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São Luís, Maranhão, Brazil
Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Geografia de O Regresso


Quando Hugh demonstrou uma aptidão acadêmica notável, o pai incentivou-o a cogitar a carreira de advogado. Hugh, entretanto, não tinha qualquer interesse em perucas brancas e livros mofados de direito. Mas tinha uma paixão – a geografia.

A geografia como paixão de Hugh Glass (1780-1833) foi uma das minhas mais gratas surpresas ao terminar de ler o romance O regresso do embaixador dos EUA na OMC, Michael Punke. Cheguei ao livro mais de 13 meses depois do lançamento do filme dirigido por Alejandro González Iñarritú e que rendeu o Oscar de melhor ator para Leonardo DiCaprio.
Antes de iniciar o romance propriamente dito, o livro conta com um mapa intitulado Cenário de O REGRESSO 1823-1824, no qual, a partir de uma escala pequena – ideal para áreas extensas – mostra dois caminhos: (1) o caminho percorrido pelo Capitão Henry/Fitzgerald-Bridger; e (2) o caminho do lendário explorador estadunidense Hugh Glass.
Longe de ser apenas um detalhe ao livro, ou ainda uma informação acessória ao romance de vingança, o mapa posicionado da forma que está – logo após a dedicatória e antes da epígrafe – nos dá uma clara dimensão espacial da saga de Hugh Glass. Algo que, diga-se de passagem, no livro torna-se mais evidente do que no filme.
Não sei ao certo se o mérito de colocar uma representação espacial do cenário de O regresso é do próprio Michael Punke ou ainda das editoras Carroll & Graf e Intrínseca. De qualquer forma, o mapa de Jeffrey Ward, posto da forma que está, acerta para mim em um ponto fundamental: a precedência em relação à forma escrita.
O fato do mapa praticamente inaugurar o romance significa que antes mesmo de lermos a escrita em si, a sua representação cartográfica nos oferta um registro emocional da aventura glassiana. Lá no mapa estão os símbolos da jornada de Hugh: estamos no rio Grand onde nosso explorador é atacado pela famigerada ursa-cinzenta; de lá, capitão Henry e, posteriormente, Fitzgerald e Bridger, seguem o rio Little Missouri até o Forte Union e daí até o Forte no Bighorn passando pelo rio Yellowstone. Nosso apaixonado pela Geografia, por sua vez, depois de ser abandonado por Fitzgerald e Bridger, segue o rio Missouri até o Forte Brazeau – aqui Glass retrocede 550 km, parte deles rastejando! Sobe o rio Missouri até o Forte Talbot, atravessando as aldeias dos Arikaras – onde é atacado – e a dos Mandans; Forte Union e Forte no Bighorn estão além e, depois de passar pelos rios Powder e Platte Norte – onde sofre o segundo ataque dos Arikaras – alcança, via rio Platte, o Forte Atkinson – cenário final da vingança.
A meu ver, o mapa de Jeffrey Ward pode ser encarado mesmo dessa forma: um mapa de vingança. Um mapa de vingança, na medida em que representa a busca de Glass contra aqueles que o abandonaram. Não obstante, é um mapa da luta: da luta entre os comerciantes de peles e os indígenas (a exemplo dos Arikaras); dos indígenas entre si (pawnees versus sioux, por exemplo); da luta de Hugh contra a natureza, seja para encontrar um local para acampar, ou ainda para sobreviver – como na luta contra o lobo branco.
Mas também é um mapa da solidariedade: do curandeiro sioux que trata dos ferimentos de Glass a partir de seus conhecimentos indígenas; de Cavalo Amarelo, outro sioux, que leva Hugh a cavalo, rumo ao sul, na confluência do Missouri com o White, até o Forte Brazeau.

Não é possível dizer se Hugh Glass era, de fato, um apaixonado pela Geografia – enquanto reprodução científica particular do processo relacional homem/natureza – ou se o objeto de sua paixão era uma das múltiplas faces do estudo geográfico: a particularidade dos lugares, das terras incógnitas, que ele ajudou a conhecer e mapear. De qualquer forma, seja na sua dimensão real-objetiva, na transposição dessa objetividade pela subjetividade de Michael Punke, ou ainda no mapa de Jeffrey Ward, a leitura de O regresso – mesclando realidade e ficção – evidencia o drama humano em sua jornada de lutas e representações.

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