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Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Nota de Repúdio: É indecente a empresa Integratio ser cogitada como consultora no Acordo Prévio do MPF com Samarco/Vale/BHP

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Causou enorme espanto que a força-tarefa do MPF, à qual agora se soma a força-tarefa do MPMG, aceitassem ambas, no acordo prévio sobre o rompimento da barragem de Fundão, assinado com as empresas Samarco, Vale e BHP no último 18 de janeiro, a INTEGRATIO Mediação Social e Sustentabilidade como uma organização “Expert” para a realização do diagnóstico socioeconômico e assistência aos atingidos.
Na carteira de clientes da INTEGRATIO estão a própria SAMARCO e a VALE, além de Anglo American, AngloGold Ashanti, Bahia Mineração, BeloSun Mining, Crusader, CSN, Ferrous,  Gerdau, Kinross, Mineração Rio do Norte, Mirabela, MMX, MPX, Rio Novo, Rio Tinto, SAM, Votorantin e Yamana Gold, assim como outras empresas associadas ao ramo da mineração. Em 2014, a INTEGRATIO prestou consultoria para a própria Samarco em Bento Rodrigues para mapear possíveis “riscos sociais” que ameaçariam a atividade da empresa na região.
Assim, a INTEGRATIO não tem legitimidade para produzir levantamentos e avaliações  independentes  em relação aos danos sociais e econômicos causados aos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão. Esta empresa não tem qualquer compromisso com os direitos humanos e sociais e já foi criticada pelos atingidos em Barra Longa na semana passada. É INDECENTE que esteja no acordo prévio assinado pelo MPF.
Repudiamos um acordo prévio que aceitou uma consultoria desta “envergadura” umbilical com as empresas criminosas e o setor minerário.
As outras 3 organizações “Experts” mencionadas no acordo são a LACTEC (para o diagnóstico socioambiental), RAMBOLL (para a avaliação e monitoramento dos Programas de Reparação Socioambiental e Socioeconômica) e O BANCO MUNDIAL (para coordenação dos trabalhos e consultoria ao MPF) sobre as quais estamos pesquisando.
Minas Gerais, 23/2/2017
Brigadas Populares
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (AFES)
Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela
Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM)
SOS Serra da Piedade


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

TJES começa a definir futuro de ações sobre rompimento da barragem da Samarco/Vale-BHP


Por Nerter Samora, Século Diário
Após mais de quatro meses com ações judiciais paradas, o Judiciário capixaba voltou a se debruçar sobre as consequências do maior crime ambiental da história do País: o rompimento da barragem da Samarco/Vale-BHP, em Mariana (MG). Na última quinta-feira (16), o Pleno do Tribunal de Justiça do Estado (TJES) iniciou o exame do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR). O julgamento definirá a possibilidade ou não do direito à indenização por danos morais dos afetados pela tragédia, ocorrida em novembro de 2015.
O relator do processo, desembargador Arthur José Neiva de Almeida, se manifestou pela admissibilidade do IRDR, interposto pelo Ministério Público Estadual (MPES), tendo como parte interessada passiva a Samarco Mineração S/A. Segundo ele, a “efetiva repetição de processos com idêntica controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito e o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica”. Este tipo de processo tem o objetivo de evitar decisões diferentes sobre o mesmo caso.
De acordo com o MPES, existem hoje mais de 17 mil ações na Justiça com origem no mesmo fato. Já foram prolatadas sentenças nos Juizados Especiais Cíveis da comarca de Colatina pela procedência dos pedidos. Por outro lado, na Segunda Vara Cível, também de Colatina, há decisão pela improcedência dos pedidos, fundamentada em “impossibilidade de dano moral ambiental individual”. O julgamento foi interrompido após o pedido de vista do desembargador Adalto Dias Tristão. Não há previsão da conclusão do exame pelo Tribunal Pleno.
Enquanto a questão não for resolvida, a tramitação de todas as ações de indenização em curso na Justiça estadual ficará suspensa. Até agora, mais de 190 pedidos de indenizações já foram aprovados, totalizando quase o pagamento de R$ 1 milhão pela empresa, de acordo com o tribunal. Por conta do julgamento do incidente, um mutirão de processos em Linhares teve de ser cancelado.
O rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) teve consequências em várias cidades capixabas, com problemas no abastecimento de água potável e impactos ambientais e à economia local, principalmente o turismo, comércio e a pesca artesanal. Um dos municípios mais afetados foi Colatina, na região norte do Estado, que é banhado pelo rio Doce – contaminado pela onda de lama com rejeitos de mineração – e Linhares, onde está a foz, em Regência. No Estado, o crime impactou ainda a cidade de Baixo Guandu. O episódio deixou 19 mortos.
No final do ano passado, a Justiça Federal de Minas Gerais aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra 22 pessoas envolvidas no rompimento da barragem. Dessas, 21 são acusadas de inundação, desabamento, lesão corporal e homicídio com dolo eventual, que ocorre quando se tem a intenção ou assume o risco de matar. Faz parte deste grupo, o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, atualmente licenciado do cargo. A mineradora e suas acionistas (Vale e BHP Billiton) também se tornaram rés por diversos crimes ambientais


Eucalipto: o deserto verde que ameaça a vida dos povos tradicionais do campo


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A situação no estado do Maranhão se destaca pela quantidade de conflitos gerados pela expansão da empresa Suzano Papel e Celulose, que chegou na região em 2008
Por Leonardo Fernandes, da Página do MST 
A expressão usada para denominar a monocultura de eucalipto não poderia ser mais adequada: deserto verde. Isso porque entre os mais variados e agravados impactos socioambientais dessa prática, está o rápido desaparecimento de fontes de água nas regiões de plantio. Brasil afora, o MST vem travando grandes batalhas contra a ação predatória das empresas de celulose, responsáveis pela monocultura.
A situação no estado do Maranhão se destaca pela quantidade de conflitos gerados pela expansão da empresa Suzano Papel e Celulose, que chegou na região em 2008. Na ocasião da assinatura do decreto que autorizava a instalação da empresa no estado, seus dirigentes destacavam as vantagens de operar na região: a grande oferta de mão de obra, terras próprias para a agricultura e água em abundância. Menos de dez anos depois do começo das operações, a agricultura familiar da região sofre com a falta d’água e com a drástica redução da mata nativa do cerrado, provocada por desmatamentos de áreas de até 15 mil hectares. E no que se refere à tão esperada geração de empregos deu lugar à terceirização e mecanização de atividades.
Segundo Edivan Reis, da Direção Naiconal do MST, “A região está sendo destruída por essa prática, acabando com a flora, com as frutas do cerrado, e claro, a vida de toda a população”.
Em outubro de 2016, a Justiça Federal decidiu acatar um pedido do Ministério Público Federal para proibir novos cultivos de eucalipto na região do cerrado maranhense, sob pena de multa diária de 50 mil reais. A ação movida pelo MPF contra a empresa Suzano, o Estado do Maranhão e o Ibama, atendeu ao reclamo de cerca de 63 famílias que luta há anos para proteger cerca de 1.665 hectares de cerrado nativo, onde a monocultura do eucalipto ainda não chegou. A denúncia foi baseada em um estudo elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão, no qual são feitos apontamentos sobre os graves impactos da produção de eucalipto ao ambiente e às formas de vida das comunidades locais, provocados pelos grandes empreendimentos de plantio de eucalipto na região.
“Para nós do MST essa decisão é muito importante, embora tenha vindo tarde, porque já são quase dez anos que essas práticas existem. Essas grandes empresas chegaram, se apropriaram da terra por meio de grilagem, expulsando os camponeses da região e colocando a todos em uma situação de vulnerabilidade, destruindo a cultura e a economia camponesa na região”, comenta Edivan.
A área sobre a qual incide a ação do Ministério Público Federal fica na divisa com o estado do Piauí, conhecida como Baixo Parnaíba. Ocorre que a empresa Suzano também opera em outra região, no sul do estado, próximo à cidade de Imperatriz, segunda maior do Maranhão. Só nessa região há conflitos envolvendo a Suzano Papel e Celulose com pelo menos dez comunidades, a maior parte delas, assentamentos da Reforma Agrária. A população rural da região reclama quanto da infraestrutura das estradas, que ficam totalmente comprometidas pela passagem de caminhões cargueiros. Em períodos de chuva, algumas comunidades ficam isoladas, enquanto a empresa se nega a assumir a responsabilidade sobre o assunto. Ainda na região sul do estado, os moradores denunciam que a empresa segue ocupando ilegalmente terras de comunidades rurais e assentamentos.
De norte a sul do país
Assim como a região do cerrado maranhense, outras regiões do Brasil sofrem com os mesmos graves problemas causados pela monocultura do eucalipto. É o caso do Espírito Santo, onde a empresa Fibria – antiga Aracruz – já ocupa mais de 350 mil hectares com o cultivo da planta. Nessa região, além dos produtores rurais, comunidades indígenas e quilombolas ainda brigam pelo reconhecimento de suas terras, invadidas ilegalmente pela indústria da celulose. Situação semelhante ocorre em outros estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí e Mato Grosso do Sul.
Segundo dados de uma investigação conjunta entre a ONG Repórter Brasil e o Instituto Rosa Luxemburgo, só a região sudeste concentra 55,8% de todo o eucalipto plantado no país. O estado com maior concentração é Minas Gerais, com cerca de 1,4 milhão de hectares de plantio. Em todo o país, a área de monocultura do eucalipto ocupa 6,5 milhões de hectares, de norte a sul. E há planos de expansão. Segundo esse mesmo estudo, o Governo Federal pretende triplicar essa área nos próximos 20 anos, através de créditos e financiamentos às empresas de celulose, que chegaram à ordem dos oito bilhões de reais entre 2009 e 2011.
Enquanto os pequenos produtores rurais sofrem os efeitos da monocultura do eucalipto, o valor bruto da produção de celulose no Brasil chegou aos 51, 8 bilhões de reais em 2010. Em 2017, mesmo com a crise econômica no seu auge, somente a Suzano Papel e Celulose teve um lucro líquido de 1,6 bilhão de reais


Moradores de Santa Cruz cobram reparações após venda da TKCSA


Foi anunciada na noite desta terça-feira, 21, a venda da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) para a empresa Ternium. O preço de compra foi de 1,5 bilhão de euros (R$ 4,9 bilhões) e incorpora na cifra a dívida de 300 milhões de euros que a TK tem com o BNDES. A siderúrgica opera em Santa Cruz desde 2009 e só recebeu a licença de operação definitiva no ano passado. A operação de venda da TKCSA, que ainda precisa ser autorizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), será concluída entre os meses de julho e setembro deste ano, uma vez que sejam definidos os bancos que financiarão a aquisição.
Moradores de Santa Cruz, impactados pela ação da empresa, receberam com preocupação a notícia. “A gente foi pego de surpresa. Tem que vê se o grupo que comprou vai arcar com os prejuízos. A poeira continua, todo mundo doente, os pescadores sem trabalhar. E aí, como fica?”, questionou a dona de casa Maria Regina, moradora da região próxima à empresa.
Em 2010, no início da operação da TKCSA, Regina e seus vizinhos, moradores do Conjunto São Fernando, no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, tiveram as casas inundadas por uma enchente. Ela faz parte de um grupo de cerca de 300 moradores que movem ações judiciais na Defensoria Pública do Estado do RJ cobrando reparações pelos seguintes danos: rachaduras nas casas próximas à linha do trem, interrupção da pesca artesanal, enchente no canal do São Fernando e agravamento dos problemas de saúde provocados pela Chuva de Prata. “Meu conjunto ficou uma semana debaixo d’água. Prejuízo imenso, aquela água suja. E até agora nenhuma reparação”, lembra.
Gabriel Strautman, da coordenação do Instituto Pacs, explica que a TKCSA é uma espécie de modelo do que não deve ser feito em se tratando dos trâmites legais e éticos no âmbito da cadeia de mineração. “A gente costuma dizer que esse é um caso emblemático porque ele é problemático em todo o processo. Primeiro que a empresa, maior siderúrgica da América Latina funciona produzindo em larga escala, com alto impacto socioambiental, e só foi obter licença do órgão ambiental no ano passado, após sete anos de sua instalação”, lembra. O Instituto Pacs assessora os moradores/as impactados pela ação da empresa desde a instalação.
“Além disso, a TKCSA não chegou a cumprir totalmente o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no que diz respeito a, por exemplo, realização de um estudo epidemiológico para avaliar os impactos sobre a saúde dos moradores impactados e a instalação de uma unidade sentinela voltada para suprir demandas de saúde da população”, completa Gabriel.
O diretor executivo da empresa, Heinrich Hiesinger disse que caberia ao novo comprador a herança de todo o passivo sócio-ambiental deixado pela Thyssenkrupp em Santa Cruz, assim como as implicações legais relacionadas às ações de reparação. A declaração foi feita durante a última assembleia de acionistas do Grupo Thyssenkrupp, realizada em janeiro deste ano.
Quem é a Ternium?
Fundada em 1961, a Ternium é uma empresa familiar controlada pelo empresário argentino Paolo Rocca, detentor de 70% das ações. Apesar de sua origem argentina, a empresa possui sede tributária e comercial em Luxemburgo. Em 2016, a Ternium obteve um lucro de US$ 707 milhões, aumentando em quase 11 vezes os US$ 60 milhões obtidos em 2015. É uma das principais produtoras de aço da América Latina atuando no México, Argentina, Colômbia e Guatemala. Não é a primeira vez que a empresa, que já é sócia da Usiminas ao lado da Nippon Steel,tenta investir em siderurgia no Rio de Janeiro.
Em 2012, a Ternium desistiu de construir na região do Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense, uma unidade de beneficiamento de minério de ferro e uma usina siderúrgica. A decisão foi tomada alguns meses após o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) suspender através de uma ação civil pública as licenças ambientais das obras de implantação da siderúrgica. De acordo com o MPRJ, ao entrar em operação, a siderúrgica lançaria poluentes com propriedades cancerígenas na atmosfera, como o benzeno.
Imagem: TKCSA, em Santa Cruz (RJ), apontada como causa do aumento em 78% da emissão de CO2 no Rio de Janeiro / Foto: arquivo Pacs


sábado, 11 de fevereiro de 2017

No Maranhão, posseiros têm suas terras ameaçadas por latifundiários


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Projeto Matopiba acelera pressão sobre as terras dos pequenos agricultores na região
Mayron Regis – Brasil de Fato
São inúmeros os relatos dos moradores de diversas comunidades da região do Matopiba, sigla que congrega os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que denunciam a sanha do agronegócio sobre suas terras, por apostarem algumas de suas fichas no Plano de Desenvolvimento Agropecuário (PDA-Matopiba), criado em 2015 pela então Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Kátia Abreu, para desenvolver a monocultura na região.
Vicente de Paula é um desses agricultores que vem sofrendo pressão de latifundiários da região para que ele venda sua terra. Posseiro de uma área de 150 hectares na Chapada do município de Buriti, no Maranhão, e morador da região desde a década de 1990, Vicente já resistiu a várias investidas do sojicultor André Introvini, que tenta comprar sua área terra por um preço muito abaixo do valor de mercado ou trocá-la por outras áreas espalhadas pelo município.
“Aqui era uma Chapada só de mato. Nos primeiros anos em que trabalhei aqui com meu padrasto e o pessoal achava que eu era doido. Ninguém queria a Chapada. O maior problema era água. Agora vejam, aqui temos poço, faço minha roça, tem bacurizeiro, pequizeiro e outras espécies, e querem que eu mude para a beira do rio Preto onde não pode desmatar e só tem pedra”, relata.
André Introvini é um acusado pela população local como um destes latifundiários que arregimentam terras na região. Proprietário da fazenda São Bernardo, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Maranhão (Aprosoja) e um dos articuladores do Matopiba na região do Baixo Parnaíba, André Introvini é denunciado por diversas lideranças locais por tentar se apropriar da última grande Chapada que circunda o povoado Brejão, uma área que carrega todas as características de ser uma comunidade quilombola e que coincide com as bacias de três rios regionais: a bacia do rio Buriti, que desagua no rio Parnaíba, e as bacias do rio Preto e do riacho Feio, afluentes do rio Munim.
Relatos da população local dizem que o grupo João Santos, empresa de produção de açúcar com sede em Coelho Neto, diz ser proprietário dessa Chapada com mais de quatro mil hectares de Cerrado, e quer vendê-la para André Introvini.
Em 2009, funcionários da fazenda São Bernardo desmataram vários bacurizeiros dentro da área de Vicente de Paula, que entrou na justiça com um pedido de interdito proibitório contra André Introvini. A decisão saiu em 2013 e foi favorável ao agricultor. Na luta para permanecer na Chapada, Vicente de Paula conta com o auxílio da Associação dos Amigos de Buriti (AMIB) e do Fórum Carajás que já levaram projetos produtivos para ele e sua família, como o manejo de bacuri, a criação de frango caipira e de bode.
Para Edmilson Pinheiro, secretário-executivo do Fórum Carajás, “a região do Baixo Parnaíba não é a primeira a ser impactada pelo avanço da fronteira agrícola. Contudo, os impactos não se limitam aos desmatamentos da vegetação nativa. Nos municípios do Baixo Parnaíba vivem várias comunidades tradicionais (quilombolas e extrativistas) e assentamentos da reforma agrária que são afetados diretamente e indiretamente pelo uso de agrotóxicos, pela morte de suas criações e pelas mudanças no clima”, avalia.
A posse de Vicente fica bem no meio da Chapada, justamente num local em que as fazendas de soja gostam de se instalar. Porém, são poucos os moradores que tem algum tipo de documentação da sua área, já que a maioria são posseiros. Com isso, como relata Vicente, os sojicultores, com conivência dos órgãos fundiários e ambientais do estado, buscam se apropriar dessas áreas. Eles sabem que muitas vezes os agricultores passam por dificuldades financeiras e oferecem algum trocado pela posse. Por meio dessa estratégia, a família Introvini angariou boa parte das áreas de Chapada do município de Buriti.
Proibido roçar
No primeiro semestre de 2016, correram os boatos que o grupo João Santos, empresa de cana de açúcar sediada em Coelho Neto, venderia o Brejão, e que os moradores não poderiam mais roçar em suas terras e que seriam remanejados para povoados mais distantes. O senhor Luis Ferreira Lima, 70, mora há mais de 30 anos no Bejão. Sua esposa, Maria José Rodrigues, 62, nasceu e se criou naquele Baixão. Ferreira conta que é sabido na região que o grupo João Santos comprou a fazenda do Brejão, propriedade de 150 hectares do ex-deputado Pedro Novaes, mas que a Chapada é terra do Estado.
Por várias vezes, os funcionários deixaram ordens para os moradores não roçarem a terra, uma forma de tornar mais difícil a vida dos moradores, já que sem suas roças de arroz, feijão e mandioca eles não se alimentariam e nem fariam renda. Na ocasião, Luis Ferreira consultou seus vizinhos do Araçá, que disseram justamente o contrário, e o aconselharam a fazer a roça para demonstrar que ele exercia a posse da terra, caso a questão fosse parar na justiça.
A diocese de Brejo acompanha o caso por meio do advogado Diogo Cabral que entrou na justiça de Buriti com uma liminar de manutenção de posse em favor da comunidade do Brejão, mas o caso ainda não foi julgado.
Luis Ferreira relata que é comum o grupo de João Santos oferecer dinheiro ou alguns hectares de terra para que os moradores vendam suas terras. Ferreira é um idoso de força e coragem que roçou a Chapada para plantar sua mandioca, e agora espera a chuva para plantar arroz na próxima safra. Ferreira acredita que os funcionários do grupo João Santos não demorarão muito para voltarem a incomodá-lo por conta de suas plantações. No final de dezembro de 2016, um trator da empresa demarcou para cada morador uma pequena área para que eles plantassem seus cultivos. “Eles querem que eu fique encolhido nessa área? E onde farei minha roça?”, questiona.
Certo dia, conta o agricultor, um gerente do grupo João Santos perguntou a ele se queria fazer um acordo. Luis Ferreira respondeu que o único acordo que toparia seria morar na terra onde vive há muitos anos.
Edição: Luiz Felipe Albuquerque
Vicente de Paula mostra sua roça de Feijá destruída pelos tratores do André Introvini/Foto: Geraldo Iensen

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Ameaças prosseguem visando a destruição da comunidade tradicional do Cajueiro em São Luís


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Seguindo o modo de operação da empresa WPR que, desde que começou a pleitear a construção de um megaporto privado na área onde está assentada a comunidade tradicional do Cajueiro, na capital do Maranhão, esta semana foi recheada de novos capítulos na novela que já teve ameaças a moradores e que agora chegam a defensores públicos e pesquisadores que acompanham a jornada da comunidade na batalha em defesa de seu território.
Uma apócrifa “associação de desempregados da indústria pesada” vem assinando mensagens via celular e distribuindo panfletos nas dependências da Universidade Federal do Maranhão, não apenas defendendo interesses do empreendimento – que pode riscar mais uma comunidade tradicional do mapa de São Luís como ainda aumentar a degradação ambiental na já fragilizada Ilha do Maranhão -, mas ameaçando diretamente e citando nominalmente professores que acompanham a questão, dizendo-se pronta “para o que der e vier”.
Desde que começou a demonstrar interesse pela construção do empreendimento, a WPR – subsidiária da WTorre, usou de instrumentos nada convencionais para ver cumpridos seus intentos: contratou empresa irregular de segurança para ameaçar moradores, realizou audiência nada pública para ver aprovado o projeto do porto, e conseguiu o silêncio e a falta de transparência da secretaria estadual de Meio Ambiente (tanto nos governos Roseana Sarney quanto no de Flávio Dino) na tramitação de seus pedidos de licença.
Agora, com o apoio e visibilidade que a comunidade vem obtendo junto aos demais moradores de São Luís e mesmo Brasil afora, continua a jogar pesado com ameaças, compra irregular de terrenos na área e drible às instituições, recorrendo agora à montagem de associações que lhes defenda os interesses: a exemplo dos empregos prometidos, cerca de 80% são temporários, precários e terceirizados, vendidos como promessa de “terreno no céu” em troca do apoio á morte da comunidade e do aumento da poluição na capital. Os governantes (a WTorre financiou campanhas eleitorais de políticos do grupo Sarney e promoveu eventos do atual governo maranhense) fazem vistas grossas às arbitrariedades tocadas pela empresa no solo maranhense, ou fazem de conta que atuam para limitar suas ameças, mas a WPR/WTorre sempre dá um jeito de seguir com seu modo de atuação, como agora se observa nas mensagens contra instituições e pesquisadores no Maranhão.
O caso exige resposta rápida e à altura por parte das autoridades, enquanto os antigos moradores de Cajueiro seguem em sua luta para manter seus direitos.
Enviado para Combate Racismo Ambiental por Claudio Castro