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São Luís, Maranhão, Brazil
Homem simples e comum: procuro ser gentil com as pessoas, amigo dos meus amigos e bondoso com a minha família. Sou apaixonado por filmes, internet, livros, futebol e música. Estou tentando sempre equilibrar corpo e mente, manter-me informado das notícias a nível mundial, ministrar aulas de geografia em paralelo às pesquisas acadêmicas que desenvolvo e, no meio de tudo isso, tento achar tempo para o lazer e o namoro. Profissionalmente,sou geógrafo e professor de Geografia no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA ­ Campus Avançado Porto Franco) e Doutorando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos do Pensamento Socialista Pesquisa do Sindicalismo (NEPS), ambos da UFMA. Participo da Rede Justiça nos Trilhos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Desenvolvimento ou vida: o que escolheremos?

Desde quando comecei a me interessar pela Geografia, e isso remonta ao longínquo ano de 1999, sempre ouvia meus professores no ensino fundamental, ou no caso, professoras, afirmarem em suas aulas que o Brasil era (ou é) um país em subdesenvolvido. Eu, à época, não entendia muito bem o que significava isso. Apenas tinha a noção de que era algo ruim, bem ruim, e que nós, como estudantes, tínhamos a “obrigação profissional” e um “imperativo moral” de desenvolver o Brasil.
Ainda no ensino médio, as luzes do conhecimento clarificavam para mim que o ser desenvolvido estava diretamente atrelado ao estilo de vida estadunidense: ou seja, comecei a entender que o ser desenvolvido era consumir bastante e ter uma indústria forte, caminhando para a tecnologia de ponta, para que nos livrássemos do atraso representado pelo Brasil rural-agrário.
Imbuído deste “sentimento” quase que “religioso” (porque dificilmente acreditava que Deus poderia desenvolver um país e deixar outro no subdesenvolvimento) minha escolha pela Geografia (que disputava minha paixão com a História) foi decidida. Em minha mente, estudar climas, florestas, rios e populações me ajudariam a cumprir o “objetivo moral” de contribuir para o desenvolvimento do Brasil.
Mas a entrada na UFMA foi um choque. Principalmente um choque epistemológico. No âmbito da Academia, alicerçado em teóricos como o antropólogo colombiano Arturo Escobar, a economista Ana Esther Ceceña e o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves, pude compreender melhor o que é o desenvolvimento: urbanização, industrialização, tecnificação da agricultura e adoção da modernidade em seus mais variados campos (cultura e educação, em especial).
Comecei a entender como a urbanização está atrelada à civilização e que este é dito um estágio superior de desenvolvimento. Logo, deduz-se que ser urbano é melhor do que ser rural: porque o rural é selvagem (selva, natureza) e o urbano (cidade) é civilizado, logo desenvolvido.
Ao mesmo tempo fui percebendo como a industrialização é entendida como o motor do desenvolvimento. E esse motor do desenvolvimento é encabeçado pelo Estado com a participação da iniciativa privada. Então, o Estado nos países subdesenvolvidos tem como “missão” nos levar ao desenvolvimento.
Por fim, que a modernidade, a “idade do estar na moda”, representa um processo civilizatório que, por mais que seja particular/local (europeu), tem em si a perspectiva de universalização. Como bem me ensinou o filósofo Enrique Dussel, essa “caminhada do homem” passa pelo Renascimento italiano, a Reforma Protestante (alemã), bem como as revoluções inglesa e francesa. E não nos esqueçamos do culto à razão e ao indivíduo.
Depois de tudo isso, passei a questionar o desenvolvimento: essa palavra sacrossanta que tanto a esquerda quanto a direita se curvam como verdadeiros ídolos pelos quais devem prostrar adoração. Pude conhecer/ouvir/ver o sofrimento dos atingidos por projetos de desenvolvimento que, na maioria das vezes, são sempre os mesmos: quilombolas, indígenas e camponeses. Então entendi que eles eram atingidos porque os promotores do desenvolvimento os consideram inferiores, involuídos, imaturos, incivis e arcaicos. Os quilombolas são inferiores porque são diferentes, e sua cultura, tradições e formas de relacionar com a Natureza foram inferiorizadas.
Com os povos indígenas acontece a “mesma coisa”. Por serem diferentes foram inferiorizados. Inevitável não lembrar os sanguinários espanhóis (para dar apenas um exemplo das atrocidades cometidas também por ingleses, franceses, portugueses) que saquearam “civilizadamente” os povos latino-americanos.
Os camponeses também não escapam desse “cenário cruel”. Para onde quer que olhemos, por exemplo, no Maranhão, veremos o desmatamento, as queimadas, a violência, a poluição, acidentes, doenças, ameaças ao equilíbrio florístico-faunístico e a insegurança alimentar.
Então vi que isso era resultado das iniciativas desenvolvimentistas no meu Estado desde o Programa Grande Carajás. Assim seguiram-se a Estrada de Ferro Carajás (que agora a Vale quer duplicar), o Complexo Portuário de São Luís, formado pelos Portos do Itaqui (dirigido pela Empresa Maranhense de Administração Portuária), da Ponta da Madeira (de propriedade da Vale que “arrancou” moradores do Boqueirão para tal iniciativa) e da ALUMAR; Centro de Lançamento de Alcântara – CLA, ALUMAR, hidrelétrica de Estreito (o pesadelo de muitos ribeirinhos),a Termelétrica do Porto do Itaqui (que atingiu moradores da Vila Maranhão e Camboa dos Frades) sem falar na monocultura da soja e do eucalipto no sul, sudeste e leste do Maranhão, representados pelos gaúchos e pela Suzano (que tem colocado em risco diversas comunidades rurais.
Depois de analisar tudo isso ficou para mim uma pergunta: o que escolheremos: desenvolvimento ou vida? Pelo menos em minha opinião, por tudo que expus sinteticamente, o desenvolvimento é incompatível com aquilo que temos de mais valioso: a vida. Compatibilizar desenvolvimento, progresso e crescimento com a vida é decretar a morte.

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