Por Assessoria de Comunicação – Cimi
Integrantes da Guarda Florestal Indígena do povo Pyhcop Catiji Gavião,
da aldeia Rubiácea, bloquearam nesta terça-feira, 13, uma estrada aberta por
madeireiros utilizada para a retirada ilegal de madeira da Terra Indígena
Governador, no sudoeste do Maranhão. Um integrante do bando criminoso forçou a
passagem e o conflito se estabeleceu, ainda sem notícia oficial de feridos.
Desde então, em represália, os madeireiros passaram a se concentrar e ameaçam
invadir a aldeia Rubiácea a qualquer momento.
“As mulheres e as crianças estão deixando a aldeia, indo pra outras.
Estamos nós aqui prontos pra resistir, mas não queremos violência e já
comunicamos as autoridades competentes que até o momento não enviaram a força policial
para não permitir invasão. Sabemos que eles são bem armados”, declara Cyycy
Gavião. O indígena explica que os Gavião têm feitos apreensões constantes de
madeira, por conta própria, porque o governo federal não toma providências. O
revide dos madeireiros, portanto, acontece na habitual impunidade a este tipo
de crime contra o patrimônio.
Conforme o missionário indigenista Gilderlan Rodrigues, integrante do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, “o clima é tenso. Os
indígenas temem que um novo conflito aconteça se nada for feito pelos órgãos
responsáveis”. O município de Amarante é a principal sede utilizada pelos
madeireiros para a entrega a serrarias, e outras empresas do ramo, das árvores
derrubadas no interior da terra indígena. Na cidade também se concentram e
atuam em rede, na medida em que várias regiões do território Gavião são alvo de
invasões e devastações criminosas.
No mês de março
deste ano, os indígenas José Caneta Gavião e Sônia Cacau Gavião foram
assassinados em Amarante atropelados por um caminhão madeireiro
– motorista e veículo foram identificados pelos indígenas por conta da presença
de ambos em constantes ações da Guarda Florestal. Este foi o terceiro
atropelamento com morte de indígenas Gavião provocados por caminhões
madeireiros em menos de um ano. Os Gavião atribuem a represálias por suas
ações contra madeireiros. Na Terra Indígena Governador, demarcada com quase 42
mil hectares, vivem ainda grupos Tenetehar/Guajajara.
“Os madeireiros dizem que se a gente continuar tentando impedir a
retirada da madeira vamos sofrer consequências ruins. Difícil enfrentar: são
pessoas que andam armadas, e a gente não”, afirma Marcelo Gavião. Fazendeiros
também ameaçam. De acordo com a denúncia protocolada junto ao Ministério
Público Federal (MPF), um deles é Aerton Ferraz, vulgo “Gaúcho”, ocupante da
terra indígena. A Guarda Florestal acabou sendo formada em 2015 justamente para
o povo ter mais condições de enfrentar as violentas represálias madeireiras.
Em 2011, conforme dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), das 20
áreas mais desmatadas no país, cinco estavam no Maranhão. Já em 2013,
madeireiros cortaram a energia da Aldeia Nova e colocaram armadilhas na estrada
que leva à aldeia. Os Gavião não se intimidaram. Durante ações de fiscalização,
apreenderam caminhões e um trator. Na noite do dia 21 de abril de 2016, o indígena
Joel Gavião Krenyê, liderança do povo, morreu em um suposto
acidente, onde apenas o veículo em que o indígena estava permaneceu no local.
Embora a justificativa oficial para a morte seja a de que Joel se envolveu em
um acidente automobilístico, a perícia não foi realizada. Os indígenas defendem
que se tratou de um atentado contra Joel.
Demarcação
A Terra Indígena Governador está registrada – quando o processo de
demarcação se conclui após a homologação – com 41.644 hectares. No entanto, os
Gavião reivindicam uma outra área que foi colocada de fora neste primeiro
procedimento administrativo – realizado antes de Constituição de 1988. Esta
segunda demarcação já possui um relatório de identificação e delimitação, mas a
Funai não o publicou.
“Então o procedimento encontra-se paralisado mesmo com o relatório
pronto. As informações que nos chegam é que existe uma uma pressão contra a
Funai para que não seja publicado. Enquanto isso as invasões não cessam. A
ausência da publicação possibilita ainda a organização dos fazendeiros contra o
processo”, afirma Gilderlan Rodrigues, do Cimi.
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