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Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

sábado, 4 de abril de 2015

Carajás: fim em 100 anos


Em 28 de fevereiro de 1985 a Companhia Vale do Rio Doce iniciou o transporte do minério de ferro de Carajás, no centro do Pará, até o porto da Ponta da Madeira, em São Luiz do Maranhão, em extensão de 892 quilômetros do sertão ao mar por ferrovia da própria Vale. O início das operações na maior jazida de minério de ferro do mundo completará 30 anos amanhã.
A imprensa local praticamente ignorou o fato, que também não recebeu a atenção devida da grande imprensa nacional, exceto por uma extensa série de matérias do enviado especial Francisco Góes, do jornal Valor Econômico, de São Paulo. A data histórica podia ter motivado uma avaliação dessas três décadas de mineração, que começou o novo ciclo com minério de ferro e manganês, e hoje inclui também níquel e cobre, substâncias de maior valor (embora com volume muito menor).
O primeiro trem que saiu da pera ferroviária de Carajás, em Parauapebas, aliás, não levou minério de ferro, mas manganês. Provavelmente porque o estoque na mina ainda não permitia o embarque do ferro, o que seria algo de estranhar num empreendimento que remonta a 1967, quando o depósito de ferro foi descoberto por uma equipe chefiada pelo geólogo Breno Augusto dos Santos, paulista que mora atualmente em Niterói, no Rio de Janeiro.
Se tal circunstância procede, ela talvez explique uma marca do processo de exploração mineral em Carajás: a pressa em produzir e expandir continuamente a produção, remendo quase tudo para o exterior. Em 2014 ela foi de quatro vezes o máximo previsto no projeto original: 120 milhões de toneladas.
Em 2007, quando a produção era de mais de 50 milhões de toneladas ao ano, a Vale – privatizada em 1997, no segundo ano do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB – atingiu o primeiro bilhão de toneladas extraídos a céu aberto, sem a necessidade de mina subterrânea, mais onerosa. Isso, em 22 anos de lavra. Nos sete anos a partir de 2008, até 2014, foram mais 700 milhões de toneladas. O novo bilhão, portanto, será atingido em 2016, em apenas nove anos.
No segundo semestre do próximo ano começará a entrar em operação a nova mina, chamada de S11D, que adicionará 90 milhões de toneladas à capacidade atual de Carajás, no maior empreendimento da história da antiga CVRD, com investimento de 17 bilhões de dólares. O novo bilhão será batido em 2023, num intervalo de apenas sete anos. Em tese, o esgotamento do minério de ferro de Carajás acontecerá em pouco mais de um século, se a Vale não aumentar novamente a escala de produção até lá.
É tempo correto ou aceitável? A resposta é complexa, envolvendo variáveis técnicas e políticas, não apenas internas, mas considerando a escala mundial. Esta é a de Carajás desde o seu nascimento, quando era de propriedade exclusiva da siderúrgica americana United States Steel (a Vale entrou dois anos depois da revelação da jazida; sua sociedade com a multinacional acabou em 1977, quando a então estatal se tornou a única dona da província mineral). Agora vinculada à economia asiática, sobretudo à China, a análise tem que partir dessa grave circunstância de um comprador que absorve sozinho 60% da produção.
Qualquer que viesse ser a definição de um exame crítico sobre o futuro de Carajás, um ponto é pacífico: ele é monopólio da própria Vale. Se esse pressuposto é aceito, então o modo atual de lavra é o melhor possível. Em escala microeconômica, a empresa dobra a sua produção para reduzir o custo de produção, que é de 23 dólares a tonelada, para menos de US$ 20. Mesmo bastante rebaixado, o preço da commodity no mercado internacional ainda é de US$ 62 a tonelada. Logo, a Vale tem lucro, mesmo incluindo os custos adicionais ao operacional.
É lucro pequeno, a ameaçar o fluxo de caixa, em comparação com o alto grau de endividamento, e a prejudicar as ações da empresa na bolsa de valores. Expandindo a lavra, porém, e graças ao teor de hematita contida na rocha em Carajás, superior quase 10% em relação ao minério standard no mercado internacional, a Vale pode deslocar ou liquidar concorrentes e estar em posição mais confortável para o momento – ainda incerto, mas não de curto prazo – em que o preço do ferro voltar a subir.
Mas será uma boa estratégia para o Brasil e o Pará a liquidação da melhor jazida do minério mais usado pela sociedade humana em um século, recebendo apenas compensação financeira, royalties, ISS e sobras do lucro líquido? O Pará fracassou até agora no fomento à industrialização da matéria prima. As usinas de gusa e as aciarias primárias agregam pouco valor. Não constituem, a rigor, bem industrializado.
O Estado repete, no extrativismo mineral, os erros cometidos no ciclo da borracha, em versão ampliada e piorada. Vai pagar caro por isso quando descobrir que Carajás virou passado acusador.

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