Por Francisco
Góes | De Moatize (Moçambique)
Empresa estuda a entrada de sócios com fatias
minoritárias na produção de carvão, área em que tem minas em Moçambique e
Austrália, e no corredor ferroviário
As negociações conduzidas pela Vale para venda
de uma parte dos ativos da empresa em Moçambique tendem a ficar mais difíceis
com a conjuntura existente no país africano para a produção de carvão, na
avaliação de especialistas ouvidos pelo Valor. A Vale questiona os
altos custos para se produzir carvão em Moçambique, país novo nessa indústria
extrativa, no momento em que os preços da commodity estão no patamar mais baixo
dos últimos sete anos. "O valor a ser capturado pela Vale [nas negociações]
fica mais difícil na situação atual", disse um analista.
A Vale quer vender metade de sua participação no
Corredor Nacala, formado por ferrovia de 912 quilômetros e por um porto, ambos
em construção. A empresa estuda ainda a entrada de sócios com fatias minoritárias
na produção de carvão, segmento em que tem minas em Moçambique e na Austrália.
A mineradora vinha trabalhando para fechar as vendas no corredor e no negócio
de carvão até o fim deste mês. Mas a venda dessas participações deve demorar
mais um pouco. A expectativa é que as transações possam ser fechadas em julho
ou agosto, embora não haja garantia de que isso vá ocorrer até essa data. No
mercado, a aposta é que entre os potenciais parceiros da Vale estão
investidores asiáticos, sobretudo japoneses e chineses, e fundos soberanos.
O interesse dos investidores nos dois ativos
(minas e corredor), negociados separadamente, é diferente. A atratividade de
cada ativo também é distinta. O investidor que resolver associar-se à Vale na
produção de carvão correrá um risco maior. Mas terá a possibilidade de obter
ganhos também maiores caso o preço do carvão se recupere. O preço do carvão
metalúrgico, usado pelas siderúrgicas, situava-se, na sexta, na faixa de US$
120 por tonelada tendo por base contratos trimestrais na Austrália, a principal
referência do mercado. É uma queda de cerca de 60% em relação aos preços de
2011, que superaram US$ 300 por tonelada.
Ter a garantia de uma participação na produção
de carvão interessa, sobretudo, a países que precisam assegurar acesso a
recursos naturais, como os asiáticos. No Corredor Nacala, o risco para o
investidor é menor, assim como o retorno sobre o investimento também deve ser
mais baixo. O atrativo neste caso está no fato de que o corredor terá retorno
mínimo garantido por contrato firme de transporte com a mina da Vale em
Moatize, no norte do país.
Esse contrato envolve a Vale Moçambique,
detentora da concessão de Moatize, e as quatro concessionárias do Corredor
Nacala, cada uma responsável por um trecho da ferrovia. A mineradora detém 95%
da Vale Moçambique e o governo local os outros 5%. O contrato entre a Vale
Moçambique e as quatro concessionárias começará a valer em 2015 e os volumes
vão crescer até atingir a capacidade de 18 milhões de toneladas de carvão por
ano. Haverá ainda capacidade adicional no corredor para carga geral, grãos e
passageiros.
Quando a mina de Moatize estiver duplicada no
fim de 2015, terá capacidade de produzir 22 milhões de toneladas de carvão por
ano, sendo 55% do tipo metalúrgico e 45% térmico, para geração de energia
elétrica. Para escoar essa produção, a Vale pretende utilizar o Corredor Nacala
e continuar valendo-se da ferrovia Linha do Sena até o porto da Beira, no
centro do país. Nesse trecho, a Vale também tem contrato firme de transporte
com a estatal Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) válido até 2017
com capacidade para movimentar 4,5 milhões de toneladas de carvão por ano. Em
2014, a Vale vai produzir acima de 6 milhões de toneladas de carvão em Moatize,
mas poderá embarcar somente até 4,5 milhões de toneladas, que é a capacidade no
terminal portuário da Beira.
Os novos sócios da Vale no carvão deverão entrar
diretamente na holding Vale Emirates, dos Emirados Árabes, holding que
consolida as participações da Vale no carvão em Moçambique e também as ações
que a mineradora tem nas quatro concessionárias do Corredor Nacala. Na soma das
quatro concessionárias, considerando o valor investido em cada trecho, a Vale
tem uma participação de 70% no corredor logístico. Os outros 30% pertencem à
CFM. Após a venda, os investidores devem ficar com 35% do Corredor Nacala, a
Vale com 35% e a CFM com 30%.
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