Qua, 06 de Maio de 2015
Escrito Por Israel De Napoli
· Os anos
1980, no Maranhão, foram marcados pelos conflitos por terra, resultando em
altos índices de assassinatos e perseguições no campo, expulsões de camponeses
de suas terras, impedimentos de acesso a recursos naturais tradicionalmente
utilizados.
Mediante as profundas alterações
pelas quais vêm passando nos últimos anos as paisagens e os modos de vidas dos
grupos sociais em vários municípios do Estado, o professor do Departamento de
Sociologia e Antropologia, Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior, desenvolveu uma
pesquisa com o objetivo de identificar e analisar conflitos ambientais, no
Maranhão, decorrentes de projetos de desenvolvimento instalados a partir do
final da década de 1970 até os dias atuais.
Segundo o pesquisador, o confronto
entre empreendedores e grupos locais tradicionalmente estabelecidos é causado
em função das atividades produtivas ou de grandes obras de infraestrutura que
demandam novos territórios ou quando as atividades produtivas já estabelecidas
implicam em destruição ou proibição de uso de recursos naturais necessários
para a reprodução social de determinados grupos sociais.
“A agressão ou destruição da natureza
implica também no comprometimento da qualidade de vida tanto de trabalhadores
industriais quanto de moradores das periferias das cidades e dos campos. Lutar
por melhores condições de trabalho ou pela defesa de um território não é
somente uma causa específica, mas um interesse geral das sociedades humanas,
que é a conservação planetária”, explica Horácio Antunes.
De acordo com o pesquisador,
iniciativas decorrentes de planejamentos governamentais e/ou da iniciativa
privada – como a instalação de um grande conjunto de empreendimentos
agropecuários, industriais, madeireiros, de transporte e de exploração marítima
– têm provocado profundos impactos socioambientais, alterando biomas e modos de
vida de populações locais.
A pesquisa afirma que esse cenário
desenvolvimentista no Maranhão tem provocado a expulsão de milhares de
agricultores de suas terras e o desmantelamento da produção familiar rural. “Um
dos efeitos nefastos para a população local é o fato de o Maranhão ter se
tornado, nos últimos anos, um dos estados brasileiros com maior quantidade de
migrantes, pois a dificuldade, quando não impossibilidade, de produzir na
própria terra tem levado principalmente homens jovens a buscar a sorte em
outros locais, sujeitando-se a toda tipo de exploração. Assim, cabe também ao
Maranhão o título de estado maior exportador de trabalhadores para o trabalho
escravo”, afirma Horácio Antunes.
Conforme concluiu a pesquisa, que
analisou indicadores sociais, após quarenta anos de projetos de
desenvolvimento, o Maranhão permanece sendo um dos estados mais pobres do
Brasil, com os piores indicadores de concentração de terras, riquezas e poder
político.
O estudo foi desenvolvido nos
municípios de São Luís, Bacabeira, Rosário, Açailândia, Buriticupu e Alcântara.
“No entanto, temos um banco de dados no qual registramos notícias de conflitos
ambientais [divulgadas nos principais jornais do Estado e em blogs e páginas
eletrônicas] que existem em todas as regiões do Estado”, diz o pesquisador.
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