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Ao apresentar seu livro mais recente, geógrafo
alerta: mera denúncia do capitalismo é ineficaz – e pode favorecer saídas de
ultra-direita
Entrevista a Jonathan Derbyshire, da Prospect Magazine | Tradução: Vila Vudu – Outras Palavras
A onda de protestos de rua que se espalha pelo
mundo desde janeiro de 2011 tem produzido, em seu rastro, um debate revelador.
No Brasil, por exemplo, o primeiro aniversário das “jornadas de junho” será
lembrado pelo lançamento de livros e filmes. O mais estrepitoso deles é o de um
documentário produzido pela “Folha de S.Paulo” – o mesmo jornal que recomendou à
prefeitura da cidade e à Polícia Militar, em 13 de junho de 2013, vetar1 manifestações
na avenida Paulista, para o bom fluxo do tráfego de automóveis… Se a mesma
Folha tenta agora celebrar o movimento é porque procura “capturá-lo”,
conduzindo-o para pautas opostas à reivindicação de direitos sociais e
igualdade – que tanto incomodava seus editorialistas há um ano.

Um dos traços surpreendentes do cenário
internacional, começa Harvey, é a “miséria de pensamento novo e novas
políticas”. Confrontadas pela crise econômica – que já entrou no sexto ano e
para a qual não há saída à vista –, as classes dominantes não parecem
preocupadas em buscar opções. Seu discurso de aparente preocupação em face da
desigualdade não se materializa em ações concretas: parece mera peça de
retórica. Por que tal paralisia?
É evidente, diz o geógrafo, que as elites
globais sentem-se seguras de seu poder. Percebem que faltam alternativas. Há, é
certo, muitos protestos. Mas não parecem a ponto de passar de uma fase
primitiva – a da crítica ao sistema – e evoluir para o que pode de fato
ameaçá-lo: a proposição de projetos pós-capitalistas.
Harvey teme, aliás, que os protestos sejam
capturados por forças retrógradas e mesmo fascistas, caso não evoluam. Somadas,
crise e a falta de perspectivas geram, frisa ele, um ambiente de desesperança
mórbida. Nos EUA, por exemplo, “70% da população ou odeia trabalhar, ou é
totalmente indiferente ao trabalho que faz”. As respostas são múltiplas. Certos
grupos buscam um futuro “distante da cultura da mercadoria”. Mas outros, ao
contrário, refugiam-se no consumismo ou na negação completa da política. Estes
podem ser mobilizados para sentimentos e saídas retrógradas – como buscar de
uma autoridade salvadora, ou atirar sobre o estrangeiro (o “outro”) o peso de
suas frustrações.
A nova obra de Harvey é, tudo indica, a maneira
concreta que o autor encontrou de encarar este risco sem resvalar para o
pessimismo. “Há muita ebulição nos campos da dissidência cultural; há algo em
movimento e é fonte de alguma esperança”, diz ele em certo ponto da entrevista
a Derbyshire. Mas esta esperança não se realizará por si mesma. Para tanto, é
preciso “resistir contra um retrocesso de direita, atrais parte significativa do
descontentamento que está nas ruas e empurrá-lo numa direção progressista, não
em direção neofascista”. Por isso mesmo, o livro propõe, em sua parte final,
dezessete ideias para a prática política – mais especificamente, para “o novo
modo de fazer política”, que, segundo Harvey, está emergindo diante de nossos
olhos.
No diálogo com Derbyshire, Harvey aborda ainda a
polêmica em torno da institucionalização dos novos movimentos (ele defende a
construção de híbridos de movimentos e partidos, como o Syriza grego); a
presença de um setor anti-Estado nas manifestações; a relação entre
determinismo e marxismo (Marx, diz Harvey, nunca afirmou que o capitalismo
desabaria sobre si próprio inevitavelmente); o pepel do Occupy (e de Thomas
Piketty) na denúncia da desigualdade; o divórcio cada vez maior profundo entre
capitalismo e democracia. Eis, a seguir, a entrevista (A.M.)
–
No início do livro, o senhor observa, como
outros também observaram, que há algo de diferente na mais recente crise do
capitalismo, a crise financeira global de 2008. “Seria de esperar que todos” –
o senhor escreveu lá – “tivessem diagnósticos concorrentes a oferecer sobre o
que está errado, e que houvesse uma proliferação de propostas de o que fazer
para corrigir tudo. O que mais surpreende hoje é a miséria de pensamento novo e
de novas políticas.” Por que não há nem diagnósticos nem propostas nem ideias
novas?
Uma hipótese é que a concentração de poder de classe que se vê
hoje é de tal modo gigantesca, que não há por que a classe capitalista precise
ou queira ver qualquer tipo de pensamento novo. A situação, por mais que seja
disruptiva para a economia, não é necessariamente disruptiva para a capacidade
de os ricos acumularem mais riqueza e mais poder. Assim sendo, há claro
interesse em manter as coisas como estão. O que é curioso é que havia também, é
claro, muito interesse em manter as coisas como estavam nos anos 1930s, mas
ele foi atropelado por Roosevelt, pelo pensamento keynesiano etc.
Isso posto, o senhor aceita, no livro, que há
elementos na classe capitalista, na classe intelectual, que reconhecem a
ameaça – isso que o senhor chama de “contradições” do capitalismo.
Exemplo notável é a discussão da desigualdade.
Credito ao movimento Occupy ter lançado e posto em circulação essa
nova narrativa. O fato de que temos em Nova York um prefeito completamente
diferente do que havia antes e que disse que vai fazer tudo que puder para
reduzir a desigualdade, a própria possibilidade dessa discussão é coisa que
brotou diretamente do movimento Occupy. É interessante que todos sabem do que
você está falando, sempre que se fala do “1%”. A questão do 1% foi afinal posta
na agenda e se tornou objeto de estudos em profundidade, como, por exemplo, o
livro de Thomas Piketty, O Capital no século 21. Joseph Sitglitz
também tem um livro sobre desigualdade e vários outros economistas estão
falando do assunto. Até o FMI já está dizendo que há um perigo específico que
surge quando a desigualdade alcança determinado nível.
Até Obama já anda dizendo isso!
Mas Obama nada diria sobre isso se o movimento Occupy não tivesse
aberto a trilha. E quem está oferecendo alguma resposta ao problema? De que
modo alguma coisa está sendo realmente mudada? Se se consideram as políticas
reais, vê-se que as desigualdades continuam a se aprofundar. Há reconhecimento
apenas retórico do problema, mas não há reconhecimento político, em termos de
políticas ativas e redistribuição ativa.
O senhor falou de Occupy. No livro, o senhor
critica muito duramente os setores dos novos movimentos que vê como,
predominantemente, ultra-liberais e anti-Estado.
Tenho uma regra que por definição nunca falha: o modo de produção
dominante, seja qual for, e sua articulação política, criam a forma de oposição
contra eles. Assim, as grandes fábricas e grandes corporações – General Motors,
Ford etc., – criaram uma oposição baseada no movimento trabalhista e nos
partidos da social-democracia. O rompimento dessa ordem – e vivemos hoje
precisamente o momento desta – criou um tipo de oposição dispersa que precisa
usar algumas linguagens específicas para suas reivindicações.
Parte da esquerda não dá sinais de perceber que muito do que diz é
consistente com a ética neoliberal, ao invés de lhe fazer oposição… Parte do
anti-estatismo que se encontra hoje na esquerda casa-se perfeitamente com o
anti-estatismo do capital empresarial corporativista.
Preocupa-me muito que não se ouça pensamento da esquerda que diga
“Vamos nos afastar dessas narrativas e observar o quadro completo.” Espero
que meu livro contribua para que tenhamos isso.
O livro conclui num lugar interessante – com
algo como um programa, 17 “ideias para a prática política”. Mas não aparece a
pergunta (embora possa estar implícita no que o senhor acabou de dizer), sobre
qual é a organização apropriada para realizar aquele programa. Não se sabe onde
encontrá-lo. Não é óbvio que o encontraremos.
Uma das coisas que temos de aceitar é que está emergindo
um novo modo de fazer política. No presente, ainda é muito
espontaneísta, efêmero, voluntarista, com alguma relutância a deixar-se
institucionalizar. Como poderá ser institucionalizado é, creio eu, questão
aberta. E não tenho resposta para isso. Mas é claro que, de algum modo, terá de
institucionalizar-se ou ser institucionalizado. Há novos partidos começando a
emergir – o Syriza na Grécia, por exemplo. O que me preocupa é o que comento no
livro como um estado de alienação em massa, que está sendo capitalizado
amplamente pela direita. Há sim, portanto, alguma urgência em tratar da questão
de como nós nos institucionalizaremos como força política, para resistir contra
um retrocesso de direita e atrair parte significativa do descontentamento
que está nas ruas e empurrá-lo numa direção progressista, não em direção
neofascista.
O senhor descreve seu livro como uma tentativa
para expor as contradições, não do “capitalismo”, mas do “capital”. O senhor
pode explicar essa diferença?
Essa diferença vem de minha leitura de Marx. Pensa-se quase sempre
que Marx teria criado alguma espécie de compreensão totalizante do capitalismo,
mas ele não fez nada disso. Marx não arredou pé da economia política e
manteve seus argumentos sempre na linha de como opera o motor econômico de uma
economia capitalista. Se você isola o motor econômico, você consegue ver quais
serão os problemas daquela economia.
Não implica dizer que não haverá outros tipos de problemas numa
sociedade capitalista – é claro que há racismo, discriminação por gênero,
problemas geopolíticos. Mas a questão que me preocupava ao escrever
esse livro era outra, mais limitada: como funciona o motor da acumulação de
capital?
Já estava bem claro desde o estouro da crise, em 2007/8 que havia
alguma coisa errada com o próprio motor. E dissecar o que esteja errado com o
motor já será um passo na direção de política mais ampla. Esse motor econômico
é muito complicado. E Marx criou um meio para compreender o motor econômico,
servindo-se de ideias como “contradição” e “formação-de-crises”.
Mais uma questão de definição: o que é capital?
Capital é o processo pelo qual o dinheiro é posto em ação para que
se obtenha mais dinheiro. Mas é preciso muito cuidado, se só se fala de
dinheiro, porque em Marx há uma relação muito complexa, como aponto no livro,
entre “valor” e “dinheiro”. O processo é de busca de valor para criar e
apropriar-se de mais valor. Mas esse processo assume diferentes formas – a
forma dinheiro, de bens e mercadorias, processos de produção, terra… Ele tem
manifestações físicas mas, no fundamento, não é coisa: é um processo.
Voltemos à noção de “contradição”, que é a
categoria analítica central no livro. O senhor fez uma distinção entre os
choques externos pelos quais pode passar uma economia capitalista (guerras, por
exemplo) e contradições, no seu sentido da palavra. Assim, por definição,
contradições são internas ao sistema capitalista?
Sim. Se você quiser redesenhar o modo de produção, é preciso,
então, responder as questões postas pelas contradições internas.
O senhor identifica três classes de
contradições, que o senhor chama de “fundacionais”, “mutantes” e “perigosas”.
Comecemos pela primeira categoria: o que torna certas contradições
“fundacionais”?
Não importa onde esteja o capitalismo e o modo de produção
capitalista, você sempre encontrará essas contradições em operação. Em qualquer
economia – seja a China contemporânea, o Chile ou os EUA – a questão do valor
de uso e do valor de troca, por exemplo, lá estará, sempre. Há algumas
contradições que são traços permanentes de como o motor econômico está montado.
E há outras que mudam constantemente ao longo do tempo. Eu quis distinguir as
que são relativamente permanentes e as outras, que são muito mais dinâmicas.
Algumas contradições fundacionais são mais
fundacionais que outras? Um dos traços que mais chamam a atenção no livro é que
tudo, no seu modelo analítico, parece derivar, no fundo, da diferença entre
valor de troca e valor de uso.
Ora… esse é o ponto inicial da análise. Sempre me chamou a atenção
que Marx dedicou muito tempo para demarcar o ponto no qual sua análise começaria.
E decidiu começar por aí, porque é o ponto de partida mais universal. Mas o que
mais me impressiona – e trabalho com Marx há muito, muito tempo – é o quanto as
suas contradições são intimamente interligadas. Você percebe que essa distinção
entre valor de uso e valor de troca pressupõe alguma coisa sobre propriedade
privada e o Estado, por exemplo.
Outra das suas contradições fundacionais é entre
“propriedade privada e o Estado capitalista”. Quer dizer: a tensão ou a
contradição entre os direitos individuais de propriedade e o poder coercivo do
Estado. Agora, imaginemos alguém como Robert Nozick, criado na tradição
liberal, lockeana, que chega e diz que não há aí qualquer contradição. Ao
contrário: o papel do estado “mínimo” é proteger a propriedade privada.
Uma das coisas que digo sobre contradições é que elas estão sempre
latentes. Por isso, a existência de uma contradição não gera, necessariamente,
uma crise. Gerará sob certas circunstâncias. Portanto, é possível
construir teoricamente a ideia de que tudo que um Estado “guarda-noturno” faz é
proteger a propriedade privada. Mas sabemos que esse Estado “guarda-noturno”
tem muito mais a fazer. Há externalidades no mercado que têm de ser
controladas; há bens públicos que têm de ser fornecidos – e assim, muito
rapidamente, o Estado acaba por se envolver em todos os tipos de atividades,
muito além de apenas cuidar do quadro legal dos contratos e dos direitos à
propriedade privada.
O senhor nega que haja qualquer conexão
necessária entre capitalismo e democracia. Pode explicar por quê?
A questão da democracia depende muito de definições. Supostamente
haveria democracia nos EUA, mas é claro que não há. É uma espécie de farsa, de
engodo – é a democracia do poder do dinheiro, não do poder do povo. Em minha avaliação,
desde os anos 1970, a Suprema Corte legalizou o processo pelo qual o poder do
dinheiro corrompe o processo político.
Há um aspecto do poder do Estado que avançou
para o centro do palco na crise recente e imediatamente depois, sobretudo
durante a crise da dívida na zona do euro: falo do poder dos bancos centrais. O
senhor acha que a função dos bancos centrais mudou de modo significativo
durante a era dos “resgates”?
Evidentemente mudou. A história dos bancos centrais é, ela
própria, terrivelmente interessante. Não tenho certeza de que o que o Federal
Reserve fez durante a crise tenha tido qualquer base legal. O Banco Central
Europeu, por sua vez, é caso clássico do que Marx disse, quando comentou a Lei
dos Bancos de 1844, a qual, para ele, teve o efeito de estender e aprofundar a
crise de 1847-8 na Grã-Bretanha.
Há um conceito ao qual o senhor volta várias
vezes no livro: o conceito de “conversão em mercadoria”, ou
mercantilização.
O capital trata, sempre, da produção de mercadorias. Se há terreno
não-mercadorizado, ali o capital não entra nem circula. Um dos meios mais
fáceis para o capital conseguir penetrar aquele espaço é o Estado impor ali um
sistema de privatização – ainda que privatize algo que é só ficcional. Os
créditos de carbono, por exemplo – trocar direitos de poluir é excelente
exemplo de mercadoria criada por processo ficcional, que tem efeitos muito
reais sobre o volume de dióxido de carbono na atmosfera, e assim por diante.
Criar mercados onde antes não havia é um dos meios pelos quais, historicamente,
o capital expandiu-se.
O senhor foi pesadamente influenciado pelo
trabalho de Karl Polanyi nessa área, não? Especificamente a obra prima
dele, A Grande Transformação. [2]
Polanyi não era marxista, mas compreendia, como Marx também compreendeu,
que terra, trabalho e capital não são mercadorias no sentido ordinário, mas que
assumem uma forma de mercadoria.
Um dos aspectos mais impressionantes e
mobilizadores do livro é o relato que o senhor faz dos custos humanos da
conversão em mercadoria – especificamente a conversão em mercadoria daquelas
áreas da experiência humana que antes não eram parte do “nexo dinheiro”. Há aí
uma conexão com o que o senhor chama de “alienação universal”. O que é
isso?
Vivemos há tempos num mundo no qual o capital lutou sem parar para
diminuir o trabalho, o poder do trabalho, aumentando a produtividade, removendo
o aspecto mental dos serviços e empregos. Quando você vive em sociedade desse
tipo, surge a questão de como alguém pode encontrar algum significado na
própria vida, dado o que se faz como trabalho, no local de trabalho. Por
exemplo, 70% da população dos EUA ou odeia trabalhar, ou é totalmente
indiferente ao trabalho que faz. Em mundo desse tipo, as pessoas têm de
encontrar alguma identidade para elas mesmas que não seja baseada na
experiência do trabalho.
Sendo assim, surge a questão do tipo de identidade que as pessoas
podem assumir. Uma das respostas é o consumo. E temos um tipo de consumismo
irrefletido que tenta compensar a falta de significação de um mundo no qual há
bem poucos trabalhos com algum significado. Irrita-me muito ouvir políticos
dizer que “vamos criar mais empregos”… Mas que tipo de empregos?
A alienação brota, entendo eu, de um sentimento de que temos
capacidade e poder para ser alguém muito diferente do que é definido por nossas
possibilidades. Daí surge a questão de até que ponto o poder político é
sensível à criação de outras possibilidades? As pessoas olham os partidos
políticos e dizem “Aqui, não há nada que preste.” Há, pois, a alienação que
empurra para longe do processo político, que se manifesta em comparecimento
declinante nas eleições; há a alienação para longe da cultura da mercadoria,
também, que cria uma carência e o correspondente desejo por um outro tipo de
liberdade. As irrupções periódicas que foram vistas pelo mundo – parque Gezi em
Istanbul, manifestações no Brasil, quebra-quebra em Londres em 2011 – obrigam a
perguntar se a alienação pode vir a ser uma força política positiva. E a
resposta é sim, pode, mas não se vê nada parecido nos partidos ou movimentos
políticos. Viram-se alguns elementos disso no modo como o movimento Occupy ou
os Indignados na Espanha tentaram mobilizar pessoas, mas foi coisa efêmera e
não amadureceu em ação mais substancial. Mesmo assim, há muita ebulição nos
campos da dissidência cultural; há algo em movimento, e é fonte de alguma
esperança.
Quando o senhor discute as contradições
“perigosas”, o senhor oferece o que me parece ser uma versão do materialismo
histórico de Marx. Quero dizer: o senhor pensa, como Marx, que o presente está
grávido de futuro, embora o senhor não pense de modo determinista… Acho também
que o senhor não vê nada de determinismo, tampouco, no próprio Marx. Estou
certo?
Não vejo, não, nada de determinismo em Marx. Há quem diga que
Marx teria dito que o capital desabará sob o peso de suas próprias
contradições, e que Marx teria uma teoria mecanicista das crises das crises
capitalistas. Mas jamais encontrei uma linha em que Marx tenha escrito coisa
semelhante! O que Marx, sim, disse é que as contradições do capitalismo estão
no coração das crises e que crises são momentos de oportunidade.
Marx também disse que os seres humanos podem criar a própria
história, mas que não escolhem as condições sob as quais criarão a própria
história. Para mim, portanto, há um Marx que, embora não seja liberal, diz
que os seres humanos são capazes de decidir coletivamente, de empurrar as
coisas mais para uma direção, que para outra. Marx criticou o socialismo
utópico, porque entendia que o socialismo utópico não lidava com o onde
estamos. Marx disse que é preciso analisar onde se está, ver o que é viável
para nós e, na sequência, tentar construir algo radicalmente diferente.
—
1 Em editorial, a Folha propunha
que as autoridades proibissem qualquer protesto em via pública que não fosse
anunciado com 30 dias de antecedência; e que simplesmente banissem as
manifestações “potencialmente mais perturbadoras”
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