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Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

quarta-feira, 27 de março de 2013

SOBRE A PRETENSA IGUALDADE EPISTEMOLÓGICA ENTRE A CIÊNCIA E OUTROS SABERES


Impera hoje no Zeitgeist dos movimentos sociais e na Academia (particularmente nas Ciências Humanas: Sociologia, Antropologia, Geografia, etc.) um pensamento que, de maneira pretensiosa, advoga uma “igualdade” (metafísica, diga-se de passagem) entre a ciência (o saber científico) e outras formas de saberes (como saberes indígenas e camponeses).
Expoente máximo desse pensamento que advoga o “igualitarismo sapiencial” é o sociólogo pós-moderno Boaventura de Souza Santos.
Em Introdução a uma ciência pós-moderna, Boaventura escreve: “As lutas de verdade são travadas como discurso argumentativo e a verdade é o efeito de convencimento dos vários discursos de verdade em presença e em conflito”.
Em poucas palavras, o que se compreende no discurso do sociólogo em tela é que ele julga, tal como seus acólitos seguidores (caso do geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves) que o pensamento ocidental, que separa aquilo que é científico e racional daquilo que não é, leva a umainjustiça cognitiva, uma vez que conhecimentos alternativos (teologia, filosofia, saberes camponeses, indígenas) são qualificados pelo pensamento moderno ocidental como inferiores, posto que a episteme eurocêntrica (ciência) seria superior.
Ora, mas perguntam-me: “Arnaldo, mas Boaventura não está correto em sua afirmação? A culpa das mazelas sociais do mundo (tráfico, colonizações, misérias, favelas, privatizações, violência, desigualdade, criminalizações, pobreza, cegueira social, fundamentalismos) não decorre justamente de uma arrogância dos cientistas que são brancos, europeus, ocidentais, sexistas e machistas?”.
“Em verdade, em verdade vos digo”: Boaventura de Souza Santos está completamente equivocado.
Se repararmos bem, na citação que extraí do seu livro supracitado, compreenderemos que o sociólogo pós-moderno relativiza a verdade científica, ou até mesmo a verdade em si. Resumindo: a verdade está presente em todo conhecimento (filosofia, teologia, saberes indígenas, camponeses), mas, simultaneamente, ela não está em lugar algum posto que é relativa e depende de cada circunstância e método. A verdade torna-se meramente discursiva.
Ainda em Introdução à uma ciência pós-moderna, o maior absurdo é o que este sociólogo escrevera acerca da objetividade: “é a propriedade do conhecimento científico que obtém o consenso no auditório relevante dos cientistas”.
Dessa forma, a pretensa objetividade científica, sua pretensa superioridade sapiencial se esvaiu porque ela só é relevante para os cientistas (óbvio! para quem mais seria não é Boaventura?).
Ironias a parte, o conceito de objetividade que o sociólogo em tela nos apresenta é paupérrimo. Paupérrimo porque carece de determinações e mediações que nos são ofertadas pela própria realidade objetiva. E aqui está o limite de Boaventura: o primado da ontologia cede espaço ao da epistemologia. Traduzindo: a verdadeira ontologia do ser social é aquela que captura a realidade objetiva, a partir de mediações,categorias, determinações da Economia Política, independentemente das nossas representações. Quando a realidade social fica subordinada a um pensamento que é, por sua natureza, incapaz de dar conta da totalidade social, a objetividade é questionada (como faz o sociólogo e toda a “sagrada família” pós-moderna que vai de Lyotard à Bruno Latour) em detrimento de construções cognitivas (a realidade é aquilo que cada umpensa dela!), representações, vontades e todo esse leque de filosofias, que se estendem de Schopenhauer à G.Vattimo, passando por Nietzsche, Heidegger, Foucault, Derrida, Deleuze, Guattari, Arturo Escobar, Paul Virilio, Wolfgang Sachs, cuja função-mor destes ilustres pensadores é escotomizar a realidade objetiva das massas camponesas e operárias.
Quando se culpa a ciência pelas mazelas sociais mundanas, quando se diz que a ciência é “ocidental, sexista, machista”, todo e qualquer pensador que adere a essa corrente faz anuviar o real culpado: o modo capitalista de produção. Quando se culpa a ciência, o que fica obnubilado é justamente a dominação da ordem burguesa (Cf. José Paulo Netto). Basta pensarmos se o conflito entre a Suzano e camponeses no leste maranhense é verdadeiramente uma luta de classes ou uma “disputa cognitiva”.
Mas nem tudo são trevas meus amigos. As Luzes estão vivas em alguns ainda. Os pífios questionadores da ciência ou da “arrogância dos cientistas” poderiam muito bem ter outra visão desse instrumento de emancipação se compreendessem seu real significado como parte daquilo que o saudoso mestre húngaro chamou de intentio recta: “na intentio recta, tanto da vida cotidiana como da ciência e da filosofia, possa acontecer que o desenvolvimento social crie situações e direções que torcem e desviam esta intentio recta da compreensão do ser real”. Compreende-se que a intentio recta é um impulso ao conhecimento do real (Cf. Sérgio Lessa). Assim, a ciência é um complexo social e um conhecimento que tem como função desvendar o real. Para tanto, é preciso que a própria realidade tenda ao pensamento para que ela mesma (a realidade) seja conscientemente transformada.
O retorno à György Lukács é a saída para a tarefa de mudar o mundo, mais do que interpretá-lo, tal como nos foi legado pelo velho barbudo. Só com Lukács e através dele é que sairemos das disputas epistemológicas e adentraremos ao mundo da ontologia, uma verdadeira ontologia, a ontologia do ser social: o marxismo, a insuperável ontologia do nosso zeitgeist pós-moderno.

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