Os ativos da Suzano no Maranhão e o projeto de reflorestamento com eucalipto da empresa no Piauí apontam para a ponta de um iceberg financeiro bem maior que se desloca da região de Mata Atlântica para os biomas de pouca expressão midiática como os Pampas, no estado do Rio Grande do Sul, o Cerrado e a Caatinga, na região meio-norte – estados do Maranhão, Piaui e Tocantins.
Os interesses do setor florestal se espraiam por regiões ainda “adormecidas” do ponto de vista econômico na certeza que chegou a hora da ampliação da área plantada. Talvez nas mentes desses interesses já tenha mais que passado da hora como bem se viu no município de Santa Quitéria, Baixo Parnaíba maranhense, no começo de maio de 2009.
As relações entre o setor florestal, o Estado e a sociedade civil inexistem e isso decorre justamente porque o que o setor florestal busca, à medida que enceta conversações com os governos sobre projetos de reflorestamento, são condições favoráveis a partir do local, do regional, do nacional e do internacional.
As instituições financeiras multilaterais ditaram as condições favoráveis exigidas em várias reuniões com os órgãos do Estado como se estes fossem bonecos de presépio. Nesse caso, a sociedade civil nem encenava os diálogos, pois todas as falas haviam sido distribuídas para uns poucos sabichões.
Uma monocultura por natureza requer uma conspiração de sabichões em torno de si porque os segredos a protegem de inquirições de parte da sociedade civil. A monocultura comparece como uma barreira para qualquer outro atrativo, uma barreira que assusta a agricultura familiar e os extrativistas, porque a monocultura responde uma pergunta ou outra e depois vai embora deixando o espaço vazio. Os sabichões cobrem esse espaço vazio com o manto das ciências econômicas, sociais e biológicas.
Perante a sociedade, o maior segredo guardado seria justamente o que de biodiversidade se perde quando um projeto de reflorestamento com eucalipto ou plantio de grãos se instala em um determinado bioma. Os profissionais contratados pela empresa para figurar os dados da realidade sócio-ambiental e os funcionários do órgão ambiental destacados para analisar esses dados deveriam desvendar esse segredo. O que muitas vezes se preconiza como a norma da figuração e da análise dos dados é a complacência.
Em vez da figuração e da análise se contraporem ao iceberg financeiro, elas acabam cerrando fileiras ao lado dos sabichões; em parte porque acham os caras mais sabidos mesmo e finalmente porque querem ser como eles.
Desde o meio do ano passado a Suzano Papel e Celulose planta informações na mídia como quem dá um doce para uma criança, quer dizer, querendo parecer que não quer nada a não ser o bem-estar da sociedade civil do Maranhão e do Piaui. Uma hora planta a noticia que investirá tantos milhões em reflorestamento com eucalipto. Outra hora que pode investir em duas fábricas no Piaui para o processamento da madeira. O espaço concedido na mídia torna bem desfavorável qualquer debate a respeito da implantação da Suzano no Maranhão há quase vinte anos e como foram feitas as negociações para os projetos de reflorestamento com eucalipto envolvendo a empresa e os governos do Maranhão e do Piaui porque como foi escrito anteriormente corre nas raias vários segredos que fica difícil ver qual primeiro mostra a cara para o fotógrafo.
Em certo dia do mês de junho, um representante da Suzano em São Luis do Maranhão ligou para o Fórum Carajás pedindo para agendar uma conversa com alguém muito importante da empresa que estaria no estado. A conversa giraria em torno das denúncias divulgadas no sítio do Fórum Carajás. Pensou-se em aceitar a proposta, mas primeiro se consultou a Sociedade dos Direitos Humanos. Esta se posicionou rigorosamente contra qualquer conversa com a Suzano pelo fato da empresa ter desrespeitado o acerto feito com as comunidades do Pólo Coceira, em Santa Quitéria. A Secretaria do Fórum Carajás informou as razões da negativa ao funcionário da Suzano.
A conversa que o funcionário importante da Suzano queria ter não era só com o Fórum Carajás. Ele esteve em Santa Quitéria conversando com o prefeito da cidade que se dispôs a ajudar a demover as comunidades do Pólo Coceira da sua postura de resistência com auxilio da policia militar do estado do Maranhão. O mesmo prefeito chantageia moradores que apóiam a luta das comunidades afirmando que vai retirar um agrado que a prefeitura dá todo mês.
Mayron Régis
Quem sou eu

- José Arnaldo
- São Luís, Maranhão, Brazil
- Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.
terça-feira, 25 de junho de 2013
Quem são os Vândalos e os violentos?, por Gilvander Luís Moreira
Por racismoambiental,
22/06/2013 09:11
Por Gilvander Luís
Moreira[1]
Nos primeiros dias dos justos e necessários protestos na capital
de São Paulo, do Movimento Passe Livre, a TV Globo e a mídia em geral estavam
chamando todos os manifestantes de vândalos e arruaceiros, atitude
criminalizadora.
Quando as manifestações se espalharam pelo país, a mídia começou
a fazer uma distinção: “O movimento é pacífico, mas tem uns vândalos no meio
que promovem quebradeira”. Provavelmente, os donos do poder midiático,
principal “partido” no Brasil, querem conduzir as massas e reduzir as
manifestações somente a “paz e amor”, o que não estremecerá o status
quo podre do sistema capitalista, ora vigente no Brasil. É hora de
resgatarmos a história e fazermos algumas reflexões.
Quem eram os Povos Vândalos? “Os Vândalos eram um povo
germânico oriental que penetrou no Império Romano durante
o século V e criou um estado no norte
da África ocupando a cidade de Cartago, antiga
cidade fenícia que fora ocupada pelos romanos desde o fim
das Guerras Púnicas. A localização de Cartago às margens
do Mediterrâneo era estratégica para os Vândalos. Ali centralizaram
seu Estado, e logo após se estabelecerem, saquearam Roma no ano de
455.”[2]
“Ao longo da marcha para o oeste, os Vândalos atingiram a margem
do Danúbio e alcançaram o rio Reno, onde entraram em combate com os francos.
Aproximadamente vinte mil vândalos morreram no choque entre esses dois povos,
sendo que os francos só foram derrotados quando os alanos entraram no combate
para auxiliar os vândalos. Em ações ousadas, os Vândalos saquearam Roma durante
duas semanas no ano de 455 e foram capazes de resistir ainda a uma frota
enviada pelo Império Romano para combatê-los.”[3]
Portanto, a história demonstra que os Vândalos eram um povo
digno que lutou aguerridamente contra o imperialismo romano. Logo, não é justo
se referir aos Vândalos apenas como arruaceiros. Eles lutavam por direitos.
Ontem, o império romano. Hoje, o império do capital, liderado
pelos capitalistas. Assim como os Vândalos lutavam contra a opressão do Império
Romano, hoje milhões de brasileiros, nas ruas, lutam não apenas por migalhas,
mas por direitos. Vândalos, hoje, não são os que revelam a infinita indignação
que toma conta do povo diante de tanta violência provocada por um Estado
vassalo do capital e dos capitalistas. Assim, a revolta iniciou com a luta por
0,20 centavos, mas irá muito longe. Não se encerrará sem mudanças substanciais
no modelo econômico e político que desgoverna o Brasil.
Quem são os violentos hoje no Brasil? São os políticos,
salvo raras exceções, que não representam o povo, mas, via de regra, defendem
interesses de grandes empresas e latifundiários.
Violentos são juízes do Poder Judiciário que não respeitam os
princípios constitucionais de respeito à dignidade humana, republicanismo,
função social da propriedade e criminalizam os movimentos sociais populares e
absolutizam o direito a propriedade para apenas alguns.
Violentos são os administradores públicos e os juízes que
abarrotam as prisões, verdadeiros campos de concentração, jogando lá somente os
pobres, negros e jovens.
Violentos são os grandes empresários que lucram, roubam e
saqueiam a classe trabalhadora pagando míseros salários e, com
intensificação do trabalho e do produtivismo, arrebentam com a saúde dos
trabalhadores, empurrando-os para avia crucis do SUS.
Violentos são as grandes mineradoras que, como em Conceição do
Mato Dentro, MG, causam uma devastação socioambiental sem precedentes na
história. Com coração de pedra, vão dizimando as nascentes de água e deixando
crateras, um rastro de destruição.
Violentos são os grandes empresários do transporte público
privatizado que lucram bilhões carregando o povo trabalhador como se esse fosse
gado para ser transportado em condições indignas e por preço que esfola o povo
diariamente.
Violentos são os banqueiros que cometem cotidianamente o pecado
da usura e especulando com o dinheiro do povo engordam seu poder econômico às
custas de muito sangue humano.
Violentos são os latifundiários que não cumprem a função social
da propriedade e sequestram a terra em poucas mãos gananciosas expulsando
milhões de camponeses para as periferias das cidades.
Enfim, violentos são os dirigentes da classe dominante que há
séculos vêm pisando, humilhando e violentando a classe trabalhadora brasileira.
Eis um exemplo: na época da escravidão formal, um cortador de cana cortava de
três a quatro toneladas de cana por dia. Hoje, um boia-fria dos canaviais
paulistas corta de doze a quatorze toneladas por dia. Por isso, de 2004 a 2006,
mais de vinte trabalhadores morreram por exaustão no trabalho.
É contra esses violentos que o povo se rebelou e estará nas ruas
até que seus direitos sejam conquistados e efetivados. A luta é por justiça
social, por justiça agrária, por justiça ambiental e por direitos humanos.
Feliz quem dela participar e também contribuir para que espertalhões de plantão
não venham golpear o povo já tão oprimido, mas que está se levantando.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 21 de junho de 2013.
Frei Gilvander Luís Moreira
– www.gilvander.org.br – gilvanderlm@gmail.com
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e
bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em
Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando
em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina;
conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH;
e-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis -
Facebook: Gilvander Moreira
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A2ndalos ,
acesso em 21/06/2013.
[3] Antônio Gasparetto Júnior
in http://www.infoescola.com/povos-germanicos/vandalos/ , acesso em
21/06/2013.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
ES – Novo dossiê da Vale aponta investigação a militantes dos movimentos sociais no Estado
Por racismoambiental, 12/06/2013 16:54
Gustavo De Biase e Valdinei Tavares foram citados em documento encaminhado por ex-gerente que denunciou a empresa de espionagem
Manaíra Medeiros, Século Diário
Um novo dossiê revelado pelo ex-gerente da área de Inteligência da Vale, André Almeida, aponta investigação da empresa ao articulador da Rede Sustentabilidade no Estado, Gustavo De Biase, e ao coordenador estadual do Movimento Nacional por Moradia e vice-presidente da ONG Amigos da Barra do Riacho, Valdinei Tavares. Eles são citados no relatório “Recuperação de posse do terreno Bicanga”, produzido em setembro de 2011 pelo Departamento de Segurança Empresarial (Dies).
O dossiê feito pela Vale detalha uma ocupação do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) a uma área objeto de litígio, localizada em Bicanga, na Serra, com 72 hectares. Na ocasião, cerca de 400 pessoas ocuparam o local durante seis dias. A Justiça determinou a reintegração de posse à empresa, em operação que contou com 90 policiais do Batalhão de Missões Especiais (BME) e da cavalaria da Polícia Militar, culminando com duas prisões.
No documento, a Vale trata como de “cunho político” a ocupação e associa o MTL ao Psol, antigo partido de Gustavo De Biase, que respondia pelo comando do diretório de Vitória na época. “As duas organizações, desde o início deste ano [2011], vem liderando vários movimentos sociais e políticos como invasões e protestos”, afirma o Dies.
O material apresenta foto de Valdinei Tavares e reprodução de informações divulgadas no blog da MTL, tratando Biase como “líder dos protestos [estudantis] em Vitória, e uma pessoa ligada e que orgulha o MTL”. Além de Valdinei, a Vale aponta como outro líder da ocupação Erick Tavares.
Sobre De Biase, a Vale acrescenta ainda tratar-se de um “pseudo líder dos protestos, que já foi candidato a deputado federal e atualmente é presidente do diretório municipal do Psol em Vitória, mesmo partido político do membro do MTL no Espírito Santo, Valdinei Tavares, que capitaneou a invasão em Bicanga”.
Na tentativa de criminalizar o movimento e os apoiadores da ocupação, a empresa recorda dos protestos de reivindicação da redução da passagem de ônibus na Grande Vitória. “Esse movimento causou graves transtornos à rotina do Estado, principalmente pelos confrontos entre os manifestantes e a força policial. Um evento com participação de vários ministros e do vice-presidente Michel Temer [PMDB] foi cancelado, em virtude da violência das manifestações. Pressionado pela opinião pública, o governador [Renato Casagrande] se viu obrigado a recuar com o uso da força militar”.
Ao contrário das matérias jornalísticas que divulgaram a ocupação, a Vale informa em seu dossiê a presença de 500 famílias, chegando a duas mil pessoas. A atuação do BME foi citada como “um exemplo” pela área de Inteligência da Vale. “A solicitação do GAESR para a presença imediata da força policial no local, mesmo antes de qualquer decisão judicial, foi prontamente atendida”. E completa a empresa: “a presença do BME mostra a força da Vale junto às autoridades policiais”.
As considerações do setor indicam que a operação foi positiva para Vale, já que não gerou mídia negativa, a exemplo do que havia acontecido em duas situações anteriores, a reintegração de posse do terreno em Aracruz e os protestos dos estudantes. “Em nenhum momento a Vale teve sua imagem atingida por ações de força, nem por parte do BME e nem por parte dos invasores”.
A Inteligência da empresa afirma que o terreno já havia sido mapeado pela Segurança Empresarial como alvo potencial de invasões, tendo resultado em trabalhos ostensivos como “retirada de andarilhos, grupo de ciganos e outras possíveis ameaças à propriedade”.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Habitação, instalada na Assembleia Legislativa com o objetivo de apurar irregularidades nos processos de regularização de imóveis, também foi citada no dossiê. Um dos focos dos trabalhos foi o terreno de Bicanga.
Litígio
A área em questão faz parte do espólio de Orzina Ribeiro Araújo e Malvino Coutinho de Araújo e é pleiteada pelos herdeiros. O grileiro José Olímpio Gomes havia comprado um terreno de mil metros quadrados na Praia de Carapebus, também no município da Serra, mas loteou e vendeu, em 1970, uma área de 181 hectares, ou seja, 1,81 milhão de m².
Para conseguir esta multiplicação de hectares, José Olímpio invadiu a terra vizinha ao terreno de 1000 m², separada pela Estrada de Manguinhos, fez uma planta de medição, numerou-a como GENP 10-01-105 e cadastrou-a no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com o número 505.021.100-2. Após o registro, vendeu 580 hectares das terras para a Vale, na época Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), apenas com base na planta e sem a documentação, registrando a companhia no Registro Geral de Imóveis como proprietária da área, que era, de fato, dos herdeiros de Orzina e Malvino.
Em 1992 os herdeiros entraram com uma ação reivindicatória contra a Vale, que acabou por anular tanto a compra quanto a venda da área por José Olímpio. Já em 2000, depois de extensa batalha judicial, os herdeiros conseguiram que a Vale depositasse em juízo mais de R$ 62 milhões, valor da área comprada indevidamente. No entanto, os herdeiros jamais tiveram acesso ao montante, que hoje está avaliado em mais de R$ 300 milhões.
Quando a Vale foi privatizada, nos anos 1990, recebeu um incentivo do governo federal para custear despesas com as indenizações e a compensação dos herdeiros era uma delas, mas nada do que devia foi pago. Depois de passar pelas instâncias locais e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), de recursos em todas as instâncias e até mesmo depois do desaparecimento de 800 folhas do processo dentro do STJ, sua tramitação ocorre no Supremo Tribunal Federal (STF).
terça-feira, 11 de junho de 2013
Suzano Papel e Celulose passa a integrag o Conselho Consultivo do Parque Nacional Chapada das Mesas
Por que uma empresa que destroi os cerrados maranhenses faz parte do conselho consultivo de uma unidade de conservação que conserva os cerrados?
Publicação: 10/06/2013 22:24
Publicação: 10/06/2013 22:24
A Suzano Papel e Celulose passa a integrar, a partir de agora, oConselho Consultivo do Parque Nacional da Chapada das Mesas (PNCM), localizado no Sul do estado do Maranhão, nos municípios de Carolina, Estreito e Riachão. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União no dia 05 de setembro de 2012 e a posse da representante da empresa ocorreu em cerimônia realizada no próprio no dia 24 de maio. O parque foi criado em 2005, em uma área de aproximadamente 160 mil hectares em região de cerrado, muito próximo da Amazônia e da caatinga.
O Conselho Consultivo trabalha na construção do projeto de gestão do parque, com foco em ações para a preservação e conservação desse importante extrato da fauna e da florabrasileiros que é um dos 25 hot spots mundiais, ou seja, áreas de prioridade extremamente alta para conservação da biodiversidade por sua importância biológica. O parque reúne cachoeiras, mesetas, morros, serras, riachos cristalinos, vales exuberantes com brejos de buritizais e veredas, paisagem que atrai muitos turistas para a região sertaneja do Maranhão.
O Conselho Consultivo trabalha na construção do projeto de gestão do parque, com foco em ações para a preservação e conservação desse importante extrato da fauna e da florabrasileiros que é um dos 25 hot spots mundiais, ou seja, áreas de prioridade extremamente alta para conservação da biodiversidade por sua importância biológica. O parque reúne cachoeiras, mesetas, morros, serras, riachos cristalinos, vales exuberantes com brejos de buritizais e veredas, paisagem que atrai muitos turistas para a região sertaneja do Maranhão.
Postado por Territórios Livres do Baixo Parnaíba às 07:07
Justiça reconhece fraude na privatização da Vale
Escrito por Da Redação
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Se você tivesse um cacho de bananas que
valesse R$9,00, você o colocaria à venda por R$0,30? Óbvio que não. Mas foi
isso que o governo federal fez na venda de 41% das ações da Companhia Vale do
Rio Doce para investidores do setor privado, em 1997. Eles pagaram R$3,3
bilhões por uma empresa que vale perto de R$100 bilhões. Quase dez anos depois,
a privatização da maior exportadora e produtora de ferro do mundo pode ser
revertida.
Por Maíra Kubík Mano
Em 16 de dezembro do ano passado, a juíza
Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília, anulou
a decisão judicial anterior e reabriu o caso, possibilitando a revisão do
processo. “A verdade histórica é que as privatizações ocorreram, em regra, a
preços baixos e os compradores foram financiados com dinheiro público”, afirma
Selene. Sua posição foi referendada pelos juízes Vallisney de Souza Oliveira e
Marcelo Albernaz, que compõem com ela a 5ª turma do TRF.
Entre os réus estão a União, o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso. Eles são acusados de subvalorizar a companhia na época de sua
venda. Segundo as denúncias, em maio de 1995 a Vale informou à Securities and
Exchange Comission, entidade que fiscaliza o mercado acionário dos Estados
Unidos, que suas reversas de minério de ferro em Minas Gerais eram de 7.918
bilhões de toneladas. No edital de privatização, apenas dois anos depois, a
companhia disse ter somente 1,4 bilhão de toneladas. O mesmo ocorre com as
minas de ferro no Pará, que em 1995 somavam 4,97 bilhões de toneladas e foram
apresentadas no edital como sendo apenas 1,8 bilhão de toneladas.
Outro ponto polêmico é o envolvimento da
corretora Merrill Lynch, contratada para avaliar o patrimônio da empresa e
calcular o preço de venda. Acusada de repassar informações estratégicas aos
compradores meses antes do leilão, ela também participou indiretamente da
concorrência por meio do grupo Anglo American. De acordo com o TRF, isso
comprometeu a imparcialidade da venda.
A mesma Merrill Lynch, na privatização da
Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) da Argentina, reduziu as reservas
declaradas de petróleo de 2,2 bilhões de barris para 1,7 bilhão.
Nova perícia
Depois da venda da Vale, muitas ações
populares foram abertas para questionar o processo. Reunidas em Belém do Pará,
local onde a empresa está situada, as ações foram julgadas por Francisco de
Assis Castro Júnior em 2002. “O juiz extinguiu todas as ações sem apreciação do
mérito. Sem olhar para tudo aquilo que nós tínhamos dito e alegado. Disse que o
fato já estava consumado e que agora analisar todos aqueles argumentos poderiam
significar um prejuízo à nação”, afirma a deputada federal doutora Clair da Flora
Martins (PT/PR).
O Ministério Público entrou com um recurso
junto ao TRF de Brasília, que foi julgado no ano passado. A sentença determinou
a realização de uma perícia para reavaliar a venda da Vale. No próximo passo do
processo, as ações voltam para o Pará e serão novamente julgadas. Novas provas
poderão ser apresentadas e os réus terão que se defender.
Para dar visibilidade à decisão judicial, será
criada na Câmara dos Deputados a Frente Parlamentar em Defesa do Patrimônio
Público. A primeira ação é mobilizar a sociedade para discutir a privatização
da Vale. “Já temos comitês populares em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná,
Pará, Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso”, relata a deputada, uma das
articuladoras da frente.
“Precisamos construir um processo de
compreensão em cima da anulação da venda da Vale, conhecer os marcos gerais
dessas ideias a partir do que se tem, que é uma ação judicial, e compreendê-la
dentro de um aspecto mais geral, que é o tema da soberania nacional”, acredita
Charles Trocate, integrante da direção nacional do MST. Ele participa do Comitê
Popular do Pará, região que tem forte presença da Vale.
Entre os marcos da privatização, que serão
estudados e debatidos nos próximos meses nos comitês, está o Plano Nacional de
Desestatização, de julho de 1995. A venda do patrimônio da Vale fez parte de
uma estratégia econômica para diminuir o déficit público e ampliar o
investimento em saúde, educação e outras áreas sociais. Cerca de 70% do
patrimônio estatal foi comercializado por R$60 milhões, segundo o governo.
“Vendendo a Vale, nosso povo vai ser mais feliz, vai haver mais comida no prato
do trabalhador”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1996. A
dívida interna, entretanto, não diminuiu: entre 1995 e 2002 ela cresceu de
R$108 bilhões para R$654 bilhões.
Na época, a União declarou que a companhia não
custava um centavo ao Tesouro Nacional, mas também não rendia nada. “A empresa
é medíocre no contexto internacional. É uma péssima aplicação financeira. Sua
privatização é um teste de firmeza e determinação do governo na modernização do
Estado”, afirmou o deputado Roberto Campos (PPB/SP) em 1997. No entanto,
segundo os dados do processo, o governo investiu R$2,71 bilhões durante toda a
história da Vale e retirou R$3,8 bilhões, o que comprova o lucro.
“O governo que concordou com essa iniciativa
não tinha compromisso com os interesses nacionais”, diz a deputada doutora
Clair.
Poder de Estado
A Vale se tornou uma poderosa força privada.
Hoje ela é a companhia que mais contribui para o superávit da balança comercial
brasileira, com 54 empresas próprias nas áreas de indústria, transporte e
agricultura.
“Aqui na região de Eldorado dos Carajás (PA),
a Vale sequestra todo mundo: governos municipais e governo estadual. Como o seu
Produto Interno Bruto é quatro vezes o PIB do estado Pará, ela se tornou o
estado econômico que colonizou o estado da política. Tudo está em função de seus
interesses”, coloca Charles Trocate.
Trocate vivência diariamente as atividades da
empresa no Pará e a acusa de gerar bolsões de pobreza, causados pelo desemprego
em massa, desrespeitar o meio ambiente e expulsar sem-terra e indígenas de suas
áreas originais.
“Antes da privatização, a Vale já construía
suas contradições. Nós temos clareza de que a luta agora é muito mais ampla.
Nesse processo de reestatização, vamos tentar deixar mais claro quais são as
mudanças que a empresa precisa fazer para ter uma convivência mais sadia com a
sociedade na região”, diz Trocate. De acordo com um levantamento do Instituto
Ipsos Public Affairs, realizado em junho de 2006, a perspectiva é boa: mais de
60% dos brasileiros defendem a nacionalização dos recursos naturais e 74%
querem o controle das multinacionais.
Patrimônio da Vale em 1996
● maior produtora de alumínio e ouro da
América Latina
● maior frota de navios graneleiros do mundo
● 1.800 quilômetros de ferrovias brasileiras
● 41 bilhões de toneladas de minério de ferro
● 994 milhões de toneladas de minério de cobre
● 678 milhões de toneladas de bauxita
● 67 milhões de toneladas de caulim
● 72 milhões de toneladas de manganês
● 70 milhões de toneladas de níquel
● 122 milhões de toneladas de potássio
● 9 milhões de toneladas de zinco
● 1,8 milhão de toneladas de urânio
● 1 milhão de toneladas de titânio
● 510 mil toneladas de tungstênio
● 60 mil toneladas de nióbio
● 563 toneladas de ouro
● 580 mil hectares de florestas replantadas,
com matéria-prima para a produção de 400 mil toneladas/ano de celulose
Fonte: Revista Dossiê Atenção –
“Porque a venda da Vale é um mau negócio para o país”, fls. 282/292, da Ação
Popular nº 1997.39.00.011542-7/PA.
Quanto vale hoje
● 33 mil empregados próprios
● participação de 11% do mercado transoceânico
de manganês e ferro-liga
● suas reservas de minério de ferro são
suficientes para manter os níveis atuais de produção pelos próximos 30 anos
● possui 11% das reservas mundiais estimadas
de bauxita
● é o mais importante investidor do setor de
logística no Brasil, sendo responsável por 16% da movimentação de cargas do
Brasil, 65% da movimentação portuária de granéis sólidos e cerca de 39% da
movimentação do comércio exterior nacional
● possui a maior malha ferroviária do país
● maior consumidora de energia elétrica do
país
● possui atividades na América, Europa,
África, Ásia e Oceania
● concessões, por tempo ilimitado, para
realizar pesquisas e explorar o subsolo em 23 milhões de hectares do território
brasileiro (área correspondente aos territórios dos estados de Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte)
Fonte: 5ª Turma do TRF da 1ª Região- Brasilia.
domingo, 9 de junho de 2013
ESBOÇO SINTÉTICO PARA UMA
CRÍTICA ONTOLÓGICA: LÉA ANASTASIOU E A DIALÉTICA DOS PROCESSOS DE ENSINAGEM
José Arnaldo dos Santos Ribeiro Junior[1]
Para Saulo Pinto Silva,
pelas aulas.
“O trabalho educativo é o ato de produzir,
direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é
produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”.
(Demerval
Saviani, A pedagogia histórico-crítica).
A premissa supracitada de Demerval Saviani nos
revela o quanto o trabalho[2] educativo, ou seja,
a educação como práxis criadora, como
atividade prática dos homens, é
direta e intencionalmente uma relação mediada
e concreta, no qual cada indivíduo,
dotado de características particulares,
singulares e subjetivas, estabelecem um nexo
teleológico-causal[3]
com a Humanidade[4],
compreendida aqui no sentido lato, o Homem como um Todo, nunca acabado, pois
permanente em fazer-se (Homem). Esta Humanidade
que se faz e ao mesmo tempo em que se
faz produz historicamente e coletivamente
necessidades e novas possibilidades
educacionais, põe-nos a refletir objetivamente acerca daquilo que
Anastasiou (2005) chamou de processo de
ensinagem. Na síntese crítica por ora escrita, pretendemos buscar
apresentar objetivamente as ideias centrais que constituem o foco de análise e intelecção da autora. O artigo de Anastasiou está subdividido em
oito tópicos, a saber: 1) Ensinar, 2) Aprender e Apreender, 3) Processo de
Ensinagem, 4) Processo de Ensinagem: o movimento necessário, 5) O movimento e o
método dialético: breve incursão, 6) As operações de pensamento, 7) Dos passos
aos momentos, e 8) Na busca de uma síntese possível. Todos os oito tópicos
apresentam uma coerência interna
(em-si) simultaneamente em que constituem
um nexo histórico, causal e objetivo dotado de coesão interna e externa
(em-si e para-si).
No primeiro tópico Ensinar, Anastasiou (2005, p.12) escreve que:
Um dos elementos básicos de
discussão da ação docente refere-se ao ensinar, ao aprender e ao apreender.
Essas ações são muitas vezes consideradas e executadas como ações disjuntas,
ouvindo-se até de professores afirmações do tipo: “eu ensinei, o aluno é que
não aprendeu”.
Isso decorre da ideia de
que ensinar é apresentar ou explicar o conteúdo numa exposição, o que a grande
maioria dos docentes procura fazer com a máxima habilidade de que dispõe; daí a
busca por técnicas de exposição ou oratória como elementos essenciais para a competência docente.
A
escritora vai começar a esboçar aqui uma diferença entre aprender e apreender
no qual, o processo de ensino, transforma-se numa mediação entre os dois momentos supracitados. Por essa via não há
disjunção, mas sim uma conexão entre
o que é exposto ou explicado com a forma
de apresentação e o conteúdo histórico.
Entender a história[5], a gênese do
ensinar, significa compreender os processos históricos objetivos que estão em
permanente movimento. Daí decorre a crítica da autora ao modelo jesuítico, o Ratio Studiorum, que transformava as
aulas em passos descompassados sem a preocupação do processo de humanização,
mas fixando categorias eternas via técnica da memorização.
Se
o insignare é um processo de mediação
entre aprender e apreender (tópico dois), o que diferencia estes dois momentos
do processo de ensinagem?
O apreender, do latim, apprehendere, significa segurar,
prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender, agarrar.
[...] O verbo aprender, derivado de apreender por síncope, significa
tomar conhecimento, reter na memória mediante estudo, receber a informação
de... (ANASTASIOU, 2005, p.14)
Essa
diferença que a escritora faz é de fundamental importância. Apreender é uma
ação muito mais complexa que aprender posto que o sujeito do conhecimento (o
aluno, p.ex.) se apropria do conteúdo e da forma que o professor leciona o
mesmo, através de um processo de assimilação. O aprender, unicamente,
jesuiticamente, reduz o apreender a uma memorização mediante o estudo. É claro
que aprender é um momento importante do movimento de ensinagem; todavia
enquanto a apreensão é uma totalização em
curso[6],
o aprender é uma totalidade já fixada, fechada, memorizada.
Por
isso tudo, é que a autora escreve no tópico três (Processo de Ensinagem) que:
Foi diante dessas reflexões
que surgiu o termo ensinagem, usado então para indicar uma prática social
complexa efetivada entre os sujeitos, professor e aluno, englobando tanto a
ação de ensinar quanto a de apreender, em um processo contratual, de parceria
deliberada e consciente para o enfrentamento na construção do conhecimento
escolar, decorrente de ações efetivadas na sala de aula e fora dela
(ANASTASIOU, 2005, p. 15).
O
neologismo ensinagem significa justamente que ensinar, aprender e apreender
são momentos do movimento educativo.
Uma educação em movimento, com seus
devidos sujeitos históricos (corpo docente e discente), deve estar atenta às
novas práticas de ensino e aprendizagem que visem à humanização do homem pelo ato educativo. Isto posto nos revela o
quanto a ação de ensinar é uma efetiva sociabilidade prática na medida em que
cria mediações complexas (novos conteúdos, novas formas, novas técnicas de
ensino, etc.) onde o contrato entre professor e aluno expressa que, pelo ato
educativo, pela práxis criadora da educação, ambos sujeito-objeto do processo
de ensinagem, tornam-se cada vez mais sociais e sociabilizados pela educação.
Há, portanto, um recuo do Estado de Natureza hobbesiano rumo a uma socialização
da natureza e do próprio homem, seja pelo trabalho (Marx) ou pela arte (Lukács)[7]. O homem quando se educa vai
paulatinamente eliminando o poder da “miséria, da imundície, da solidão, da
barbárie, da ignorância e da crueldade” (HOBBES, 2006, p.138). Como se vê a
partir deste uso linguístico hobbesiano, o saber educar é conhecer a existência
de novas necessidades e novas possibilidades que se abrem no constante processo
elaboração de questionamentos e respostas, de formas do conteúdo e do conteúdo
das formas, da aula expositiva e a exposição da aula, saber e sabor (como prega
a autora) enfim, a lista é infindável. A ação de ensino pela mediação docente e
a aprendizagem do estudante coagem o tempo inteiro se, e somente se, o ato
teleológico-causal educativo trabalhar objetivamente as processualidades
subjetivas em uma relação de objetivação que vise à compreensão, apreensão do
conteúdo objetivo a ser ensinado de forma satisfatória. O desafio da educação
como práxis é claramente tornar a práxis educativa, educadora e ativa.
No
tópico quatro, processo de ensinagem: o
movimento necessário, Anastasiou (2005, p.18) escreve que:
Para entender o movimento
do pensamento, é importante retomar os
elementos da metodologia tradicional. Como a inteligência era associada à memorização,
o trabalho docente se dirigia à explanação do conteúdo e à manutenção da
atenção do aluno. A exposição era o centro do processo, acompanhado da anotação
e memorização: a estratégia predominante era a da aula expositiva tradicional.
É
salutar entender que a autora não abdica totalmente da metodologia tradicional.
Claramente isso seria um equívoco porque a preleção do docente, as dúvidas dos
alunos, a feitura de exercícios para fixação e a memorização são momentos
importantes da aprendizagem. Só que eles não esgotam em si tal processo. A
historicidade aqui deve ser enfatizada posto que hodiernamente o foco está na
apreensão do conteúdo a ser apre(e)ndido. O aprender e o apreender levam
dialeticamente a produção de uma nova forma-conteúdo:
o processo de ensinagem.
É
justamente essa dialética, presente o tempo inteiro no texto de Anastasiou, que
ela vai enfatizar no tópico cinco intitulado: o movimento e o método dialético: breve incursão. O foco da autora
está na defesa da lógica dialética perante a lógica formal no que tange a
apropriação do conhecimento e de como esse conhecer (saber da existência) deve
se tornar próprio e propriedade de indivíduos-sociais.
Bebendo em autores como Georges Politzer, Vieira Pinto, Wachowicz, a filósofa
brasileira Marilena Chauí, o filósofo marxista/lukacsiano Leandro Konder e
Karel Kosik, Anastasiou insistirá na superioridade epistemológica da lógica
dialética sobre a lógica formal, como um processo espiráleo de totalização. De
fato, a lógica formal (presente em autores como Michel Foucault[8]) suprime o conflito, a
contradição. Quando a educação, a ação de educar, se torna apenas uma análise formal, não-dialética, qualquer
autor que adote esse percurso epistemológico
deixa de se preocupar com as contradições objetivas da realidade social (no
nosso caso, a sala de aula, p.ex.). Ou como escreveram dois velhos filósofos
alemães:
“Não é a consciência que determina a vida,
mas a vida é que determina a consciência”.
(Marx
& Engels, A Ideologia Alemã).
Apesar de a compreensão metodológica remeter a uma
subjetividade (a escolha pessoal do método), o modo como uma determinada
sociedade se reproduz materialmente põe a questão para o plano da objetividade. A objetividade, portanto,
implica no estudo efetivo da realidade que independe das representações, das vontades[9] humanas. Deste modo, voltando à citação
de Marx e Engels, não se explica a vida material pela consciência, mas sim se
explica a consciência pelas contradições
da vida material. Para o nosso caso, não se explica o processo de ensinagem
pela consciência[10], mas sim pelas contradições
da vida material.
Nos termos da dialética, destaque especial merece
ser dado ao filósofo alemão George W. F. Hegel (1770-1831). A dialética é em
Hegel idealista posto que concebe a
realidade como manifestação do Espírito a partir dos movimentos de
exteriorização (manifestação nas obras produzidas) e interiorização (sabedoria,
reconhecimento e compreensão de que as obras são produto do Espírito). Além
disso, a filosofia da história de Hegel apresenta como motor interno a contradição, bem como essa mesma
história é, na verdade, a história do Espírito[11].
Todavia,
Marx e Engels vão opor-se a esse entendimento da história partindo de
concepções basilares do seu pensamento: 1) a contradição, que em Hegel é do Espírito consigo mesmo, aparece em
Marx e Engels concretamente como luta de
classes; 2) a dialética, que em Hegel é idealista,
em Marx e Engels torna-se materialista.
Meu método dialético, por
seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele, inteiramente oposto.
Para Hegel, o processo do pensamento - que ele transforma em sujeito autônomo
sob o nome de ideia - é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação
externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material
transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado[12].
Como
se vê, é a dialética materialista e a
cosmovisão materialista que nos
permite criticar o entendimento da história como desenvolvimento progressivo da
Ideia e a filosofia “celestial” de Hegel.
Nos
termos do materialismo histórico fundado por Marx e Engels n’A Ideologia Alemã, a análise de
determinada realidade deve ter como foco as relações
sociais de produção, posto que, justamente, permite a satisfação das
necessidades básicas dos homens (comer, beber, vestir-se). Na mesma linha,
pontuo a importância de se considerar a luta
de classes como fundamento de uma totalização
em curso e, simultaneamente, de apreensão das relações sociais concretas.
Possibilita-se dessa maneira enxergar a unidade na diversidade como um processo
de síntese de várias determinações, ou seja, permite conceber o pensamento como
resultado do real[13].
Assim,
uma verdadeira e autêntica educação
dialética, toma como base a realidade, busca compreender nas contradições
sociais da vida a concretude do seu fazer
educativo. Uma educação ativa, dialética, concreta, visa em última
instância sempre a emancipação do
Homem, fazer do homem sujeito e objeto de si mesmo: é uma educação reflexiva, atenta aos problemas da sala
de aula, da escola, da cidade, do estado, do país, do mundo, ao mesmo tempo em
que partindo da realidade problematiza questões e fornece respostas, sempre
parciais, sempre provisórias, mas cada vez mais próximas da realidade.
Feito
isto, todo este pequeno excurso metodológico em diálogo com a autora,
Anastasiou nos apresenta no tópico seis as
operações de pensamento: comparação, resumo, observação, classificação,
interpretação, crítica, busca de suposições, imaginação, obtenção e organização
dos dados, levantamento de hipóteses, aplicação de fatos e princípios a novas
situações, decisão e, por fim, planejamento de projetos e pesquisas. Nas
palavras da própria autora:
Essas operações estão
também presentes nas ações que operacionalizamos com os alunos, nos três
momentos propostos na metodologia dialética: mobilização, construção e
elaboração da síntese do conhecimento, visando ao conhecimento da visão inicial
ou sincrética, à efetivação da análise e à busca de uma síntese
qualitativamente superior (ANASTASIOU, 2005, p. 27).
Todas
estas operações se apropriam da memorização, mas indo além dela. Esse ir além é ir além da “decoreba”, do
conteúdo aprendido pelas regras formais da linguagem. Ir além é buscar uma
educação e uma escola que encarne valores democráticos, ou, melhor ainda, que
esteja em constante processo de democratização[14]. O alunado e o professorado
devem saborear o saber, para fazer um jogo de palavras da autora, a fim de que
suas vivências pessoais e sua relação contratual visem à humanização de si mesmo e dos outros.
No
penúltimo tópico, de número 7, a autora vai tratar dos passos aos momentos. Isso significa que preparação, aplicação,
generalização, simbolização e abstração (os passos),
são momentos importantes do movimento
educativo que deve relacionar a sociabilidade prática do discente e do
docente, a fim de que ambos reelaborem suas práticas sociais. Metodologicamente,
Anastasiou nos escreve que isso passa por três momentos do método dialético: a
mobilização para o conhecimento, a construção do conhecimento e a elaboração da síntese do conhecimento. Dessa
forma, conhecer (saber da existência) nos impulsiona para a constituição
objetiva do conhecimento prático, porque teórico. Teórico, pois problematiza,
critica, historiciza pela práxis numa
busca de totalização desvendar a realidade, identificar a essência da
relação pedagógica: “a interação intencional, planejada e responsável entre
aluno, professor e objeto de conhecimento” (ANASTASIOU, 2005, p. 34).
Por
fim, no último tópico, na busca de uma
síntese possível, a autora faz uma balanço fundamental do que expôs e
confrontou com o processo de ensinagem, a saber: a visão de conhecimento, a
consideração dos limites e possibilidades dos sujeitos atuantes no processo, a
superação da alienação, a construção contínua da metodologia dialética, a busca
dos percursos e a formação profissional continuada. Assim o processo de
ensinagem se direciona para um fazer
solidário e como um “desafio a uma ação docente inovadora e comprometida”
(idem, p. 36).
REFERÊNCIAS
ANASTASIOU,
Léa das Graças Camargos. Ensinar, aprender, apreender e processos de ensinagem.
In: ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate (orgs.). Processos de ensinagem na universidade:
pressupostos de trabalho em aula. 5.ed. Joinville, SC: UNIVILLE, 2005. p.11-36.
COUTINHO,
Carlos Nelson. O estruturalismo e a
miséria da razão. 2ªed. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
HOBBES,
Thomas. Do Cidadão. TRAD. Fransmar
Costa LIMA. São Paulo: Martin Claret, 2006.
LUKÁCS,
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escritos políticos 1956-1971. Organização, introdução e tradução de Carlos
Nelson Coutinho e José Paulo Netto. 2ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
2011.260p.
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Homem. Tradução de Carlos Nelson COUTINHO. Cf.<http://sergiolessa.com/BibliotecaLukacs.html>.
Acesso em 01 set.2012a. p.1-20.
LUKÁCS, G.
O trabalho. In Per una Ontologia
dell’Essere Sociale. Trad. Ivo Tonet. Disponível em < http://sergiolessa.com/BibliotecaLukacs.html>.
Acesso em 01 set. 2012b.
NETTO,
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contribuição à história das ideias marxistas. São Paulo: Cortez, 2004.
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política: livro I. Trad. Reginaldo SANT’ANNA. 27ªed. Rio de Janeiro:
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RODRIGUES,
Mavi. MICHEL FOUCAULT SEM ESPELHOS:
um pensador proto pós-moderno. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro:
UFRJ/ESS, 2006.
SANTOS, Milton.
A Natureza do Espaço: Técnica e
Tempo, Razão e Emoção. 4ªEd. 2ª Reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2006.
SANTOS,
Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. 15ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.
SARTRE,
Jean Paul. Questão de Método. São
Paulo: Nova Cultural, 1987.
[1] Geógrafo e Professor de Geografia
do Programa de Educação Pré-Vestibular para Jovens Afrodescendentes “Agadá”. Mestrando em Geografia Humana na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade
e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Sindicalismo
(NEPS) ambos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Integrante da Rede
Justiça nos Trilhos. E-mail: aj_ramone@hotmail.com
[2] “O processo de trabalho, que descrevemos em seus
elementos simples e abstratos, é atividade dirigida com o fim de criar
valores-de-uso [sic], de apropriar os elementos naturais às necessidades
humanas; é a condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a
natureza; é condição natural e eterna da vida humana, sem depender, portanto,
de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as suas formas sociais”
(MARX, 2010, p.218). O filósofo marxista húngaro György Lukács, na trilha
deixada por Marx, atentou para a centralidade ontológica do trabalho: “A
essência do trabalho consiste precisamente em ir além dessa fixação dos seres
vivos na competição biológica com seu mundo ambiente. O momento essencialmente
separatório é constituído não pela fabricação de produtos, mas pelo papel da
consciência, a qual, precisamente aqui, deixa de ser mero epifenômeno da
reprodução biológica: o produto, diz Marx, é um resultado que no início do
processo existia "já na representação do trabalhador", isto é, de
modo ideal” (LUKÁCS, 2012a, p.5).
[3] É bom deixar claro, como faz Mavi Rodrigues (2006,
p.84) que “A teleologia limita-se a ação humana singular. Além disso, devemos
ter em conta que mesmo reduzida ao agir humano singular, a teleologia abre
alternativas; portanto, ela está associada a efeitos que independem das
intenções conscientes”. Isso significa que a teleologia não pode ser concebida
como algo fechado, um fim da história, mas sim de uma projeção ideal subjetiva
no plano do mundo objetivo, mundo este que independe da consciência
subjetiva/singular/individual do sujeito que realiza o movimento da
prévia-ideação. O filósofo brasileiro Carlos Nelson Coutinho (1943-2012) assim
dissertou sobre a relação entre teleologia e causalidade: “Com a vida social,
introduziu-se no ser dos processos uma realidade nova, uma nova categoria
ontológica: o ato teleológico. Enquanto na realidade natural ocorre apenas
causalidade, na sociedade a causalidade relaciona-se estreita e organicamente
com a teleologia. O ato teleológico primário, sobre o qual se organiza uma rede
de complexos teleológicos de nível superior, verdadeiras objetividades
teleológicas, é o trabalho econômico” (COUTINHO, 2010, p.87).
[4] Que na visão do geógrafo Milton Santos (2008) nunca
houve, apenas está começando os primeiros ensaios. Quando analisamos tal
observação vemos que Milton pôs a discussão sobre humanidade em seu sentido
mais amplo, no plano da totalidade do homem.
[5] A História, sob o ponto de vista lukacsiano, é a
produção e a reprodução das objetivações humanas ao longo do tempo (NETTO,
2004). Nesse sentido a história da educação deve ser vista pelo prisma da
objetivação, ou seja, de como o ser humano em seu processo de humanização se
apropria de objetos naturais para trazê-los para o campo das significações
objetivas do seu próprio ser. Nessa linha, a educação, enquanto processo de
humanização, faz do homem um “ser educado”. Traduzindo: um ser que
ontologicamente busca se educar na exata medida em que se educa para continuar
se fazendo homem.
[6] “[...] totalização como processo de revelação
dialética, como movimento da Historia e como esforço teórico e prático para
‘situar’ um acontecimento, um grupo, um homem” (SARTRE, 1987, p.158). Na
Geografia, foi Milton Santos (2006, p.76-77) que, baseando-se em Sartre,
atentou para o espaço geográfico como uma totalização, um processo: “A
Totalidade está sempre em movimento, num incessante processo de totalização,
nos diz Sartre. Assim, toda totalidade é incompleta, porque está sempre
buscando totalizar-se. Não é isso mesmo o que vemos na cidade no campo ou em
qualquer outro recorte geográfico? Tal evolução retrata o movimento permanente
que interessa à análise geográfica: a totalização já perfeita, representada
pela paisagem e pela configuração territorial e a totalização que se está
fazendo, significada pelo que chamamos de espaço”.
[7] Nesse sentido, ouso escrever que o processo de
ensinagem pode ser pensado como uma crescente socialização do homem, mas também como um progresso na sociabilidade e nas formas de objetivação desta sociabilidade, seja pelo trabalho (como atestou primariamente
Marx) ou pela arte (como enriqueceu
Lukács). A sociabilidade em questão, na qual a educação é mediação indelével,
põe-se como uma característica ineliminável do próprio ser humano em seu
processo de humanização que é, por seu turno, um processo espaço-temporal (da escola, da sala de aula, dos horários, etc.) na
medida em que os seres humanos travam relações sociais em espaços-tempos
determinados não importando se tais relações ou processos de ensinagem (para o
nosso caso) se dão no campo ou na cidade, na comunidade rural ou no bairro, na
universidade ou na escola. É justamente este processo amplo de desenvolvimento
educativo que relaciona sociabilidades espaços-temporais com formas de
objetivações que conformam o conteúdo do próprio ser humano.
[8] De modo contrário posicionou-se o estruturalista
francês Michel Foucault (1926-1984) em relação à dialética. Nos Ditos e
Escritos IV – Estratégia, Poder-Saber Foucault foi claro: “Não aceito essa
palavra dialética. Não e não! É preciso que as coisas estejam bem claras. Desde
que se pronuncia a palavra 'dialética', se começa a aceitar, mesmo que não se
diga, o esquema hegeliano de tese e da antítese e, com ele, uma forma de lógica
que me parece inadequada, se quisermos dar uma descrição verdadeiramente
concreta desses problemas. Uma relação recíproca não é uma relação dialética
[...] Veja, a palavra 'contradição' tem, em lógica, um sentido particular.
Sabemos bem o que é uma contradição na lógica das proposições. Mas quando se
considera a realidade e se procura descrever e analisar um número importante de
processos, descobre-se que essas zonas de realidade estão isentas de
contradições [...] Tomemos o domínio biológico. Nele encontramos um número
importante de processos recíprocos antagonistas, mas isso não quer dizer que se
trate de contradições. Isso não quer dizer que haja, de um lado do processo
antagonista, um aspecto positivo e, do outro, um aspecto negativo. Penso que é
muito importante compreender que a luta, os processos antagonistas não
constituem, tal como o ponto de vista dialético pressupõe, uma contradição no
sentido lógico do termo [...] Se repito, de modo permanente, que existem
processos como a luta, o combate, os mecanismos antagonistas, é porque
encontramos esses processos na realidade. E não são processos dialéticos” (apud
RODRIGUES, Mavi. MICHEL FOUCAULT SEM
ESPELHOS: um pensador proto pós-moderno. Tese de Doutorado. Rio de
Janeiro: UFRJ/ESS, 2006. p. 154).
Contra Foucault, trago
a bela explanação do filósofo brasileiro Leandro Konder: “Durante séculos, a
hegemonia do pensamento metafísico nos acostumou a reconhecermos somente um
tipo de contradição: a contradição lógica. A lógica, como toda ciência,
ocupa-se da realidade apenas em um determinado nível; para alcançar resultados
rigorosos, ela limita o seu campo e trata de uma parte da realidade. [...] Existem, porém, dimensões da realidade
humana que não se esgotam na disciplina das leis lógicas. Existem aspectos da
realidade humana que não podem ser compreendidos isoladamente: se queremos
começar a entendê-los, precisamos observar a conexão íntima que existe entre
eles e aquilo que eles não são. [...]
As conexões íntimas que existem entre realidades diferentes criam unidades contraditórias. Em tais
unidades, a contradição é essencial: não é um mero defeito do raciocínio. Num
sentido amplo, filosófico, que não se confunde com o sentido que a lógica
confere ao termo, a contradição é
reconhecida pela dialética como princípio básico do movimento pelo qual os
seres existem. A dialética não se contrapõe à lógica, mas vai além da lógica,
desbravando um espaço que a lógica não consegue ocupar” (KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo:
Brasiliense, 2008. p.46-47).
[9] Faço alusão aqui ao filósofo irracionalista,
anti-dialético e anti-humanista Arthur Schopenhauer: “O mundo é minha
representação. Esta proposição é uma verdade para todo ser vivo pensante,
embora só o homem chegue a se transformar em conhecimento abstrato e refletido.
A partir do momento em que é capaz de o levar a este estado, pode-se dizer que
nasceu nele o espírito filosófico. Possui então a inteira certeza de não
conhecer nem um sol nem uma Terra, mas apenas olhos que veem este sol, mão que
tocam esta Terra, em uma palavra, sabe que o mundo que o cerca existe apenas
como representação, em sua relação com um ser que percebe, que é o próprio
homem. Se existe uma verdade que se possa afirmar a priori é esta, pois exprime
o modo de toda experiência possível e imaginável, conceito muito mais geral que
os de tempo, espaço e causalidade que o implicam” (SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação.
Trad. M. F. Sá CORREIA. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001. p.9).
[10] Isso não quer dizer que a consciência, por ser
abstrata, não tenha implicações reais. Ora, quando Lukács (2012b) diz que a
consciência deixa de ser um epifenômeno biológico está justamente alertando-nos
para o papel da consciência em servir ao homem, ao ser social. O ser social
progride, pelo desenvolvimento do trabalho, a consciência progride, ou seja, o
homem torna-se cada vez mais consciente de suas realizações. Esse tornar real é
produto do ato teleológico humano-singular mediado pelo trabalho (a práxis
criadora).
[11] CHAUÍ, Marilena. O
que é ideologia. 2ªed. São Paulo: Brasiliense, 2008.
[12] MARX, Karl. O
Capital: crítica da economia política: livro I. Trad. Reginaldo SANT’ANNA.
27ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 2010.p.28.
[13] MARX, Karl. Contribuição
à crítica da economia política. 2ªed. Lisboa: Editorial Estampa, 1973.
[14] Lukács (2011, p.85) entendia a democratização como um
processo ontológico, pois para o mestre húngaro “trata-se sobretudo de um
processo e não de uma situação estática”. Mais a frente (idem, p.111) o
filósofo marxista nos escreve que a democracia socialista é “o órgão desta
auto-educação do homem (na perspectiva histórico-universal, ou seja, da
auto-educação para ser efetivamente homem no sentido de Marx)”. Ademais, na
página 117, Lukács anota: “a tarefa da democracia socialista é penetrar
realmente na inteira vida material de todos os homens, desde a cotidianidade,
até as questões decisivas da sociedade; é dar expressão à sua sociabilidade
enquanto produto da atividade pessoal de todos os homens”. E quando fala de
educação mesmo, o mestre húngaro não é menos brilhante: “a educação pode deixar
de ser uma superestrutura produzida automaticamente em certo grau de
desenvolvimento econômico para transformar-se assim em fator de ampliação e
aprofundamento da vida individual de cada indivíduo, em força social criada
pelo homem consciente, força que, em sua real sociabilidade, faz com que a
redução do tempo de trabalho necessário para própria reprodução torne cada pessoa
capaz de produzir o que Marx chamava de ‘supérfluo’ e de se apropriar deste
‘supérfluo’ para construir e aperfeiçoar a si mesmo” (idem, p. 142).
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