Por racismoambiental,
22/06/2013 09:11
Por Gilvander Luís
Moreira[1]
Nos primeiros dias dos justos e necessários protestos na capital
de São Paulo, do Movimento Passe Livre, a TV Globo e a mídia em geral estavam
chamando todos os manifestantes de vândalos e arruaceiros, atitude
criminalizadora.
Quando as manifestações se espalharam pelo país, a mídia começou
a fazer uma distinção: “O movimento é pacífico, mas tem uns vândalos no meio
que promovem quebradeira”. Provavelmente, os donos do poder midiático,
principal “partido” no Brasil, querem conduzir as massas e reduzir as
manifestações somente a “paz e amor”, o que não estremecerá o status
quo podre do sistema capitalista, ora vigente no Brasil. É hora de
resgatarmos a história e fazermos algumas reflexões.
Quem eram os Povos Vândalos? “Os Vândalos eram um povo
germânico oriental que penetrou no Império Romano durante
o século V e criou um estado no norte
da África ocupando a cidade de Cartago, antiga
cidade fenícia que fora ocupada pelos romanos desde o fim
das Guerras Púnicas. A localização de Cartago às margens
do Mediterrâneo era estratégica para os Vândalos. Ali centralizaram
seu Estado, e logo após se estabelecerem, saquearam Roma no ano de
455.”[2]
“Ao longo da marcha para o oeste, os Vândalos atingiram a margem
do Danúbio e alcançaram o rio Reno, onde entraram em combate com os francos.
Aproximadamente vinte mil vândalos morreram no choque entre esses dois povos,
sendo que os francos só foram derrotados quando os alanos entraram no combate
para auxiliar os vândalos. Em ações ousadas, os Vândalos saquearam Roma durante
duas semanas no ano de 455 e foram capazes de resistir ainda a uma frota
enviada pelo Império Romano para combatê-los.”[3]
Portanto, a história demonstra que os Vândalos eram um povo
digno que lutou aguerridamente contra o imperialismo romano. Logo, não é justo
se referir aos Vândalos apenas como arruaceiros. Eles lutavam por direitos.
Ontem, o império romano. Hoje, o império do capital, liderado
pelos capitalistas. Assim como os Vândalos lutavam contra a opressão do Império
Romano, hoje milhões de brasileiros, nas ruas, lutam não apenas por migalhas,
mas por direitos. Vândalos, hoje, não são os que revelam a infinita indignação
que toma conta do povo diante de tanta violência provocada por um Estado
vassalo do capital e dos capitalistas. Assim, a revolta iniciou com a luta por
0,20 centavos, mas irá muito longe. Não se encerrará sem mudanças substanciais
no modelo econômico e político que desgoverna o Brasil.
Quem são os violentos hoje no Brasil? São os políticos,
salvo raras exceções, que não representam o povo, mas, via de regra, defendem
interesses de grandes empresas e latifundiários.
Violentos são juízes do Poder Judiciário que não respeitam os
princípios constitucionais de respeito à dignidade humana, republicanismo,
função social da propriedade e criminalizam os movimentos sociais populares e
absolutizam o direito a propriedade para apenas alguns.
Violentos são os administradores públicos e os juízes que
abarrotam as prisões, verdadeiros campos de concentração, jogando lá somente os
pobres, negros e jovens.
Violentos são os grandes empresários que lucram, roubam e
saqueiam a classe trabalhadora pagando míseros salários e, com
intensificação do trabalho e do produtivismo, arrebentam com a saúde dos
trabalhadores, empurrando-os para avia crucis do SUS.
Violentos são as grandes mineradoras que, como em Conceição do
Mato Dentro, MG, causam uma devastação socioambiental sem precedentes na
história. Com coração de pedra, vão dizimando as nascentes de água e deixando
crateras, um rastro de destruição.
Violentos são os grandes empresários do transporte público
privatizado que lucram bilhões carregando o povo trabalhador como se esse fosse
gado para ser transportado em condições indignas e por preço que esfola o povo
diariamente.
Violentos são os banqueiros que cometem cotidianamente o pecado
da usura e especulando com o dinheiro do povo engordam seu poder econômico às
custas de muito sangue humano.
Violentos são os latifundiários que não cumprem a função social
da propriedade e sequestram a terra em poucas mãos gananciosas expulsando
milhões de camponeses para as periferias das cidades.
Enfim, violentos são os dirigentes da classe dominante que há
séculos vêm pisando, humilhando e violentando a classe trabalhadora brasileira.
Eis um exemplo: na época da escravidão formal, um cortador de cana cortava de
três a quatro toneladas de cana por dia. Hoje, um boia-fria dos canaviais
paulistas corta de doze a quatorze toneladas por dia. Por isso, de 2004 a 2006,
mais de vinte trabalhadores morreram por exaustão no trabalho.
É contra esses violentos que o povo se rebelou e estará nas ruas
até que seus direitos sejam conquistados e efetivados. A luta é por justiça
social, por justiça agrária, por justiça ambiental e por direitos humanos.
Feliz quem dela participar e também contribuir para que espertalhões de plantão
não venham golpear o povo já tão oprimido, mas que está se levantando.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 21 de junho de 2013.
Frei Gilvander Luís Moreira
– www.gilvander.org.br – gilvanderlm@gmail.com
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e
bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em
Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando
em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina;
conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH;
e-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis -
Facebook: Gilvander Moreira
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A2ndalos ,
acesso em 21/06/2013.
[3] Antônio Gasparetto Júnior
in http://www.infoescola.com/povos-germanicos/vandalos/ , acesso em
21/06/2013.
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