Áudio divulgado pelo The Intercept Brasil mostra ministro minimizando
luta dos maranhenses pelo território: “Ah, não quero sair porque aqui morreu
minha vó”
A luta das comunidades quilombolas pelo território foi minimizada pelo
general Sérgio Westphalen Etchegoyen. Em fala de quase duas horas no Instituto
Rio Branco, no dia 23 de agosto, ele disse – conforme áudio divulgado
pelo The Intercept Brasil – que entre os atuais entraves ao
“progresso” estão os quilombolas. Em particular os de Alcântara (MA), município
brasileiro com 152 comunidades descendentes de quilombos, o maior
número do país. E onde está a base brasileira de lançamento de foguetes.
“Algumas comunidades permanecem onde estão e não saem para a expansão do
centro de lançamento de Alcântara por razões culturais”, afirmou ele aos
futuros diplomatas. “Ah, não quero sair porque aqui morreu minha vó”.
Segundo o Intercept, quem estimula essa resistência são algumas
lideranças “cooptadas por antropólogos estrangeiros”, que teriam o objetivo de
sabotar o programa espacial brasileiro. “Há 30 anos já se discute isso e não se
sai do lugar. E se não chegarmos a uma posição do que é interesse nacional, nós
vamos continuar patinando”.
Ethegoyen dissera antes que o Palácio do Planalto estaria tentando
implantar uma “agenda modernizadora”. Entre os empecilhos a essa agenda estaria
a própria Constituição: “Nós perdemos a noção de crescimento e passamos a ser
uma sociedade de outra natureza, particularmente a partir de 88, a partir da
Constituição de 88, que não tem, como prioridade, crescer”.
Nessa perspectiva, simpática ao projeto da ditadura, o chefe da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), sempre de acordo com o áudio divulgado pelo
Intercept, afirmou que o Estado democrático brasileiro criou instrumentos que
limitaram o desenvolvimento:
– Imaginem se hoje seria possível construir, no Rio de Janeiro, o Cristo
Redentor? Quanto é que ia nos custar de discussão no Ibama, com o Ministério
Público? Quanto nos custaria fazer uma ponte Rio-Niterói, pra ficar no mesmo
tema? O bondinho? Itaipu?
EXPLODE A MORTE DE QUILOMBOLAS NO PAÍS
O número de quilombolas assassinados no Brasil disparou em 2017. Segundo
a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
(Conaq), foram 14 homicídios no ano e 8 em 2016. O ano anterior registrara
somente um homicídio, assim como em 2011. Entre 2012 e 2014 não houve registro
de homicídios em comunidades quilombolas.
Lideranças e especialistas ouvidos pelo ISA associam o aumento da
violência ao atual cenário político. Um dos assassinados foi Flávio Gabriel
Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo. Ele foi executado com mais de dez
tiros em frente de uma escola municipal, no dia 19 de setembro, em Simões Filho
(BA). Era uma liderança ativa. Na internet, mantinha uma página sobre a
comunidade de Pitanga dos Palmares. Seu penúltimo post foi sobre viagem a
Brasília para protestar contra a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
3.239/2004, que ameaça a titulação dos territórios quilombolas no Brasil.
Sete dos 14 assassinatos ocorreu em Lençóis (BA), no quilombo de Iúna,
entre julho e agosto. O crime provocou uma evasão na comunidade: das 42
famílias de quilombolas que viviam no território, apenas 12 permaneceram.
–
Quilombolas estão em Alcântara há 300 anos.
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