue “relativamente estável em níveis extremamente altos”.
A estabilidade se concentra nessas regiões, diz o estudo, enquanto as desigualdades aumentaram profundamente no mundo desde a década de 1980, em particular nos Estados Unidos. “As desigualdades aumentaram em quase todas as regiões do mundo”, afirma o relatório, que compara de maneira inédita a distribuição da riqueza a nível mundial e sua evolução em quase quatro décadas.
Este fenômeno, no entanto, aconteceu com ritmos diferentes, de acordo com as regiões, afirmam os coordenadores do estudo, que apontam um forte aumento das desigualdades nos Estados Unidos, mas também na China e na Rússia, países cujas economias registraram uma significativa liberalização durante os anos 1990.
De acordo com o relatório, a parte da riqueza nacional nas mãos de 10% dos contribuintes mais ricos passou de 21% a 46% na Rússia e de 27% a 41% na China, entre 1980 e 2016. Nos Estados Unidos e Canadá, este índice passou de 34% a 47%, enquanto na Europa foi registrado um aumento mais moderado (de 33% a 37%).
Divergência extrema
No Oriente Médio, as desigualdades estão “sem dúvida subestimadas”, destaca o relatório, que menciona uma contradição entre as estatísticas oficiais dos países do Golfo e alguns aspectos de sua política econômica, como o crescente recurso a trabalhadores estrangeiros mal remunerados.
Em termos de evolução, a divergência é “extrema entre a Europa ocidental e os Estados Unidos, que tinham níveis de desigualdade comparáveis em 1980, mas se encontram atualmente em situações radicalmente diferentes”, destaca o estudo, realizado com a colaboração de mais de 100 pesquisadores de 70 países.
Em 1980, a parte da riqueza nacional nas mãos de 50% dos contribuintes mais pobres era quase idêntica nas duas regiões: 24% na Europa ocidental e 21% nos Estados Unidos. Desde então, o índice permaneceu estável, a 22%, no lado europeu e caiu a 13% nos Estados Unidos.
Um fenômeno que se explica, de acordo com Thomas Piketty, pela “queda das rendas da menor faixa” nos Estados Unidos, mas também por uma “desigualdade considerável na área de educação e uma tributação cada vez menos progressiva” neste país. “Isto mostra que as políticas públicas têm um forte impacto nas desigualdades”, completa.
Margens de manobra
A principal vítima desta dinâmica, segundo o relatório, baseado em 175 milhões de dados fiscais e estatísticas resultantes do projeto wid.world (wealth and income database), é a “classe média mundial”.
Entre 1980 e 2016, o 1% dos mais ricos obteve 27% do crescimento mundial. Os 50% mais receberam apenas 12% da riqueza, mas viram sua renda aumentar significativamente. O que não aconteceu com as pessoas entre as duas categorias, cujo “crescimento da renda foi frágil”.
Estas desigualdades vão aumentar ou diminuir no futuro? Em seu estudo, os autores antecipam um novo crescimento até 2050, com base nas atuais tendências. A participação do patrimônio dos mais ricos aumentaria assim de 33% a 39%, enquanto a classe média mundial veria sua participação no patrimônio cair de 29% a 27%.
“Tal evolução não é, no entanto, inevitável”, explicam os autores. De acordo com as projeções, as desigualdades aumentarão caso os países sigam a tendência atual nos Estados Unidos, mas podem registrar uma leve queda caso repitam a trajetória da União Europeia.
“Há margens de manobra. Tudo dependerá das decisões tomadas”, conclui Thomas Piketty, que considera necessário um “debate público” sobre as questões.
*Com informações da AFP.
Imagem: Desigualdade e pobreza marcam a imagem do Brasil – Mauro Pimentel / AFP

Encontrão de povos e comunidades do MA ocorre em comunidade quilombola invadida pela Suzano


Por Ana Mendes, colaboração para o Cimi Regional Maranhão
Dia 7 de dezembro de 2017. Sete ônibus tomados por indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos e pescadores riscam em caravana o mapa do Nordeste do país, rumo ao quilombo Cocalinho, no município de Parnarama (MA), para o VII Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. O evento reuniu cerca de 500 pessoas e seguiu até o último dia 10. Cocalinho, já na divisa com o Piauí, não foi escolhido ao acaso. O quilombo, junto com outras 90 comunidades presentes na Teia, está no centro da resistência popular do Maranhão – estado que trouxe consigo o maior índice de pobreza e desigualdade do Brasil durante as últimas décadas. Se por um lado o projeto integracionista pretende colocar estes povos e comunidades em tais índices, no Encontrão da Teia o grito seguiu no caminho contrário com o tema: “Nosso Território Sagrado: Bem Viver, Memória, Luta e Esperança”.
O Encontrão da Teia acontece duas vezes ao ano, desde 2015. A cada edição a sede da reunião ocorre em uma comunidade diferente – sempre numa área acossada por invasores, empreendimentos e alvo do descaso estatal. São seis grandes grupos presentes na Teia: camponeses, indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos e pescadores. Duas ideias, de forma sintética, a mobilizam em união. A necessidade de se fortalecer para o enfrentamento em defesa da garantia das terras tradicionais, dos direitos humanos e sociais e, principalmente, dos territórios sagrados – sobretudo no que tange a ideia de que são áreas com dinâmicas espirituais, locais ritualísticos e de reprodução cultural; não se trata de qualquer terra. Num segundo momento, a ideia de que é preciso descolonizar os métodos e as práticas das comunidades reafirmando os modos de vida e organização próprias.
A conjuntura exigente quanto à resiliência a tais “projetos de morte”, impostos numa conjuntura de retirada de direitos nunca vista dessa forma desde a Constituição Federal de 1988, não poderia ser diferente para os povos indígenas. Aliás, seus 305 povos e quase 1 milhão de indivíduos foram os primeiros a sentir o que vem ocorrendo no país ao lado das demais populações tradicionais, negros e comunidades pobres urbanas. Dessa vez, oito dos 12 povos indígenas que vivem no Maranhão estavam presentes. Uma vitória para a Teia, que cada vez mais atrai povos, comunidades tradicionais e movimentos de resistência. Os Ka’apor, os Tremembé e os Awá Guajá participaram pela primeira vez. Já os Akroá-Gamella, os Krenyê, os Krepym Kateje, os Krikati e os Gavião participam desde a primeira edição.
É necessário voltar os olhos ao Maranhão para compreender a Teia, que se organiza há três anos na luta pela terra, autodeterminação, direitos humanos e sociais, num contexto onde o sarneysmo deixa uma herança de coronelismo e pistolagem mesmo depois de derrotado nas últimas eleições. Os povos e comunidades que compõem a Teia são aqueles que estão entre o madeireiro e a floresta, entre o grileiro e a terra tradicional, entre o Capital e a destruição de projetos de vida plurais e autônomos. A Teia se insurge como articulação gestada por povos e comunidades tradicionais com o intuito de fortalecer as lutas locais. A Teia, portanto, é o movimento dos movimentos.
Em termos práticos, Cocalinho é uma ilha verde cercada por eucalipto. A lagoa e os braços de água usurpados matam a sede pela monocultura da empresa Suzano Papel e Celulose. O avanço do eucalipto e a falta de água expulsou espécies animais e vegetais, coloca em dificuldades seus habitantes tradicionais, mas Cocalinho ainda sim é bonita de ver. Resiste bravamente. A perseverança lá é verde, em tons de babaçu e buriti. Para tanto, a comunidade vive sob a regência de leis próprias – muitas delas ignoradas pelas autoridades brancas. É expressamente proibida a retirada de madeira para a venda, por exemplo. “Somos a minoria, mas a gente vem lutando para não afrouxar mais. O encontrão da Teia vai dar mais força, eles vão reconhecer que não estamos sozinhos”, conta Leandro dos Santos, quilombola e morador da comunidade.
Uma das trocas entre os povos e comunidades nestes espaços da Teia está nas experiências de autonomia em relação a simplesmente esperar providências do Estado que demoram a ocorrer provocando a destruição dos territórios e mortes. De maneira autônoma, sem a participação do Estado, o Conselho de Gestão Ka’apor está minimizando a extração de madeira ilegal na Terra Indígena Alto Turiaçu, no norte do estado, ao áreas de proteção e ramais de fiscalização nas localidades onde há madeireiros. Pagam um preço alto, sofrendo ameaças e assassinatos, mas afirmam que se trata de um projeto definitivo. “Hoje nós temos um plano de vida e estamos fazendo tudo através do Conselho. Não é SEDUC, não é FUNAI. O governo atrapalha nosso trabalho”, fala Itahu Ka’apor.  
Em consonância com a filosofia do Bem Viver, que valoriza a autonomia política, educacional e medicinal, a experiência de organização política Ka’apor inspira outros grupos há muito tempo. Os Krepym Kateje também estão implementando um conselho de gestão para descolonizar os hábitos, como afirma Aarão Krepym: “Eu me sinto um protagonista da história do Brasil. Não queremos mais ser colonizados pelo Estado, nós queremos viver o nosso mundo. Eu vejo hoje que tem muita discriminação que atinge principalmente o negro e o indígena. A gente sabe que os grandes empreendimentos querem ver a nossa extinção. Hoje tem coisas da colonização que a gente não consegue mais deixar, mas a gente tem que pensar com a nossa cabeça e ter a visão das coisas. A visão pra mim é o mesmo que a esperança”.
Esperança, um dos temas do encontro
Sob o mote “Nosso Território Sagrado: Bem Viver, Memória, Luta e Esperança”, as conversas se desenrolaram três dias debaixo de suntuosas mangueiras, tamarineiros, pés de sapucaia. Cocalinho pulsa como um oásis em meio ao deserto verde dos eucaliptos. Para além de identificar os agressores dos territórios, os assuntos giravam em torno da agroecologia, do papel da mulher na luta pelo território e autonomia. “O jabuti só pode andar pra frente”, nos ensina Itahu Ka’apor, fazendo alusão ao movimento de resistência que reconfigura-se há 517, mas não cessa; ao contrário, toma fôlego na experiências da pluralidade trocada entre povos e comunidades.
De modo geral, a Teia costura a influência de um grupo com relação ao outro. Promove encontros de lutas, de ideias, de resistência e vida. Um exemplo é narrado pelo sertanejo Marconi Martins Ramalho, da comunidade de Forquilha, localizada em Benedito Leite. Ele que seu grupo dançou o toré no momento em que foi derrubar um curral de uma fazenda sobreposta ao território tradicional. O toré é uma dança indígena ritualística que simboliza a união de objetivos políticos com o campo espiritual, este dependente da “natureza sagrada”: morada de Encantos antiquíssimos e fundamentais para a existência de tais povos. “Nós lembramos dos indígenas e começamos a cantar o toré pra dar uma fortalecida. E a gente foi cantando e fazendo o fogo e deu aquela fortaleza. E quando partimos pra ação deu tudo certo. A Teia traz isso pra nós. Juntou aquela força e nós estamos conseguindo tudo que queremos hoje”, conta o sertanejo.
Leia o documento final do Encontrão da teia na íntegra:
Carta Aberta do VII Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão
Nós, comunidades quilombolas, quebradeiras de coco, pescadores, camponesas, sertanejas, povos indígenas Awá-Guajá, Ka’apor, Krenyê, Tremembé, Krepym  Kateje, Akroá-Gamella, Krikati e Gavião, organizações aliadas e parceiras – CPT, CIMI, MIQCB, MOQUIBOM, JORNAL VIAS DE FATO, NERA/UFMA, NÓDOA, GEDMA/UFMA, COOPERAXION, QUILOMBO URBANO, RE(O)CUPA e MAB reunidos no Quilombo Cocalinho (município de Parnarama), no sétimo Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, nos reunimos para compartilhar experiências de luta, resistência, insurgência e solidariedade.  
A partir do tema desse encontro, “Nosso Território Sagrado: bem viver, memória, luta e esperança”, a teia se fortalece como espaço de articulação e ação, animando os nossos projetos de vidas, pautados no bem viver, pelo direito e respeito a nossa cultura e autonomia. E quando falamos em autonomia, tratamos do direito a nossa organização, nossa própria educação, medicina tradicional e práticas de produção.
Sabemos e reavaliamos que, juntos, temos o poder de enfrentar o poder econômico e o poder político, que sobrevive abrigado nas instituições públicas.
No campo, a violência contra nós parte do latifúndio e do grande capital, de empresas como Vale, Suzano, WTorres, Costa Pinto, associado ao poder judiciário, que segue criminalizando nossos movimentos, organizações e lideranças, determinando trágicos e injustificáveis despejos.
O Cocalinho é um exemplo disso, um território centenário, demarcado pelo toque da Caixa do Divino, hoje cercado pelo eucalipto, soja e fazendas de gado.  Mais um quilombo que, um dia, chegou a ser apontado como “invasor”.  Nesse ambiente, vários dos nossos vivem ameaçados, como é o caso de Gil Quilombola, Jainara Krepym e tantos outros.
Em São Luís, assim como nos demais municípios do Estado, as grilagens cartoriais, as fraudes escandalosas, continuam sendo feitas para servir a interesses criminosos. Um exemplo citado em nosso encontro foi o caso da Comunidade do Engenho (em São José de Ribamar), território indígena, objeto das ações ardilosas do ex-deputado Alberto Franco, figura que também manobra por dentro do Judiciário. Outro exemplo dramático é o que está sendo vivido pela Comunidade de Cajueiro, localizada em São Luís, dentro da Resex Tauá Mirim e que abriga o território sagrado do Terreiro do Egito. Com a conivência do Estado, a comunidade Cajueiro vem sendo brutalmente violentada pela ação da WTorres, interessada na instalação de um porto privado, ilegal e desnecessário.
Assumimos o compromisso e o desafio de manter a nossa unidade, ampliar e fortalecer nossas alianças, sempre na perspectiva de defender e garantir nossos TERRITÓRIOS SAGRADOS e nosso BEM VIVER. Tudo isso, sabendo da necessidade de dar visibilidade a nossa caminhada, fortalecendo uma comunicação que; além de informar, denunciar, registrar e mobilizar; possa também atuar na nossa formação.
E assim, plantando simbolicamente os ancestrais fundadores do Cocalinho, retornamos as nossas comunidades, com nossa esperança renovada e ampliada, com a força dos nossos encantados, orixás, Jesus de Nazaré, tendo a certeza que cuidar da outra, do outro e do mundo faz bem.
                                                       
Cocalinho (MA), 10 de dezembro de 2017.
Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão
Encontro reuniu cerca de 500 pessoas. Oito povos indígenas marcaram presença. Foto: Ana Mendes/CimiMA

sábado, 25 de novembro de 2017

“Todos devemos participar de um processo revolucionário que nos distancie da loucura do capitalismo”. Entrevista com David Harvey


No IHU – David Harvey, legendário geógrafo e teórico marxista, é o primeiro entrevistado da série Qué hacer [O que fazer?]. O intelectual faz uma viagem pelo encadeamento dos fluxos do capital no planeta. Harvey encontra em tais fluxos as origens das crises que nos afetam – a social, a climática e a política –, incluindo a ascensão política de Donald Trump. Contudo, o professor emérito da City University of New York também observa pontos de tensão no sistema que origina essas crises. Tão implacável em seus métodos, como eclético ao escolher onde colocar a lupa, o intelectual britânico oferece uma análise totalizadora, que nos convida a pensar o que nos trouxe até aqui, para assim poder enfrentar como sairmos desta.
Por Ignasi Gozalo-Salellas, Álvaro Guzmán Bastida e Héctor Muniente, do Ctxt/tradução: Cepat
Eis a entrevista.
Esta série inicia com uma premissa para enfocar soluções políticas em tempos agitados: ‘O que fazer?’. Certa vez, você disse que se a energia empregada hoje em dia na ajuda humanitária fosse dedicada ao desenvolvimento de modelos para superar o capitalismo, estaríamos muito melhor como sociedade. Partindo dessa base, como responderia à pergunta: ‘O que fazer’?
A revolução é um processo, não é um acontecimento. E é um processo que demora muito a seguir adiante e precisa avançar em diferentes frentes. Supõe transformações em conceitos mentais sobre o mundo, as relações sociais, as tecnologias e também em estilos de vida. Cada um de nós tem uma posição em nossa sociedade, onde pode contribuir em alguma destas frentes. Eu sou acadêmico e posso tentar influir nos conceitos mentais do mundo, mas sei que não é a única coisa que é necessário fazer. Sendo assim, todos temos que empregar nossas habilidades para conseguir um processo revolucionário que nos distancie dessa loucura do capitalismo contemporâneo, para criar uma sociedade sensata, na qual cada um de nós tenha uma vida decente, condições de vida decentes e conceitos razoáveis sobre um futuro decente.
Dedicou grande parte de sua vida ao estudo e a difusão da obra de Marx. Muitos críticos do marxismo, hoje em dia – tanto da direita como da esquerda –, destacam que embora essas ideias puderam ser úteis para o século XIX, deixaram de ser relevantes. Você não tem inconveniente em abordar assuntos aparentemente díspares, conforme o mundo que lhe rodeia muda, indo do desenvolvimento tecnológico à crise climática. Para aqueles que não conhecem a obra de Marx ou não a leram, por que continua tendo valor, em pleno século XXI, diante dos desafios que enfrentamos e o mundo em que vivemos?
Há uma história do marxismo que é problemática, e tem coisas muito boas e coisas muito ruins. É como o capitalismo. É como tudo. Depois, existem os escritos de Marx, que me impressionam particularmente. O que fazia era se abstrair das atividades cotidianas de uma economia e buscava contribuir para o entendimento do modo como funciona o capital. O capital é simplesmente a produção de valor e mais-valias através de uma série de configurações e atividades, e na época de Marx, esse sistema de levar o pão à mesa e todos esses tipos de coisas. Esse sistema existia apenas em um relativamente pequeno canto do mundo. Agora, o mundo inteiro está aprisionado pelo modo de produção capitalista. Se você vai à China, nota-o. Se vai à Índia, nota-o. Se vai ao Brasil, nota-o. Seja onde for, nota-o.
De modo que não escrevia o século XIX. Escrevia sobre algo chamado capital e sobre como funciona o capital. O capital continua conosco, e continua fazendo coisas muito prejudiciais e continua fazendo algumas coisas muito fascinantes, e Marx tem um modo de o analisar, que examina suas contradições. Por uma parte, desenvolve tecnologias novas. Por outra parte, observamos como estas novas tecnologias não são empregadas para libertar os seres humanos e os emancipar, mas, ao contrário, para gerar mais riqueza e poder para uns poucos. A economia contemporânea tende a evitar as contradições. Não gosta das contradições, desse modo, finge que não existem. Então, Marx vem e diz que o capital por definição é contraditório, e se você deseja uma análise sobre o funcionamento das contradições, você tem que se colocar e precisa estudar Marx.
Em seu trabalho, desenvolveu a ideia de que o modo como saímos de uma crise – a maneira como enfrentamos as contradições que nos conduzem a ela – determina a crise seguinte. Uma década após a última grande crise financeira, você observou algo na maneira como saímos dela que ajude a explicar a situação política nos Estados Unidos e no restante do mundo?
Todas as crises que ocorreram a partir dos anos 1980 foram acompanhadas com o que chamamos de uma recuperação sem emprego, que é como se encontra a classe trabalhadora que não se recuperou da crise. O capital se recuperou, mas as pessoas não. Em 2009, as estatísticas oficiais mostravam que havíamos nos recuperado, mas todo mundo sabia que não havia trabalho. Não havia trabalhos decentes. As crises são uma das maneiras que o capital possui para se renovar, de modo que não supõem o fim do capitalismo. Na realidade, são um modo de reconfigurar o capitalismo, e acredito que cabe se perguntar se 2007, 2008 era o modo em que o capital iria se reorganizar. Bom, em múltiplos aspectos não se reorganizou em absoluto. Minha interpretação do neoliberalismo foi que desde o princípio foi um projeto político acerca da consolidação e a crescente concentração da riqueza e o poder dentro da classe capitalista, e que a concentração continuou.
Alguns de nós lemos a eleição de Trump, o Brexit e outros fenômenos como um sinal do fim da era neoliberal. Como, entre outras coisas, historiador do neoliberalismo, você faz a leitura do mesmo modo? Refiro-me, em concreto, a sua decisão de tirar os Estados Unidos de acordos comerciais como o TPP ou o NAFTA, suas promessas de criar postos de trabalho, etc. Um ano após sua eleição, como interpreta a ascensão política de Trump e seu encaixe com o projeto neoliberal?
Os únicos que verdadeiramente se beneficiaram da crise de 2007-2008 foram o 1% mais rico e o 0,1% mais rico, ao passo que todos os demais perdiam. Uma das coisas que mudou é que, após 2007-2008, já não era possível alegar ideologicamente que os mercados resolveriam tudo. O neoliberalismo era instável e era provável que evoluísse em algo que se tornaria muitíssimo mais autoritário. O neoliberalismo gerou uma grande desilusão. As populações cada vez se sentiam mais alienadas em seus postos de trabalho. De modo que os trabalhos dignos cada vez eram mais difíceis. A vida cotidiana cada vez era mais angustiante, e a política não falava dessa alienação. Então, surgiu Donald Trump e falou disso de um modo ou de outro, de forma que as populações alienadas não necessariamente votam à esquerda. Podem se tornar neofacistas. Podem ir em qualquer direção e acredito que existia certo anseio, em muitos setores da população alienada, de que se produzisse uma alteração de algum tipo.
O que Donald Trump prometeu foi alteração e o que proporcionou, é claro, foi alteração. Acredito que é significativo que tenha corrido ao Goldman Sachs para suas nomeações econômicas e que o Goldman Sachs tenha controlado o Departamento de Tesouro dos Estados Unidos desde aproximadamente 1992. Trump eliminou normativas que detinham a concentração de maior riqueza e poder, de modo que não adotou nenhuma medida em absoluto nesse sentido. Só continuou o projeto neoliberal porque ele é a quinta-essência do homem neoliberal em pessoa. Há um estancamento geral, e, por sua vez, a contínua acumulação de riqueza e poder por parte dos que cada vez estão se convertendo mais em uma espécie de oligarquia global. Então, surge a pergunta: de quem é a culpa?
Pois bem, é possível jogar a culpa no capital. Eu culparia o capital, mas os capitalistas não gostam de ser culpados pela crise. Gostam de jogar a culpa nos outros, de modo que os imigrantes são o problema ou a deslocalização é o problema, desde os anos 1970 e 1980. A perda de emprego nas fábricas se deve à mudança tecnológica, não porque vão para a China, não porque são enviados agora. Se você se apresenta em algumas eleições e diz que é contra a mudança tecnológica, olha até onde pode chegar. Caso se apresente e diga que essa perda de empregos tem que parar, que temos que impedir a entrada dos imigrantes e temos que culpar alguém mais, a quem culpamos? A China, e assim temos, nesse exato momento, as políticas contra os imigrantes e as políticas contra a China.
Contudo, isto é interessante. Da China, disse Trump, ‘no primeiro dia em que subir ao poder, me encarregarei disso’. Foi capaz de se encarregar disso? De modo algum. Quem possui a dívida dos Estados Unidos? A China. E esse foi um momento interessante na crise, que é quando aparecem Fannie Mae e AIG, as duas grandes companhias seguradoras. Das ações destas instituições, 60% pertenciam só aos chineses e aos russos. Em 2008, os russos foram aos chineses e lhes disseram: “Vamos vender todas as nossas ações, arruinar o mercado dos Estados Unidos”. Caso tivessem agido assim, teria sido um desastre. Os chineses não fizeram isto porque não tinham nenhum interesse em arruinar a economia dos Estados Unidos, porque essa economia é um mercado principal. Os russos não se preocupam com o mercado dos Estados Unidos porque não é importante para eles. Contudo, esta é a situação: se os Estados Unidos tentarem pressionar muito a China em questões comerciais, a China tem muito poder sobre a economia estadunidense. Se os Estados Unidos começarem a deixar de vender seus produtos no mercado, então os chineses dirão, tudo bem, não temos razão alguma para manter tão precipitadamente o mercado dos Estados Unidos. Vamos nos desfazer de toda a dívida, e então veremos o que acontece com o endividamento dos Estados Unidos.
O imperialismo é um conceito ao qual dedicou grande parte de seu trabalho, inclusive um livro completo. No entanto, ultimamente, disse que já não lhe parece um conceito útil para entender o mundo. Por que pensa assim? Tem algo a ver com sua análise dos fluxos do capital e o advento de uma classe rentista global?
Não acredito que a exploração das pessoas em uma parte do mundo por alguém que está em outra parte do mundo tenha cessado em absoluto. De fato, são realizadas enormes transferências de valores, principalmente em tempos de crise. Esse 1% de mais ricos na realidade alcançou esse posto graças a transferências massivas de riqueza da população mundial geral para tal classe e, deste modo, trata-se mais de uma questão de classe que do fato de que uma parte do mundo domine a outra.
As pessoas podem conservar seu patrimônio? Pode obter ingressos sobre as rendas, sobre aluguel de propriedades, de imóveis? E, cada vez mais, é claro, nos últimos 50 anos, impõem-se os ingressos sobre a propriedade intelectual. Há muitas corporações capitalistas que acreditam que alguns ingressos sobre a propriedade intelectual é a única coisa que precisarão ter e que não necessitam produzir nada. De modo que há organizações como Google e Facebook ou outras parecidas que são a base de fortunas tremendas, acumuladas por poucos, baseadas na cobrança de receitas. Quando se observa a estrutura dos ativos do 1% ou do 0,1% dos mais ricos, dois terços dos ativos são em propriedade ou similar. As pessoas muito, muito, muito ricas estão começando a se dedicar a este processo de acumulação de terras. Um grande pedaço da Patagônia pertence a uma só família.
Detendo-nos por um momento no meio ambiente, como relaciona a emergência dessa oligarquia global com a crise climática que enfrentamos? Parece que a decisão de Trump em retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris não fará mais que aprofundar essa crise. Compartilha do diagnóstico?
O contexto disto é que há algum tipo de relação com a natureza, uma relação metabólica com a natureza. Marx se refere a isto como presentes da natureza, e para que o capital sobreviva precisa haver um fluxo destes presentes da natureza, o que supõe que precisa estar em posição de se apropriar ou, caso se queira empregar outra linguagem, saquear os presentes que oferece o ambiente natural que, então, é possível incorporar no sistema de circulação.
Por exemplo, falamos do motivo pelo qual Trump não organizou um vasto projeto de infraestrutura. Quem organizou um enorme projeto de infraestrutura em 2007, 2008? A China. Em dois anos, os chineses consumiram mais cimento, 40% a mais de cimento, que os Estados Unidos em 100 anos. Precisavam resolver o problema do desemprego. Resolveram esse problema descarregando no meio ambiente, e o resultado agora é um desastre ambiental em muitos sentidos. Os chineses estão conscientes disso e agora estão dizendo, muito bem, vamos ter carros elétricos e reorganizar a sociedade porque agora temos que solucionar o problema ambiental. A isto me refiro quando digo que o capital transfere seus problemas. Tinham um problema de desemprego. Solucionaram, mas agora existe um problema ambiental. E como irão resolvê-lo? Bom, farão isto com outra coisa e provavelmente descobriremos que há dificuldades financeiras. Isto está conectado com o fato de que o capital como sistema precisa crescer. Não pode ser sempre o mesmo.
Acredito que o Acordo de Paris era sumamente deficiente. Tentou resolver o problema da mudança climática recorrendo às forças do mercado, e acredito que na realidade as forças do mercado são o problema e não a solução. Não estou particularmente incomodado que Trump tenha saído dele.
Como conceber uma transição na qual a maioria de nós não passe fome, parece-me que precisa fazer parte do que seja qualquer revolução ou transformação. Acredito que continua havendo uma tendência na sociedade que estabelece esta distinção cartesiana entre humanidade e natureza ou cultura e natureza, e economia e natureza como se fossem dois compartimentos separados, mas sou tristemente célebre para dizer que não há nada de antinatural na cidade de Nova York. As formigas constroem formigueiros. Os seres humanos constroem cidades. Todos os organismos, em certo nível, transformam seus ambientes de maneira que supõem ser positivos para eles. Em lugar de enxergar isto como um conflito entre cultura e natureza, vejo como um conflito entre posições, caso se prefira, ou entre populações que estão discutindo que deveríamos estar indo em outra direção.
A questão é a quem beneficia tudo isto. Agora mesmo, as transformações ambientais são essencialmente as que são ditadas pelo capital, que não está se organizando para o bem-estar da população. Aqui, em Nova York, por exemplo, há um enorme boom imobiliário no qual tudo são estruturas de investimento para rendas altas. Temos uma crise de moradia acessível. Estamos construindo para os bilionários dos estados do golfo e Rússia e de lá onde se possa investir, de modo que possam ter um lugar para vir comer e ficar duas semanas ao ano, nas quais irão comprar ou o que seja. É uma loucura. É uma economia demente, e continuo pensando com meus botões que é tão demente que não entendo por qual motivo as pessoas continuam tolerando. Isto se deve ao fato de que o projeto neoliberal de concentração da riqueza e poder está mudando a forma de nossas cidades, tornando-as cidades para investir, não em cidades para viver.
Há um conceito que você desenvolveu muito, antes da ascensão de Trump, e que tem especial ressonância no momento político atual: a alienação universal. Em que consiste essa ideia, que manifestações tem, e como pode nos ajudar a entender o presente e imaginar o futuro?
É interessante, muitas das revoltas que ocorreram no mundo, nos últimos 15-20 anos, foram em torno de problemas urbanos. O parque Gezi na Turquia, as revoltas em cidades brasileiras em 2013, etc. Muito descontentamento em zonas urbanas, distúrbios urbanos, e tendo a pensar que se trata de uma das zonas-chave de organização e reflexão, o lugar onde realmente podemos mudar a natureza do capitalismo. Não só lutando pelos problemas no lugar de trabalho, algo que continua sendo tremendamente importante, mas também lutando por algumas novas condições no espaço vital onde todos possamos ter um lar decente e um ambiente decente e, imaginemos, uma vida cotidiana decente.
Quando as pessoas começam a dizer ‘que sentido tem minha vida’, ‘que sentido tem meu trabalho’, e as pesquisas apontam que aproximadamente 70% da população nos Estados Unidos odeiam seu trabalham ou, então, é absolutamente indiferente em relação ao que se trata… Quando você pensa nas novidades que poupam tempo no lar, mas vai até as casas e pergunta: ‘tem muito tempo livre?’, a resposta é que não temos tempo livre em absoluto. Uma das genialidades de Marx foi sugerir que o tempo livre é sinal de uma grande sociedade, mas o fato é que até mesmo a vida diária na cidade te absorve. Que se eu levo a televisão para consertar e convido alguém para casa… e as frustrações de lidar com o seguro médico… e o que ocorrer a você. O papel da máquina não é a de facilitar o trabalho. O papel da máquina é o de estabelecer uma situação onde o capitalista possa obter maior mais-valia. Por este motivo, a máquina não reverterá em benefício do trabalho. Sempre será utilizada sob o capitalismo para beneficiar o capital.
O mesmo se aplica aos processos culturais de consumo. Todos vimos essa espécie de pequenos robôs que rodeiam o solo e limpam por você e tais tipos de coisas, mas qual é o propósito de tudo isso? O propósito é o de oferecer tempo livre às pessoas ou, na realidade, é o de conduzir a uma situação na qual você se torna cada vez mais consumista? De modo que o consumismo consiste em liberar as pessoas dos trabalhos domésticos para que possam sair e comprar. Ou seja, as pessoas não têm tempo de se deitar, nem o direito de folgar. Isso provoca muito estresse e muita alienação, porque você percebe que está sumamente ocupado, mas com qual propósito e a propósito de quem? E sabe que não é a seu propósito. É a propósito de outro. A propósito de quem? Acredito que é provavelmente um dos problemas mais sérios que subjazem, em grande parte, as turbulências políticas que estamos vendo

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Cimi Regional Maranhão: “Os órgãos competentes precisam responder de forma positiva às demandas de povos mobilizados”

“Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. (Êxodo 3:7)”
Cimi
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem a público manifestar seu apoio total e irrestrito aos movimentos protagonizados pelos povos Akroá-Gamella, Krenyê, Gavião e Tremembé na ocupação da sede da Frente de Proteção Etnoambiental Awa da Funai, em São Luís, desde o dia 06/11, lutando pela regularização dos seus territórios tradicionais. Também aos povos Krepym Katejê e Krenyê que estão ocupando desde o dia 09/11 a Unidade Regional de Educação em Barra do Corda, lutando pela política de educação escolar indígena que atenda às necessidades dos povos.
Os dois movimentos são legítimos e buscam, nessas ocupações de espaços públicos, uma forma a mais de fazer com que o Estado cumpra com os acordos firmados anteriormente e, mais do que isso, que o Estado respeite a Constituição nos artigos 231 e 232, bem como, a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho – OIT, garantindo aos povos o direito ao território reconhecido e protegido, as políticas públicas contextualizadas e o respeito às suas formas próprias de organização.
Legislação que parece não ser de conhecimento de agentes públicos, caso da Coordenação Regional da Funai no Maranhão que se recusa a assinar a declaração de atividade rural dos Akroá-Gamella.
Em relação ao povo Krepym Katejê há uma sequência de descumprimentos pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) de acordos firmados em reuniões com o órgão. Em 10 de julho de 2016, a Seduc assinou uma série de compromissos com os povos indígenas, mas não os cumpriu. Após protestos por parte desses povos, em 14 de setembro do mesmo ano foi firmado outro Termo de Compromisso estabelecendo novos prazos. Após o descumprimento deste termo pela Seduc, novos protestos ocorreram como o em frente ao Palácio dos Leões, que culminaram em um novo Termo de Compromisso firmado em 16 de dezembro de 2016. No mês de agosto de 2017, os indígenas estiveram novamente reunidos com a Seduc e ainda não tiveram todos os itens de sua pauta atendidos. A constante desqualificação do movimento dos povos Krepym e Krenyê, por parte da Seduc, demonstra o despreparo no trato com a especificidade que a educação escolar indígena necessita.
Manifestamos nossa preocupação com a onda de racismo e preconceito contra esses povos, primeiro querendo negar sua identidade, como se isso fosse competência de quem assim o faz. Os povos garantiram direitos à AUTODETERMINAÇÃO. E quando os povos resistem, a tentativa é de desqualificar tratando como supostos índios – ou como sujos e bandidos. Esse tipo de tratamento aos povos indígenas, além evidenciar o racismo que sempre existiu e gera violência, revela também a ignorância da própria história colonial do país.
Os povos indígenas não fazem ocupações, mobilizações e entregam suas vidas e seus corpos porque querem, mas porque essa é a uma das poucas formas de serem ouvidos e respeitados. Que os órgãos competentes possam dialogar com os indígenas em mobilização e respondam positivamente às suas reivindicações para que eles retornem aos seus territórios em paz.
Um outro mundo é possível pelo Bem Viver dos Povos Indígenas. Vamos apoiar essa causa, porque a causa indígena é de todos nós!

Conselho Indigenista Missionário – Regional Maranhão

São Luís, 13 de Novembro de 2017